Promotor diz que não foi dada devida atenção a triplo homicídio de PMs

Representantes do MPCE dizem que vítimas foram vistas como "menos importantes"

06:00 | Ago. 24, 2023

Por: O Povo

Os seis suspeitos da morte de três policiais militares, ocorrida há cinco anos na Vila Manoel Sátiro, começaram a ser julgados, na tarde de quarta-feira, 23, no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. O júri se estenderá pelos próximos dias, em razão da quantidade de partes a serem ouvidas. Os representantes do Ministério Público do Ceará (MPCE) que atuam no caso não quiserem ser identificados, nem comentar o mérito do processo, mas um deles afirmou que “não foi dada a atenção devida ao caso”.

Os promotores de Justiça destacaram que nenhum representante do Estado ou de associações da categoria compareceu. No momento em que O POVO esteve no plenário também não havia familiares das vítimas.

Conforme os representantes do MPCE, os parentes dos PMs optaram por se resguardar durante todo o trâmite processual. Entretanto, os promotores destacaram a gravidade do atentado. "O crime foi um ataque contra a sociedade e contra o Estado. Esse plenário deveria estar lotado. As vítimas foram encaradas como menos importantes", disse um deles.

O 2º tenente Antônio César de Oliveira Gomes, de 50 anos; o sargento João Augusto de Lima, de 58 anos; e o subtenente Sanderley Cavalcante Sampaio, de 46 anos, foram mortos a tiros, no dia 23 de agosto de 2018, enquanto almoçavam em uma lanchonete. A acusação afirma que o crime aconteceu em retaliação à morte de Thalys Constantino de Alencar, morto no dia anterior. A facção Guardiões do Estado (GDE) teria ordenado as execuções dos PMs.

Fabiano Cavalcante da Silva, Waldiney de Melo Lima e Raimundo Costa Silveira Neto estão sendo julgados como mandantes do crime. Lucas Oliveira da Silva, Charlesson de Araújo Souza e Francisco Wellington Almeida da Silva teriam participado do caso.

O delegado Carlos Eduardo Silva de Assis, da 11ª delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), presidiu a investigação do triplo homicídio e foi ouvido na condição de testemunha de acusação.

Ele contou detalhes de uma testemunha, de identidade preservada, que teria presenciado o momento em que Fabiano Cavalcante da Silva ligou para um dos acusados dizendo que estava enviando armas e homens para o atentado. O delegado confirmou que não conseguiu provas que apontassem quem foi o autor dos disparos.

Carlos Assis foi questionado pelos advogados sobre ferimentos que um dos acusados - Lucas Oliveira da Silva - apresentava no momento da prisão. Ele teria um corte na testa e um olho roxo. O delegado disse que Lucas havia sofrido um acidente de carro dias antes do crime e no momento da prisão tentou fugir e caiu de altura de cerca de três metros. Lucas conseguiu tirar uma foto de seus ferimentos dentro do carro descaracterizado no qual foi apreendido.

Uma testemunha confirmou o acidente e disse que Lucas “precisava de ajuda para tudo” à epoca, mas defendeu que ele não teve participação nas execuções e que teria se escondido na casa de Charlesson, depois que sua foto começou a circular nas redes sociais como envolvido no crime. A testemunha afirma que Lucas foi torturado para repassar informações.

Uma outra testemunha, que no dia do atentado tinha 13 anos, disse que a Polícia invadiu a casa onde eles estavam e efetuaram disparos, provavelmente, para cima. A Polícia chegou por volta das 17h30min, mas ele só foi levado à delegacia de madrugada. “Fui levado a um matagal. Os policiais disseram que já haviam matado Lucas e que iriam me matar. Fiquei traumatizado”, disse o jovem ao depor no júri.

Conforme a advogada Cintia Alves, que representa Fabiano, todas as provas apresentadas pela Polícia Civil foram desfeitas ainda durante a instrução. Tanto o adolescente de 13 anos que teria ouvido a ligação entre Fabiano e Lucas, quanto o preso que teria ouvido Fabiano, Waldiney e Raimundo determinando o crime mudaram suas versões em juízo. O preso, inclusive, afirmou que só apresentou a versão para poder mudar de presidio.

Os advogados Jader Marques e Igor Furtado também afirmam que a investigação foi feita de maneira apressada apenas para dar “uma resposta à sociedade”. Já o advogado André Quezado, que representa Waldiney, reforçou que nenhuma prova contra ele, além da delação do preso, que voltou atrás na fase de juízo.

Com informações do repórter Lucas Barbosa