PM é preso suspeito de matar homem em abordagem no Pici em 2020

Outros dois policiais foram denunciados por omissão na morte de Tarciano Pereira da Silva, de 22 anos

19:41 | Jul. 11, 2023

Por: Lucas Barbosa
Delegacia de Assuntos Internos investiga o caso (foto: Aurelio Alves/ O POVO)

Um policial militar foi preso suspeito de matar dolosamente um homem durante uma abordagem no bairro Pici em 2020. Mandado de prisão preventiva contra o soldado Heriksson Richard da Silva Barreto foi cumprido na última quinta-feira, 6, pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).

O caso pelo qual ele foi acusado vitimou Tarciano Pereira da Silva, de 22 anos. Além de Heriksson Richard, dois outros PMs foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPCE) pelo homicídio, uma vez que teriam se omitido. São eles: os soldado Israel Paiva Saraiva e Frank Wendel de Sousa Soares.

Conforme a acusação feita pelo MPCE, na noite do dia 30 de abril de 2022, por volta das 21h30min/22h30min, Tarciano foi abordado pelos PM durante uma operação do 18º Batalhão de Polícia Militar no chamado Beco do Maia. Ao saberem da abordagem, familiares de Tarciano foram até o local, sendo impedidos pelos policiais, porém, de se aproximarem.

Entretanto, eles relataram que puderam observar que Tarciano estava sendo agredido pelos militares. Laudo cadavérico apontou que Tarciano apresentava “escoriações na face posterior do ombro esquerdo e joelhos”. 

O MPCE ainda narra que testemunhas chegaram a tentar gravar a ação com celulares, mas foram impedidos pelos policiais, que disseram coisas como “tu guarda esse celular aí, se eu te pegar filmando te levo preso”. Entretanto, um morador conseguiu tirar uma foto da abordagem.

Tarciano foi liberado pelos PMs, “contudo, enquanto a vítima caminhava, o réu HERIKSSON RICHARD, que estava posicionado na entrada/saída do beco, surpreendendo os que ali se encontravam e especialmente a vítima que já havia sido liberada pela polícia, se utilizando da arma que portava, efetuou ao menos um disparo de arma de fogo contra a TARCIANO, que atingiu a vítima”, afirma a denúncia, assinada pelos promotores Márcia Lopes Pereira, Alice Iracema Melo Aragão e Ythalo Frota Loureiro.

Testemunhas relataram que os outros PMs chegaram a recriminá-lo, perguntando, entre outros, "Para que você fez isso?, "Tu tá ficando doido? Tu matou o cara?" e "Como é que você faz um negócio desses? Eu não vou me prejudicar por causa de um erro seu!”.

O MPCE também afirma na denúncia que os PMs não socorreram a vítima e impediram que familiares o fizessem. Embora do local do fato até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Autran Nunes levasse, aproximadamente, 15 minutos, Tarciano chegou à unidade, na viatura policial, por volta de 1h20min.

“As evidências, portanto, são no sentido de que os réus, já no percurso para o hospital, intencionalmente retardaram a chegada à unidade hospitalar, mais uma vez obstando que a vítima recebesse imediato socorro médico”. A família de Tarciano ainda acusou os PMs de subtrair R$ 400 que estavam na carteira dele.

Versão dos acusados

Em depoimento, os militares que atenderam à ocorrência alegaram que agiram em legítima defesa. Tarciano estaria armado e teria reagido à abordagem; um revólver calibre 38 foi apresentado como pertencente a ele.

Heriksson Richard afirmou em Inquérito Policial Militar (IPM) que, no momento do fato, estava na entrada do beco, resguardando as viaturas, já que era o motorista.

Após a sua equipe entrar no beco, ele ficou de costas para a via, quando escutou uma "correria" e "um indivíduo efetuou um disparo em sua direção". Ele, então, diz ter reagido e atingido o homem, que portava uma arma de fogo. Depois, encaminhou-o à UPA.

O MPCE, entretanto, acusou os PMs de falso testemunho e fraude processual, afirmando, entre outros, que a foto tirada por um morador mostra que Tarciano já havia sido rendido pelos militares.

Apenas a prisão de Heriksson Richard foi pedida pelo MPCE, que requereu para os outros dois denunciados o afastamento do policiamento nas ruas. A denúncia foi aceita pela 5ª Vara do Júri em 18 de abril último.

O POVO contatou a defesa do soldado Heriksson Richard, que disse não ter autorização da família para comentar o caso. Nessa segunda-feira, 10, um pedido de liberdade provisória para o PM foi impetrado, aguardando decisão judicial. As defesas dos outros dois PMs não foram localizadas.