Promotor diz que não foi dada devida atenção a triplo homicídio de PMs

Representantes do MPCE dizem que vítimas foram vistas como "menos importantes"

Os seis suspeitos da morte de três policiais militares, ocorrida há cinco anos na Vila Manoel Sátiro, começaram a ser julgados, na tarde de quarta-feira, 23, no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. O júri se estenderá pelos próximos dias, em razão da quantidade de partes a serem ouvidas. Os representantes do Ministério Público do Ceará (MPCE) que atuam no caso não quiserem ser identificados, nem comentar o mérito do processo, mas um deles afirmou que “não foi dada a atenção devida ao caso”.

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Os promotores de Justiça destacaram que nenhum representante do Estado ou de associações da categoria compareceu. No momento em que O POVO esteve no plenário também não havia familiares das vítimas.

Conforme os representantes do MPCE, os parentes dos PMs optaram por se resguardar durante todo o trâmite processual. Entretanto, os promotores destacaram a gravidade do atentado. "O crime foi um ataque contra a sociedade e contra o Estado. Esse plenário deveria estar lotado. As vítimas foram encaradas como menos importantes", disse um deles.

O 2º tenente Antônio César de Oliveira Gomes, de 50 anos; o sargento João Augusto de Lima, de 58 anos; e o subtenente Sanderley Cavalcante Sampaio, de 46 anos, foram mortos a tiros, no dia 23 de agosto de 2018, enquanto almoçavam em uma lanchonete. A acusação afirma que o crime aconteceu em retaliação à morte de Thalys Constantino de Alencar, morto no dia anterior. A facção Guardiões do Estado (GDE) teria ordenado as execuções dos PMs.

Fabiano Cavalcante da Silva, Waldiney de Melo Lima e Raimundo Costa Silveira Neto estão sendo julgados como mandantes do crime. Lucas Oliveira da Silva, Charlesson de Araújo Souza e Francisco Wellington Almeida da Silva teriam participado do caso.

O delegado Carlos Eduardo Silva de Assis, da 11ª delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), presidiu a investigação do triplo homicídio e foi ouvido na condição de testemunha de acusação.

Ele contou detalhes de uma testemunha, de identidade preservada, que teria presenciado o momento em que Fabiano Cavalcante da Silva ligou para um dos acusados dizendo que estava enviando armas e homens para o atentado. O delegado confirmou que não conseguiu provas que apontassem quem foi o autor dos disparos.

Carlos Assis foi questionado pelos advogados sobre ferimentos que um dos acusados - Lucas Oliveira da Silva - apresentava no momento da prisão. Ele teria um corte na testa e um olho roxo. O delegado disse que Lucas havia sofrido um acidente de carro dias antes do crime e no momento da prisão tentou fugir e caiu de altura de cerca de três metros. Lucas conseguiu tirar uma foto de seus ferimentos dentro do carro descaracterizado no qual foi apreendido.

Uma testemunha confirmou o acidente e disse que Lucas “precisava de ajuda para tudo” à epoca, mas defendeu que ele não teve participação nas execuções e que teria se escondido na casa de Charlesson, depois que sua foto começou a circular nas redes sociais como envolvido no crime. A testemunha afirma que Lucas foi torturado para repassar informações.

Uma outra testemunha, que no dia do atentado tinha 13 anos, disse que a Polícia invadiu a casa onde eles estavam e efetuaram disparos, provavelmente, para cima. A Polícia chegou por volta das 17h30min, mas ele só foi levado à delegacia de madrugada. “Fui levado a um matagal. Os policiais disseram que já haviam matado Lucas e que iriam me matar. Fiquei traumatizado”, disse o jovem ao depor no júri.

Conforme a advogada Cintia Alves, que representa Fabiano, todas as provas apresentadas pela Polícia Civil foram desfeitas ainda durante a instrução. Tanto o adolescente de 13 anos que teria ouvido a ligação entre Fabiano e Lucas, quanto o preso que teria ouvido Fabiano, Waldiney e Raimundo determinando o crime mudaram suas versões em juízo. O preso, inclusive, afirmou que só apresentou a versão para poder mudar de presidio.

Os advogados Jader Marques e Igor Furtado também afirmam que a investigação foi feita de maneira apressada apenas para dar “uma resposta à sociedade”. Já o advogado André Quezado, que representa Waldiney, reforçou que nenhuma prova contra ele, além da delação do preso, que voltou atrás na fase de juízo.

Com informações do repórter Lucas Barbosa

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