Chacina do Curió: primeiro dia de julgamento tem relatos de sobreviventes

Teve início nessa sexta-feira, o 2º julgamento da Chacina do Curió. Policiais militares que estavam em serviço durante a chacina, são acusados de omissão do dever de agir

O primeiro sobrevivente depôs na tarde desta terça-feira, 29 de agosto, no primeiro dia do 2º julgamento de oito policiais militares acusados de omissão do dever de agir no caso da Chacina do Curió. Ação criminosa fez 11 vítimas na Grande Messejana, em Fortaleza, em novembro de 2015. Durante a manhã, sete jurados foram escolhidos para o Tribunal do Júri

É julgado nesta terça o chamado “Núcleo dos Fardados”, composto por policiais que estavam em serviço na noite da chacina. A sessão foi instalada às 9h40min.

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A primeira vítima a depor nesta tarde foi Francisco Genilson, um homem atingido por cinco tiros durante a chacina, devido aos quais hoje enfrenta problemas de mobilidade e teve de ser aposentado. Na data, ele estava fumando um cigarro após seu expediente com o sogro do irmão, Gilvan, que não sobreviveu ao ataque.

Genilson também foi ouvido no primeiro julgamento, que aconteceu em junho deste ano, e resultou na condenação de quatro PMs. Os condenados receberam a maior pena já aplicada a policiais no Ceará, somando 1.103 anos e oito meses.

Desta vez, serão julgados os réus Thiago Aurélio de Souza, Thiago Veríssimo, Gerson Vitoriano, Gaudioso Menezes, Josiel Silveira, José Haroldo Uchoa, Ronaldo da Silva e Francinildo José da Silva.

As vítimas optaram por depor sem a presença dos acusados, que devem acompanhar os depoimentos por videoconferência.

O que disse o sobrevivente

Em seu depoimento, Genilson corroborou com a maior parte do que havia dito quando foi ouvido no primeiro julgamento. Como conta a vítima, que tinha 20 anos à época, ele saiu da pizzaria onde trabalhava no bairro Barroso após às 1h30min e encontrou Gilvan, a quem pediu um cigarro.

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Genilson disse que não deu nem tempo de terminar de fumar antes que dois carros, um branco e outro de cor escura, chegassem e os tiros começassem. A vítima relatou que os atiradores usavam balaclava e colete por baixo de suas roupas.

Tanto Genilson quanto Gilvan foram atingidos por tiros. Gilvan ainda tentou correr em direção a uma kombi mas foi baleado. A vítima afirmou, ainda que ficou sabendo, pela denúncia, que policiais disseram que "eram dois bandidos a menos", e reiterou que nunca sequer teve passagens pela Polícia.

Ele contou que enfrenta dificuldade para andar, e passou mais de dois anos utilizando cadeira de rodas. Com isso, deixou a profissão, mas não conseguiu obter nenhum auxílio, e passou a viver apenas com o benefício que a mãe recebe.

Além disso, ele também relatou que um médico teria dito que sua deficiência é permanente e disse ter tomado remédio para "nervosismo".

 Com informações do repórter Lucas Barbosa

Segunda vítima sofreu violência física e psicológica na noite da chacina

A segunda vítima ouvida nesta terça-feira é Francisco Breno, que sofreu violência física e psicológica quando abordado por homens que indagavam sobre o paradeiro de suspeitos de matar o soldado Serpa.

Na data da chacina, Breno estava na casa da sua avó, já deitado para dormir, quando homens bateram à porta, dizendo: “Abre a porta que é a polícia.” Breno disse a eles que podiam entrar e que ele não tinha nada a esconder.

Os homens então fizeram buscas na casa e um deles pediu o celular de Breno. Vendo que um amigo teria o orientado, em mensagem, a não sair de casa “porque o reservado tá rodando”, os homens o levaram para fora da residência. Na ocasião, ele teria visto uma viatura e policiais fardados.

Breno foi então levado em um carro cinza em direção a uma casa que deveria apontar aos homens.As informações são de trecho do depoimento de Breno à autoridade policial que integra a denúncia do Ministério Público.

O que disse a segunda vítima nesta terça-feira

Nesta terça-feira, durante seu depoimento, Breno disse ter ficado cerca de três horas em poder de cerca de sete policiais que invadiram a casa em que morava e buscavam informações sobre duas pessoas suspeitas de matar o soldado Serpa.

Ele relatou que policiais o matariam se não falasse e que, em um momento, foi posto de joelhos e um policial apontou um fuzil para a sua cabeça. Apesar de afirmar não saber de nada, Breno disse que os policiais o consideraram suspeito por terem visto a mensagem de seu amigo em seu celular.

Após ser levado na viatura para apontar o local onde residia o suspeito, Breno disse ter sido levado a uma praça onde havia uma aglomeração de pessoas, algumas usando balaclavas, onde foi instruído a não ser visto, caso contrário poderia morrer.

Em seu testemunho, eles descreveu também falas dos homens enquanto era levado, posteriormente, ao 6º Distrito Policial. Após ter suas fotos tiradas e não ser reconhecido por testemunhas do latrocínio, ele foi liberado e chegou novamente em casa às 3h30min da manhã. A vítima disse, nesta terça-feira, que ainda tem sequelas psicológicas do ocorrido.

Com informações do repórter Lucas Barbosa

Atualizado às 23 horas

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