Antirracismo na educação infantil é tema de formação para professores de Fortaleza
Planos de ação devem ser construídos em grupos durante oficina nesta tarde de segunda-feira, 26
15:52 | Jun. 26, 2023
Com o intuito de fomentar políticas públicas que levam em conta o combate ao racismo estrutural, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) promoveu seminários em oito capitais brasileiras sobre o antirracismo na primeira infância, incluindo Fortaleza.
Nesta segunda-feira, 26, professores e gestores da rede pública da Capital participam de um painel e uma oficina sobre o tema.
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Coibir a prática racista e educar crianças para respeitar todas as etnias e raças são funções importantes do professor dentro de sala de aula. Para isso, é necessário que os próprios docentes aprendam a identificar vieses preconceituosos que aprenderam durante a vida. Essa é uma das premissas da palestra dada por Luciano Ramos, diretor adjunto do instituto Promundo, para os docentes de Fortaleza.
“Quando a gente consegue acessar os nossos inconscientes, quando a gente percebe o privilégio que a branquitude confere dentro da sociedade brasileira, a gente consegue começar a desenvolver práticas antirracistas na educação”, afirma o palestrante.
Maíra Souza, oficial de desenvolvimento infantil na primeira infância do Unicef, afirma que existem estudos que comprovam o prejuízo que o racismo pode causar em crianças negras e indígenas de zero a seis anos.
“Já existem inúmeras evidências que mostram como o racismo impacta na construção da autoestima, da autopercepção, da autoconfiança da criança pequena, ou seja, o racismo tem impactos no desenvolvimento emocional, físico e social”, diz Maíra.
Cada docente participante do seminário recebeu dois cadernos da estratégia Primeira Infância Antirracista (PIA) e uma cartilha parental com sete dicas sobre como educar crianças sobre o tema. Os matérias também podem ser baixados no site do Unicef.
Como ser antirracista na sala de aula?
Segundo Luciano, o racismo de professores pode influenciar na forma como encorajam ou diminuem a autoestima do aluno. Para ser antirracista na sala de aula, é necessário investir no letramento racial e se tornar um aliado.
“É estar atento aos mínimos detalhes do cotidiano que vão fazer com que essa criança queira ou não estar naquele espaço escolar”, diz. “Existem diferenças, mas as diferenças não podem ser transformadas em desigualdades.”
De forma preventiva, a educação pode empoderar crianças negras e mostrar a importância do respeito a todos. “A gente precisa ter livros que falem sobre letramento racial, com heróis e heroínas negras, livros que contem histórias de famílias negras. É quando a gente faz que empoderamos a criança negra no seu cotidiano, fazemos ela perceber o quanto a melanina da pele dela e os traços do rosto dela são bonitos”, afirma.
No caso de episódios em que uma criança é racista com outra, parar a aula para reconhecer o erro do aluno e conversar sobre o preconceito por trás do comentário é postura necessária para os professores, segundo Luciano.
Profissionais devem formular planos de ação antirracistas
Durante a tarde, um grupo de profissionais da educação da rede municipal se reunirá com os especialistas do Unicef para formular planos de ação antirracistas. “Eles vão sair dessa tarde com um grande compromisso construído. Além disso, a gente vai fazer um exercício de diagnóstico. Esperamos conseguir não só identificar o que está sendo feito no território, mas também monitorar ao longo do tempo”, afirma Maíra.
Para a coordenadora da educação infantil da Secretaria Municipal da Educação (SME), Simone Calandrino, o assunto deve fazer parte do currículo e do dia a dia dos alunos. Conforme Simone, a SME busca ainda promover formações para os professores para “fortalecer essa discussão no cotidiano das unidades escolares”.
“Para que a criança se reconheça dentro do seu contexto, do seu espaço, valorize as diversas culturas e etnias e conheça também a história do povo brasileiro. Essa história da nossa sociedade está dentro desse currículo vivido diariamente, e não só com datas comemorativas [como Dia dos Povos Indígenas ou Dia da Consciência Negra]”, diz Simone.