Da periferia às arenas, foot table conquista juventude de Fortaleza
Campeonato reúne amantes do novo esporte no Ginásio Aécio de Borba durante o fim de semana, desde atletas da base até os campeões nacionais — que são cearensesUm esporte genuinamente brasileiro que mistura tênis de mesa com futevôlei e squash: assim surgiu, durante a pandemia, o foot table.
Mas o que começou como uma simples brincadeira se tornou coisa séria e, em menos de dois anos, a variação do futmesa em um octógono tem conquistado adeptos por todo o País, com campeonatos que ajudam a revelar novos atletas e mostram como a brincadeira deve chegar longe.
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É o caso do Circuito Cearense de Foot Table, competição que acontece durante o fim de semana no Ginásio Aécio de Borba, no bairro Benfica, em Fortaleza. Dividida em dois dias de jogos, sábado, 22, e domingo, 23, a maior etapa estadual do Nordeste tem mais de 200 inscritos, desde atletas da base até nomes como Davi Pontes e Luiz Fernando, atuais campeões do ranking brasileiro.
Febre nacional, essa é a modalidade esportiva que mais cresce no Brasil — e a meta é torná-la um esporte olímpico. É o que afirma o coordenador de arbitragem do Ceará, Ricardo Inácio.
“A gente está plantando para colher isso no futuro. E está perto, é uma febre no País inteiro. Nós aqui do Ceará temos os melhores atletas do Brasil. No ranking, estamos sempre em primeiro e segundo, a única categoria que ainda não conseguimos é a do feminino”, explica.
Para Ricardo, o que começou com um aquecimento no vestiário de futebol, foi crescendo e caiu facilmente no gosto popular porque “qualquer pessoa pode jogar, em praticamente qualquer lugar”.
Nessa fase, disputam as categorias dupla masculina (profissional, amador e iniciante), individual masculino, dupla mista, dupla feminina, individual feminino e kids (sub 13).
Na opinião do árbitro, estimular os mais jovens é fundamental: “É uma garotada que só estuda, que toda hora está jogando, então é massa eles terem aberto, porque esses meninos que vão ser os iniciantes, depois amadores e depois profissionais. Se forma uma base como acontece no futebol, por exemplo”.
De acordo com Alan Farias, do Centro de Treinamento 085 (CT085), que organiza o evento, a dupla Davi e Luiz é um fenômeno que serve de referência para os iniciantes.
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“Eles jogam também na categoria mista com a Natalia Guitler, referência no esporte, amiga do Neymar e que tem, inclusive, atraído a visibilidade de famosos. O nosso foco hoje é fazer uma boa iniciação para que mais para frente a gente consiga achar mais um Davi, mais um Luiz”, diz.
“A gente começou na periferia e agora está tentando profissionalizar. É o início, mas estamos conseguindo caminhar”, destaca Alan, que adianta que os cearenses devem disputar a competição nacional em casa, já que o evento está previsto para acontecer na Capital ainda este ano.
“Eu quero fazer minha vida dentro do esporte, quero dar uma vida melhor para minha família através dele”, garante o campeão nacional Davi Pontes. Para o cearense, que é líder do ranking, “o que ia ajudar bastante a subir o nome do Estado cada vez mais nesse esporte era mais apoio, suporte de viagem, para edições de campeonatos aqui dentro e fora”.
Vencedor do 3º lugar na categoria kids ao lado da dupla Gustavo, o pequeno Riquelme, de 11 anos, atraiu olhares de quem compareceu à arena na manhã de sábado. Apesar do tamanho, o jogador chamou a atenção pelos dribles e saques profissionais.
Com o troféu em mãos, ele agradeceu ao professor pela oportunidade de jogar e disse que iria pedir ao pai que preparasse uma prateleira para colocar o prêmio. “Eu não tinha como ir porque não ia ter condições. Aí eles ajudaram, eu competi pela primeira vez e já ganhei o terceiro lugar. Fiquei muito feliz”, conta.
“Ele encantou pela futmesa, está indo, treina com os meninos e por enquanto está dando certo. Queria que ele entrasse na escolinha de futebol, mas o lado que der certo para ele eu vou estar feliz, só de ele estar seguindo um esporte já é motivo de muito orgulho”, fala André Oliveira, pai de Riquelme.
Foot table: nova modalidade ainda demanda apoio, principalmente às atletas mulheres
Caroliny Pontes, também gestora fundadora do CT085, pontua que dois desafios que precisam de atenção no foot table são a falta de apoio à modalidade e de incentivo às equipes femininas.
“Nessa etapa tivemos apoio, tanto do Poder Público quanto de patrocinadores, mas com dificuldades inclusive para ajudar a fortalecer o feminino, que a gente vê que precisa mais. Tanto que no nosso CT a gente abre gratuitamente para treino delas, tem o dia que é só para as meninas racharem, a gente faz de tudo para que aconteça porque tem muitas craques, meninas que jogam muito”, pontua.
O empresário Ivo Oliveira, da Construbem, é um dos apoiadores da competição e acredita que é necessário investir numa juventude que tem potencial: “Tirar esses jovens da ociosidade, das drogas. A gente apoia o esporte porque são pessoas que precisam de incentivo”.