Como vai funcionar projeto de drenagem que promete conter alagamentos na avenida Heráclito Graça
Inundações ocorrem há décadas no local, que deve receber intervenções por dez meses para a criação de uma galeria subterrâneaProblema conhecido dos fortalezenses, os alagamentos da avenida Heráclito Graça no período chuvoso podem ganhar uma nova solução. A Prefeitura de Fortaleza lançou licitação para a construção de um reservatório subterrâneo entre as ruas Barão de Aracati e Gonçalves Lêdo, com o intuito de conter a água da chuva e evitar os transtornos para quem passa pela via.
Com orçamento previsto de cerca de R$ 24 milhões, a obra prevê a abertura de uma galeria sob a via com capacidade de armazenar 14 mil m³ de água, o que equivale a 13 piscinas olímpicas. Grelhas de drenagem também serão instaladas na rua para que a chuva escorra até a galeria. Depois, a água será escoada gradativamente para o riacho Pajeú, que corta a região.
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“Quando você tem muita água chegando num ponto e pouca água saindo, o que vai acontecer é que você vai acumular água. Então, o que se faz com esse tipo de obra é criar uma acumulação controlada, que não atrapalhe a mobilidade e o dia a dia das pessoas”, afirma Samuel Dias, titular da Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf). Segundo o gestor, “esse sistema vai ser suficiente para resolver os impactos recorrentes” que ocorrem na área.
O problema é acompanhado pelo O POVO há anos. As páginas do jornal trazem registros de inundações no local desde os anos 1980. Em uma edição impressa de janeiro de 2014, a professora Maria das Graças reclamou da inundação. “Entra prefeito e sai prefeito, ninguém acaba com o alagamento da avenida”, disse. Em abril de 2023, nove anos depois, seis motoristas ficaram presos dentro dos carros devido ao rápido acúmulo de água na via.
Qual a causa do alagamento na região?
As inundações coincidem com o aterramento e supressão do riacho Pajeú, manancial urbano de grande importância para o surgimento da cidade de Fortaleza. Com as construções ao redor do riacho e a impermeabilização do solo, que não permite a absorção da água, os alagamentos se tornaram cada vez mais comuns. Hoje, o riacho corre majoritariamente sob o solo.
“No passado, nós tínhamos as mesmas chuvas e não tínhamos tantas inundações. Isso ocorre porque tínhamos mais áreas permeáveis, mais áreas de amortecimento natural da água da chuva”, diz Samuel.
Apesar de acreditar que é necessário recuperar a permeabilidade do solo da Cidade, Newton Becker, professor do departamento de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que o processo levaria mais tempo e precisaria de mais planejamento.
“A prefeitura construindo esse ‘piscinão’ tem alguma garantia de que isso vai funcionar, pelo menos por um tempo. Essas soluções baseadas na natureza vão levar tempo para se consolidar. Talvez uma década. E tem que ser feita extensivamente, não adianta apenas em três ou quatro ruas”.
Por que esta solução foi a escolhida?
Com o passar dos anos de alagamento, diversas soluções foram ventiladas por gestores. Em 2019, o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) afirmou que faria uma “bacia de contenção” em um terreno próximo ao local de mais inundação que funcionaria como uma barragem.
O projeto não foi levado à frente. De acordo com Samuel, as outras ideias para o local, como criação de um túnel que levaria a água para o mar ou a construção de uma galeria alternativa para o Pajeú, seriam mais caras. Além disso, o transtorno para o fluxo de pessoas e o tempo de obra seriam maiores.
“Nossa ideia é que em 10 meses a gente consiga implantar a obra. Ela não é muito complexa, é como se tivesse sendo construído um estacionamento no subsolo de um prédio. É a mesma tecnologia”, afirma.
Além disso, o local será revestido com piso intertravado e terá novas calçadas. A praça Bárbara de Alencar, localizada na frente do Ginásio Paulo Sarasate, também receberá intervenções.