Pai é condenado a 24 anos de prisão por matar filha estrangulada

Caso ocorreu em Fortaleza, em 2006. Acusado disse que a menina havia se enrolado acidentalmente na rede e se sufocado, o que foi rebatido pela Perícia Forense

22:09 | Ago. 24, 2023

Por: Lucas Barbosa
FORTALEZA, CE, BRASIL, 06-11-2019: Fachada do Fórum Clóvis Beviláqua. Imagem meramente ilustrativa (foto: MAURI MELO/O POVO)

A 1ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza condenou a 24 anos, 10 meses e 20 dias de prisão o pai acusado de matar a própria filha estrangulada em 2006 no bairro Henrique Jorge, na Capital. Rodson Rui de Oliveira Torres, de 51 anos, cumprirá a pena em regime inicialmente fechado e saiu do plenário já preso. A decisão foi tomada em sessão realizada nesta quinta-feira, 24, que durou 11h30min.

Thamires Myrza Lima Torres tinha 9 anos quando foi morta, em 3 de junho de 2006. Conforme sentença de pronúncia, o pai alegava que a menina havia, acidentalmente, se enrolado na rede em que brincava e acabou por morrer sufocada. Apenas os dois estavam na residência quando o fato aconteceu.

A investigação, entretanto, apontou diversos indícios de que Rodson Rui, na verdade, estrangulou a criança. Conforme laudo da Perícia Forense do Estado (Pefoce), a rede estava tão baixa (tinha apenas 20 centímetros de altura com o peso da vítima) que a criança (que tinha 1 metro e 31 centímetros) ficaria acima dela mesmo sentada.

“Vale ressaltar, ainda, que os sulcos encontrados no pescoço da vítima são contínuos, o que não acontece em casos de enforcamento ou acidente, quando o peso da vítima faz com que os sulcos sejam ascendentes”, afirmou contrarrazões recursais o Ministério Público Estadual (MPCE), que, durante o júri, foi representado pelo promotor Marcus Renan Palácio.

O órgão ministerial ainda destacou um segundo fato que “surpreende de tão inverossímil” na versão do acusado. “O pai afirmou que quando encontrou a filha enroscada na rede teria achado que se tratava de uma brincadeira, tendo mandado que parasse com aquilo e descido pra cozinha em seguida. Conforme afirmou, apenas 15 minutos depois resolveu subir novamente, quando teria se dado conta de que algo estaria errado”.

Em juízo, o médico que atendeu Thamires Myrza no hospital afirmou que o relato do acusado lhe causou "bastante estranheza". Ele mencionou que a criança chegou molhada à unidade de saúde, pois o pai havia dado banho nela antes de levá-la ao hospital. O médico ainda disse ter notado que as vértebras da criança estavam "soltas ou fraturadas", como se o pescoço "tivesse sido forçado".

A mãe da vítima afirmou em depoimento que Rodson Rui era "muito rígido" com a vizinha e que, apesar de nunca ter batido nela, costumava castigá-la colocando-a de joelhos. Ela também afirmou que “começou a perceber que o acusado tinha surtos e falava coisas diabólicas”.

Testemunhas ainda contaram que o pai da menina estava desempregado e ficava com ela em casa durante o dia enquanto a mãe ia trabalhar. Os relatos ainda apontaram que Rodson Rui costumava agredir a companheira. 

O acusado chegou a ter prisão temporária decretada em 2010, mas respondeu ao processo em liberdade. Por se tratar de decisão em primeira instância, Rodson Rui poderá recorrer.