Profissionais da enfermagem realizam greve em Fortaleza: "Agora é rua"
Em Fortaleza, a discussão entre o poder público e as entidades sindicais nem sequer foi iniciada
18:26 | Jun. 29, 2023
Centenas de profissionais da enfermagem se reuniram em frente a sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em Fortaleza, para uma paralisação que marcou o início de uma greve da categoria na manhã desta quinta-feira, 29. Os trabalhadores cobram a implantação do piso salarial.
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Graice Kelly, 37, é técnica de enfermagem e acredita que a greve é importante para que a categoria - e a população - enxergue o como são importantes para a sociedade. “Ser taxado como herói não vai pagar nossa conta. Muitos de nós temos dois ou três empregos, porque só um serviço não consegue suprir a necessidade da nossa família.”
“Onde trabalho, vivemos uma sobrecarga rotineira de trabalho. Isso, de maneira lógica e matemática, põe em risco a pessoa que [o profissional] cuida. Valorizar a saúde da população [também] é possibilitar que a gente ganhe o piso, para que possamos ter uma qualidade de trabalho melhor. A população não merece um profissional sobrecarregado”, completa.
Para ter uma noção, um técnico de enfermagem, que ganha R$ 1.600, recebe o equivalente a 0,0234% da remuneração média mensal de executivos do Hapvida Participações e Investimentos S.A, conforme levantamento da Núcleo Jornalismo.
“Eles lucram em cima da força de trabalho da enfermagem, que é o maior grupo de profissionais de saúde nos hospitais”, diz Jordana Queiroz, diretora do Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Ceará (Senece). “Nós somos responsáveis pela vida dos pacientes.”
O pagamento de profissionais do setor privado vive um impasse com o Supremo Tribunal Federal (STF). Já no setor público, as negociações estão um pouco mais avançadas. No Ceará, pelo menos 14 prefeituras já começaram a pagar o piso salarial da enfermagem, mas existem ressalvas.
“Muitos prefeitos instituíram o piso, mas apenas para quem é concursado. Não tem nenhum município do estado do Ceará que esteja pagando o piso de forma integral, para toda a categoria da enfermagem”, explica Givana Lopes, vice-presidente do Senece.
Em Fortaleza, a discussão entre o poder público e as entidades sindicais nem sequer foi iniciada. “Não tem nenhum tipo de diálogo. Em nenhum momento o prefeito aceitou dialogar sobre o piso salarial da categoria, embora a gente tenha tentado diversas vezes”, diz Ana Miranda, vice-presidente do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Fortaleza (Sindifort).
A vice-presidente do Senece, pede desculpa à população, pois sabe que eles serão os maiores afetados pela greve, mas afirma que a culpa não é da categoria. “Nós estamos à beira de um colapso e a enfermagem não aguenta mais. A categoria está adoecida e está sendo escravizada. Alguém precisa tomar um posicionamento nesse país”.
O que a Prefeitura de Fortaleza diz?
“A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) entende que é uma reivindicação justa e a classe é merecedora do piso”, diz Galeno Taumaturgo, secretário da pasta. “O que estamos aguardando é uma definição mais clara do Ministério da Saúde (MS). Estamos esperando a publicação de uma nova portaria que vai definir com mais clareza como vai ser feito esse pagamento.”
O secretário estima que a prefeitura precisa de cerca de R$ 20 milhões para implementar o piso na Capital. “A primeira portaria que o ministério publicou [colocava] um valor de R$ 10,8 milhões. Existe uma distância muito grande do que Fortaleza realmente necessita. Esperamos que com uma nova portaria essa distância seja corrigida”, argumenta.
O piso da enfermagem foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio deste ano. O valor fixado para enfermeiros foi de R$ 4.750; técnicos de enfermagem receberão R$ 3.325, e auxiliares de enfermagem e parteiras: R$ 2.375.
Como vai funcionar a greve?
Marta Brandão, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Ceará (Sindsaúde), explica que, como a área da saúde é um serviço essencial, apenas 70% dos trabalhadores podem participar da greve. Os outros 30% devem seguir trabalhando.
“Muitos hospitais estão enfrentando dificuldade, mas não foi por falta de aviso. Desde sábado o Sindisaúde comunicou a toda sociedade e a todos empregadores da área da saúde que hoje, dia 29, a greve iniciaria”.
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