Em quase 40 anos, prédio que teve piso solapado no Montese nunca passou por inspeção

Condomínio deverá ser desocupado durante o estudo e correção dos problemas que causaram o acidente

Registrado em 1984, o condomínio que teve parte do piso solapado na última segunda-feira, 24, no bairro Montese, nunca passou por uma inspeção predial. A hipótese foi levantada pela Defesa Civil de Fortaleza após vistoria no local e confirmada pela administração do prédio.

Para o engenheiro contratado pelos condôminos, a falta do procedimento foi crucial para que o piso viesse a ceder. “Toda edificação precisa de inspeção predial. A inspeção predial nada mais é do que o raio-x da edificação que identifica as irregularidades da edificação, permitindo através de um laudo que o síndico possa realizar as devidas correções”, explica o perito José Soares.

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Um dos defeitos que poderiam ter sido identificados em uma inspeção predial é a incapacidade da área que desabou de ser usada como estacionamento. Em entrevista à repórter Camila Magalhães, da rádio O POVO CBN, Soares explica que no subsolo da laje onde alguns veículos estavam parados, não havia estruturas que suportassem o peso dos carros, como vigas e pilares.

A estrutura pode até aguentar por muito tempo, como foi no caso em questão, mas com o passar dos anos, a falta de manutenção e a exposição às chuvas tendem a comprometer a resistência do material. Confira imagens do local após o acidente:

 

Prédio de 40 anos nunca passou por inspeção: moradores devem desocupar as residências até conclusão das obras

Na última terça-feira, 25, a empresa de engenharia contratada pelos condôminos realizou uma visita para averiguar as possíveis causas do acidente. Após a primeira análise, foi recomendado que todos os moradores do prédio desocupem suas moradias até a conclusão das obras de restauração, que irão abranger diferentes áreas do solo.

Segundo Soares, será necessário demolir uma segunda laje do local, por onde também passam os veículos dos moradores. Todo o tráfego de automóveis na região também deverá ser interrompido, visto que essa, assim como a estrutura que solapou, não possui o reforço necessário para que o piso suporte o peso dos carros.

Além da substituição das lajes, foi recomendado o escoramento das vigas nos pilares da frente da edificação, para conter e investigar o restante do solo. Também será necessário desgotar a fossa que fica embaixo do prédio e sanear a frente do edifício. Só depois de todo esse estudo é que poderá ser emitido um laudo que autorize o retorno dos moradores aos apartamentos.

Prédio de 40 anos nunca passou por inspeção: condomínio descumpriu a legislação municipal

Sem análise durante todos esses anos, o prédio se encontra em desconformidade com a Lei municipal N°9.913/2012, que regulamenta a inspeção predial na Capital e torna obrigatória a realização de vistoria em prédios entre 31 e 50 anos a cada biênio.

O POVO entrou em contato com a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis), responsável por fiscalizar a parte documental das construções, que informou ainda não ter sido notificada sobre as irregularidades da edificação. Segundo o órgão, o descumprimento da lei de inspeção predial pode resultar na aplicação de multa avaliada em cerca de R$5.900, com prazo de cinco dias para defesa.

A administração do prédio confirma que nunca houve vistoria nos quase 40 anos do condomínio. A gerência também aponta que foi realizada uma visita da Defesa Civil em 2021, mas sem a presença de técnicos que pudessem realizar a inspeção.

O POVO também procurou a Defesa Civil, que não confirmou a execução da visita e destacou a expedição de uma “notificação preventiva em nome da representante legal do condomínio, deixando-a ciente do risco e da responsabilidade".

 

Atualizada às 7h27min de 27 de julho de 2023 

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