Falta de segurança afeta pacientes e profissionais em postos de saúde em Fortaleza
Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec) denunciou, neste ano, insegurança em oito Unidades de Atendimento em Atenção Primária (UAPS)A falta de policiamento fixo e a territorialização de facções criminosas nas áreas próximas às Unidades de Atendimento em Atenção Primária (UAPS) vêm aumentando a insegurança de profissionais e pacientes. No último dia 23 de junho, o Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec) denunciou o cenário de violência em oito postos de saúde em Fortaleza.
Por meio de um levantamento de fiscalização realizado pela entidade e que consta na denúncia, os principais problemas de insegurança foram observados nos postos de saúde César Cals, no bairro Pici; Edmilson Pinheiro, no bairro Granja Lisboa; João Hipólito, no bairro Dias Macedo; Monteiro de Moraes, no bairro Água Fria; Edmar Fujita, no bairro Dias Macedo; e George Benevides, no bairro Quintino Cunha.
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O POVO esteve em duas unidades de saúde: Luis Franklin Pereira, localizado no bairro Coaçu, e Terezinha Parente, no bairro Lagoa Redonda. Nos locais, foram observadas a falta de ronda de policiamento e as poucas ferramentas de segurança, como cercas e sensores de movimento, ao redor dos equipamentos.
Na denúncia do Cremec, o caso mais preocupante foi registrado no posto Luis Franklin Pereira, que é referência na vacinação de rotina e Covid-19 nos fins de semana em Fortaleza.
Conforme a entidade, foram registrados quatro assaltos a mão armada em um período de quatro meses, entre dezembro passado e abril deste ano. Os casos foram confirmados por pacientes que estavam na unidade. Os funcionários do local, no entanto, não quiseram falar sobre a situação.
Além do medo, a violência na unidade resultou na perda de bens materiais, como aparelhos celulares de pacientes e de trabalhadores do entorno do posto. A vendedora Eveline de Sousa Marino, 53, que sempre recorre a atendimentos no local, foi uma das vítimas. Em março deste ano, ela teve o celular roubado por dois suspeitos.
“Chegaram pela manhã pedindo logo meu celular. Conseguiram roubar o meu, do meu esposo e de mais duas pessoas que estavam aqui”, conta.
Os demais casos de assalto, segundo a vendedora, aconteceram dentro do posto de saúde no período da tarde. “Da última vez, foram quatro pessoas. Duas entraram e as outras esperaram do lado de fora. Sempre vem acompanhado de moto ou carro. Eles experimentaram a primeira vez e viram que foi fácil e, devido à insegurança, voltam, apesar do posto ser muito movimentado”, descreve.
Diante das ocorrências, Eveline disse a Guarda Municipal chegou a ficar de forma permanente no local, no entanto, há dois meses, essa equipe fixa foi retirada da unidade, o que, segundo ela, voltou a aumentar a sensação de insegurança.
O motorista de transporte escolar, Rodrigo Santos, 36, relata que sua atenção agora é redobrada na localidade por conta dos acontecimentos de insegurança no posto de saúde do Coaçu. “Eu venho com os meus filhos para tomar vacina. Mas não dá para ter certeza de que vai vir e ficar seguro aqui. Você tem que ficar prestando atenção em tudo”, comenta.
Rodrigo acredita que os casos podem estar relacionados à pouca movimentação na área. Ele pontua que, apesar de não haver uma segurança fixa na unidade, também torce por mais equipes de policiamento para garantir mais segurança tanto para os pacientes quanto para os profissionais do posto de saúde.
Insegurança em postos de saúde: disputas de território
No posto de saúde Terezinha Parente, no bairro Lagoa Redonda, o cenário de insegurança da população e dos profissionais da unidade acontece, de acordo com relatos da população, pela disputa da territorialidade onde o posto está localizado. A unidade fica no entorno dos Conjuntos São Miguel e Curió, regiões dominadas por organizações criminosas rivais.
Conforme uma profissional de saúde da unidade, que preferiu ficar em anonimato, a falta de segurança é observada, principalmente, no entorno do posto.
“A gente fica receoso de estar trabalhando no território por conta disso. Algumas equipes de saúde realizam visitas domiciliares nas regiões e outras não. Onde a gente vê que está em um momento de perigo maior, a gente não vai. Os agentes de saúde sempre sinalizam”, explica.
Ainda segundo a profissional, nos últimos meses não foram observados casos de insegurança dentro da unidade de saúde. O cenário de preocupação acontece ao sair do equipamento.
Em setembro de 2021, um caso de violência foi registrado no estacionamento da unidade. Uma mulher, de 31 anos, foi morta a tiros por dois homens no local. A vítima aguardava um carro de aplicativo quando o crime aconteceu.
Na publicação do Cremec, foi informado que relatórios de fiscalizações foram enviados à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) apontando a falta de segurança nas unidades de saúde de Fortaleza. O Cremec solicitou que medidas urgentes sejam adotadas para garantir a segurança dos profissionais de saúde e pacientes.
Insegurança em postos de saúde: a resposta da Prefeitura e do Governo
A SMS informou, em nota, ao O POVO, que está desenvolvendo um trabalho em conjunto com os responsáveis pela segurança pública de Fortaleza para “identificar soluções para fortalecer a segurança nas unidades de saúde”.
Ainda segundo a pasta, a Guarda Municipal realiza rondas nos postos de saúde e, assim como a Polícia Militar, pode ser acionada pelo número 190. A SMS também foi questionada sobre como funciona o esquema de segurança nas UAPS, mas não retornou com detalhes sobre o procedimento.
Ao O POVO, a SSPDS informou, em nota, que foi realizada uma reunião de alinhamento com representantes do Cremec no dia 13 de junho para tratar de assuntos relacionados à segurança pública nos entornos das Unidades Básicas de Saúde (UAPs) de Fortaleza. A pasta disse que o patrulhamento realizado por equipes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) foi reforçado nas áreas próximas às UAPs.
Questionada pelo O POVO sobre quais medidas foram articuladas para aumentar a segurança nos postos de saúde, a Guarda Municipal de Fortaleza (GMF) informou que realiza rondas nos postos de saúde nos perímetros de suas 15 Células de Proteção Comunitária, localizadas no Jangurussu, Vila Velha, Canindezinho, Barra do Ceará, Goiabeiras, Caça e Pesca, Bonsucesso, Comunidade Pôr do Sol (Messejana), Pan Americano, Mondubim, Vicente Pinzón, avenida Beira-Mar, na Praia de Iracema e no Centro (na Praça da Lagoinha) e José Walter.
O POVO solicitou ao Conselho Regional de Medicina do Ceará os relatórios de insegurança nas unidades de saúde de Fortaleza desde às 8h52min da última quinta-feira, 13. No entanto, apesar de ter feito a denúncia, o Cremec não retornou aos contatos por quase uma semana. O retorno aconteceu nessa segunda-feira, 17, às 15h25min, por ligação, após nova tentativa de contato com a entidade por meio de mensagem no WhatsApp.
Uma entrevista foi marcada com uma fonte da entidade, o secretário-geral do Cremec, Roberto da Justa, para falar sobre os dados e o cenário. Apesar de confirmada com assessoria da entidade para essa terça-feira, 18, por meio de ligação e mensagens no WhatsApp, mas a fonte não retornou na data e horário combinados.
Inúmeras tentativas de contato por ligação e mensagens foram realizadas com a fonte, o que não teve retorno. A assessoria do Cremec, por sua vez, também não retornou.
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