Com emergência superlotada, IJF recebe visita da OAB e do Ministério Público

Enfermeiros e técnicos de enfermagem da unidade estão em greve desde a última quinta-feira, 29, em reivindicação pelo piso nacional da categoria

Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil - Subsecção Ceará (OAB-CE) e do Ministério Público do Ceará (MPCE) visitaram o Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza, neste domingo, 2, para vistoriar a emergência da unidade e apurar os relatos de superlotação e demora no atendimento, atribuídos pela Prefeitura de Fortaleza à greve dos enfermeiros, iniciada na última quinta-feira, 29.

O presidente da Comissão de Saúde da OAB-CE, Ricardo Madeiro, e a promotora de Justiça Ana Cláudia Uchoa conversaram com os profissionais e pacientes da unidade sobre os impactos da paralisação no serviço prestado ao público. Eles percorreram os principais setores do hospital, como as emergências adulta e pediátrica, a ala de observação e a sala de recuperação.

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No trajeto, acompanhado pelo O POVO, havia dezenas de pessoas aguardando consulta nos corredores. Algumas se queixavam de fortes dores e apresentavam fraturas expostas. Segundo a chefe de equipe do plantão, Lorena Gomes, o represamento de pacientes está diretamente relacionado com a greve dos profissionais da enfermagem.

"Esses pacientes teriam que ser distribuídos para leitos de enfermaria, mas como as equipes não estão em quantidade suficiente para atender, eles acabam ficando represados nos corredores e isso afeta também o atendimento e a assistência", afirmou a médica. Segundo ela, a superlotação tem causado "estresse" nos acompanhantes dos pacientes, ocasionando "confusão" e "baderna" no local.   

De acordo com a direção do IJF, havia pelo menos 84 pacientes nos corredores do hospital no momento da visita. Por outro lado, 106 leitos de enfermaria estavam vagos. A unidade alega que a transferência dos pacientes para os leitos vagos está travada por causa da greve dos enfermeiros. Os profissionais que estavam de plantão, no entanto, contestam a versão e dizem que o quadro verificado neste domingo não é novidade. 

A representante do MPCE classificou a situação como "caótica" e se propôs a intermediar um canal de diálogo entre os sindicatos que representam a categoria e a Prefeitura para a busca de um acordo entre as partes. Ela destacou que os pacientes são os mais prejudicados com o impasse. 

“O corpo de enfermagem merece ser valorizado e merece ser ouvido em suas demandas, mas os pacientes não podem ficar do jeito que estão, abandonados”, pontuou Ana Cláudia Uchoa, que é titular da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde Pública. 

O integrante da OAB-CE ressaltou que, embora a reivindicação dos enfermeiros seja justa, os pacientes precisam que o atendimento seja retomado à sua capacidade máxima o quanto antes. "Obviamente que a situação do IJF, há tempos, é muito precária, mas se você tem uma greve, essa precariedade vai triplicar, quadruplicar", destacou Ricardo Madeiro. 

A vice-presidente do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos do Município de Fortaleza (Sindifort), Ana Miranda, que acompanhou a visita, destacou que a greve é uma forma de a categoria "forçar a abertura de diálogo" com a Prefeitura. "Temos o direito de saber o que o prefeito de Fortaleza pensa sobre o piso da enfermagem".

Em nota, a gestão municipal justifica que a implantação do piso salarial da categoria depende do Governo Federal, "que precisa estabelecer os critérios e parâmetros relacionados à transferência de recursos". A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) estima orçamento na casa dos R$ 20 milhões para garantir o pagamento aos profissionais, mas diz que a União assegurou somente metade dessa quantia. 

Os enfermeiros vão se reunir em nova assembleia nesta segunda-feira, 3, para decidir se permanecem ou não em greve. Na última sexta-feira, 30, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) acatou pedido de liminar suspendendo a paralisação, mas as entidades de classe envolvidas no movimento dizem que não foram notificadas sobre a decisão e mantiveram a greve. 

O POVO apurou que há 75 enfermeiros e 46 técnicos de enfermagem no IJF. Apenas 30% desse efetivo está trabalhando durante a paralisação. Sem a assistência na capacidade máxima, algumas cirurgias eletivas foram canceladas.

A filha da recepcionista Thais Sousa, 25, internada na emergência pediátrica da unidade, foi uma das pacientes afetadas. A menina, de 9 anos, fraturou o braço, e seria operada na quinta-feira, dia em que a paralisação foi iniciada. “Não tiro a razão deles de reivindicar, porém tem que ver uma solução para o caso dessas crianças. Nem para a enfermaria eu consegui leito”, lamentou a mãe, que ainda aguarda uma nova data para a cirurgia. 

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