Entenda as acusações contra os oito PMs que vão a julgamento pela Chacina do Curió
MPCE aponta que eles se omitiram e permitiram matança, mas defesas negam que eles tenham presenciado crimes no dia
09:32 | Ago. 29, 2023
No desmembramento que foi feito do processo principal da Chacina da Grande Messejana, o grupo de réus que começa a ser julgados nesta terça-feira é chamado de "Núcleo dos Fardados". Isso porque os oito acusados estavam de serviço, em viaturas, no momento da matança. "As individualizações de condutas dos acusados dizem respeito à omissão penalmente relevante nas funções que os policiais militares exerciam nas [..] viaturas", como escreveu o juiz Marcos Aurelio Marques Nogueira, presidente do colegiado que julga o caso, em um despacho. Durante a fase de instrução, as defesas questionaram a precisão dos GPS das viaturas, de forma que, os PMs poderiam não estar exatamente onde o MPCE sustenta que eles estavam.
Gerson Vitoriano Carvalho, Thiago Veríssimo Andrade Batista Carvalho e Josiel Silveira Gomes
O que diz o MPCE: Os três PMs estavam na viatura RD1307, que foi flagrada transitando com intermitentes desligados nas proximidades do local onde cinco jovens foram baleados, na rua Lucimar de Oliveira, bairro Curió — quatro das vítimas vieram a óbito. Os PMs não pararam para socorrer as vítimas. Além disso, a Ciops havia notificado a existência de um veículo suspeito na região e requereu que a denúncia fosse averiguada, mas a RD1307, que era a viatura mais próxima, não empreendeu diligências para interceptar o carro.
O que disseram os PMs: O trio disse, em depoimento na fase de inquérito, que atenderam a várias ocorrências de lesões a bala na região naquele dia, mas que não encontraram vítimas em nenhum dos locais, assim como não se depararam com suspeitos.
Thiago Aurélio de Souza Augusto e Ronaldo da Silva Lima
O que diz o MPCE: Os PMs compunham a composição da viatura RD1072, que foi acionada para o cruzamento da avenida Odilon Guimarães com rua Elza Leite Albuquerque, no Curió. A 1H24min, eles disseram não ter encontrado nada no local. Na Elza Leite Albuquerque, porém, por volta da 1 hora, haviam sido mortos Marcelo da Silva Mendes e Patrício João Pinho Leite. "Em razão da omissão propositada dos policiais THIAGO AURÉLIO DE SOUZA AUGUSTO, FRANCISCO FABRÍCIO ALBUQUERQUE DE SOUSA e RONALDO SILVA LIMA, mais precisamente às 01h45min, foi registrado o retorno dos homens encapuzados à rua Elza Leite de Albuquerque, os quais assassinam mais três pessoas de nomes FRANCISCO ELENILDO, JADSON ALEXANDRE e VALMIR FERREIRA", diz o MPCE. Testemunhas disseram que só por volta de 02h15min é que, de fato, chegou uma viatura ao local.
O que disseram os PMs: Thiago Aurélio, em depoimento na fase de inquérito, disse ter sido acionado para diversos locais de lesões à bala na região durante a madrugada, mas que não se depararam com nada de anormal. No cruzamento da avenida Odilon Guimarães com rua Elza Leite Albuquerque, havia uma ocorrência de homicídio, mas, como estava sendo atendida por uma outra viatura, a sua equipe não ficou no local. Em frente ao 35º Distrito Policial, havia uma outra ocorrência de homicídio, onde a viatura ficou por alguns instantes, mas, em seguida, foi acionada para uma outra denúncia. Ronaldo, por sua vez, disse não se lembrar das ocorrências que atendeu no dia e que não viu comboios de veículos enquanto patrulhava pela região.
José Haroldo Uchôa Gomes, Gaudioso Menezes de Matos Brito Goês e Francinildo Jose da Silva Nascimento
O que diz o MPCE: Os três PMs estavam na viatura RD1069 acionada para duas ocorrências de disparos no Curió. Entretanto, se deslocaram em sentido diverso, conforme o GPS da viatura. Em um terceiro local, eles afirmaram que foram até os locais, mas não encontraram nada. Além disso, eles passaram pela rua Lucimar de Oliveira, à 0h53min, e não pararam mesmo que cinco pessoas tivessem sido baleadas ali. Por fim, a 1h44min, a viatura passou no cruzamento da Odilon Guimarães com Elza Leite, onde estavam vários veículos de passeio com pisca alerta ligado "em uma atitude, claramente, comprobatória de que os referidos Policiais Militares integraram o grupo que participou da Chacina".
O que disseram os PMs: Os policiais também disseram não ter se deparado com vítimas de homicídio no dia. Francinildo disse que se lembrava de ter sido acionado para apenas uma ocorrência na região no dia, mas que, chegando ao local, não encontrou nada. Também afirmou ter saído na frequência da Ciops que equipes da Coordenadoria de Inteligência (Coin) estavam na região, havendo o alerta para que fosse evitado "fogo amigo".
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