Feminicídio: PM afastado se entregou após três horas de negociação

Miqueias do Amaral Barbosa foi preso em flagrante pelo crime de feminicídio após matar a própria companheira

17:28 | Ago. 06, 2023

Por: Jéssika Sisnando
prisão de policial militar apontado como autor de feminicídio (foto: reprodução/vídeo)

O policial militar preso em flagrante por ter matado a própria companheira negociou por três horas com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) antes de se entregar. O caso ocorreu na manhã deste domingo, no bairro Jangurussu, em Fortaleza.

O Bope conversou com Miqueias do Amaral Barbosa das 7h20min a 10h17min. O agente de segurança é apontado como autor da morte da própria companheira, Francisca Laura Souza Silva. Ele ameaçava tirar a própria vida.

Miqueias entrou na PM no fim de 2013 e tinha nove anos de corporação. Ele estava em Licença para Tratamento de Saúde (LTS). O POVO apurou que o afastamento era para tratar de problema físico.

Conforme consta, no registro da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), o pai do PM entrou em contato informando que o filho fazia tratamento psicológico, teve um surto e matou a esposa a tiros. 

Conforme uma fonte ouvida pelo O POVO, o policial chegou em casa sob efeito de álcool durante a madrugada e houve discussão entre o casal. A mulher teria desferido um tapa no rosto do indivíduo, que atirou na vítima, que,  mesmo baleada, recebeu outros tiros.

O indivíduo permaneceu sentado ao lado do corpo da mulher. Ao ouvir os tiros, a vizinhança avisou ao pai dele, que chegou e o encontrou sentado junto ao cadáver da companheira. Ele teria ordenado que o pai fosse embora e o homem entrou em contato com a Ciops. 

Policiais militares foram acionados para a ocorrência e Miqueias teria atirado contra a viatura. A equipe acionou o Batalhão de Operações Especiais, que chegou ao local e estabeleceu os policiais negociadores, atirador de elite e gerente de crises. 

O POVO apurou que durante as negociações o agente de segurança ameaçava tirar a própria vida, mas foi dissuadido pelos negociadores e se entregou. O procedimento foi encaminhado à Delegacia de Defesa da Mulher.

O casal não tinha filhos. Miqueias tem filhos de outro relacionamento. Ainda nas ligações para a Ciops, a família da vítima também entrou em contato informando que o policial estava bêbado e ameaçando Laura e os familiares. 

A Polícia Militar apreendeu a arma usada na ação criminosa, uma pistola calibre .40 e as munições, sendo três intactas e oito deflagradas. O casal morava junto há aproximadamente um ano, no Conjunto Ademar Martins, no bairro Jangurussu. Os moradores ouviram pelo menos cinco tiros no local. 

Por meio de nota, a Polícia Militar lamentou a morte e afirmou que repudia atos de agentes que vão de encontro com a missão da corporação de servir e proteger a sociedade. 

Feminicídios com policiais como suspeitos 

No dia 20 de agosto deste ano completa um ano da morte de Franciene de Sousa Aires. O principal suspeito do crime é o ex-companheiro dela, um sargento da Polícia Militar, de 46 anos de idade. Na época, O POVO apurou que o casal estava separado desde o mês de março e que, em situações anteriores, a Polícia Militar foi acionada para atender a ocorrências de violência doméstica entre o militar e a companheira. Para uma fonte ouvida pelo O POVO, o caso foi "uma tragédia anunciada". Na época, a CGD possuía, em 2022, 34 processos disciplinares em andamento referentes a violência doméstica.  

Em 2020, um policial foi preso em flagrante por matar a esposa em Fortaleza. O caso aconteceu no dia 8 de outubro, na avenida Silas Munguba. O casal estava dentro do veículo e a vítima foi atingida com quatro tiros. Familiares relatavam, ao O POVO,  que o policial, Manoel Bonfim dos Santos, vivia em conflito com a companheira, Ana Rita.  

Em março de 2023 foi publicada uma portaria na Controladoria Geral de Disciplina que fornece prioridade de tramitação para casos de violência contra mulher. Procedimentos disciplinares, conselho de disciplina, conselho de justificação, sindicância e investigações preliminares, que envolvem mulheres vítimas de violência doméstica, recebem prioridade no atendimento e tramitação, independente do deferimento do órgão administrativo ou solicitação por parte do advogado. O ato administrativo foi editado pelo Controlador Rodrigo Bona Carneiro.

 A reportagem do O POVO do mês de abril deste ano apontou que a cada um mês uma mulher foi vítima de feminicídio em Fortaleza.