Chacina do Curió: quatro PMs são condenados pelos 11 homicídios

Primeiro julgamento da Chacina do Curió terminou na madrugada deste domingo, 25, após mais de 60 horas entre depoimentos, debates e deliberação. Caso ocorreu em 2015, com 11 assassinatos na mesma madrugada

00:05 | Jun. 25, 2023

Por: Alexia Vieira
Mães do Curió fizeram vigília até a madrugada esperando sentença do primeiro julgamento de réus da chacina de 2015 (foto: Fco Fontenele / O POVO)

Terminou na madrugada deste domingo, 25, o julgamento dos quatro primeiro réus da Chacina do Curió. Quatro policiais militares foram considerados pelo tribunal do júri culpados por 11 homicídios, além de tentativas de homicídio e torturas. 

Wellington Veras Chagas, Ideraldo Amâncio, Marcus Vinícius e Antônio José de Abreu Vidal Filho foram os primeiros de 34 PMs julgados, e condenados, pelos 11 assassinatos. Cabe recurso, mas eles devem cumprir a pena, inicialmente, em regime fechado e tiveram a prisão provisória decretada.

Outros dois julgamentos do caso, envolvendo outros 16 acusados, estão marcados para agosto e setembro deste ano.

Os quatro policiais militares foram condenados pelos homicídios de Antônio Alisson, Jardel Lima, Pedro Alcântara, Alef Souza, Marcelo da Silva, Renayson Girão, Jandson Alexandre, Patrício João, Francisco Elenildo, José Gilvan e Valmir Ferreira.

Os crimes foram considerados por motivo torpe e uso de recurso que impossibilitou a defesa. Eles ainda foram considerado culpados por tentativas de homicídio e por torturas.

Tempo de prisão de condenados pela Chacina do Curió

Wellington, Ideraldo, Marcus e Antônio José receberam 11 condenações de 19 anos e três meses de prisão, cada uma por um assassinato: quase 212 anos, cada. Eles ainda receberam penas pelas tentativas de homicídio e por torturas. 

Ao todo, Wellington foi condenado a 275 anos e 11 meses de prisão. Teve ainda a prisão provisória decretada e perdeu o cargo de policial militar. Ideraldo recebeu as mesmas penas. Assim como Marcus Vinícius e António José. Ao todo, somado, eles foram apenados em 1.103 anos e 8 meses de prisão.

Como Antônio José encontra-se fora do Brasil — ele mora nos Estados Unidos —, a Justiça decidiu emitir um alerta vermelho, enviado à Interpol, para a prisão dele.

Ressalte-se que o tempo máximo de cumprimento das penas privativas de liberdade no Brasil é de 40 anos.  

O julgamento da Chacina do Curió

Tribunal do júri iniciou-se na última terça-feira, 20, e é o primeiro do caso ocorrido na Grande Messejana na madrugada do dia 12 de novembro de 2015, quando 11 pessoas foram mortas por agentes encapuzados. 

Os jurados, cinco homens e duas mulheres, votaram de forma secreta, sobre 360 questionamentos referentes aos réus.

No primeiro dia de julgamento, as primeiras testemunhas foram ouvidas. Ao todo, 19 pessoas depuseram, incluindo vítimas sobreviventes, testemunhas de acusação e defesa. A oitiva continuou durante todo o segundo dia de julgamento, na quarta-feira, 21.

A quinta-feira, 22, foi marcada pelo depoimento dos quatro réus. Os policiais militares acusados negaram envolvimento na chacina e questionaram provas apresentadas no processo pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), que atuou como acusação.

No quarto dia de júri, nessa sexta-feira, 23, a defesa e acusação debateram, apontando provas, trechos de depoimentos e do processo para os jurados. Às 20h20, a sessão foi suspensa e voltou a ocorrer a partir de 9h deste sábado.

Outros dois julgamentos da Chacina do Curió já estão marcados. No próximo dia 29 de agosto, está previsto que mais oito acusados venham a julgamento. Já em 12 de setembro, serão mais oito. Os demais réus aguardam que recursos em tribunais superiores sejam apreciados.

Na Chacina do Curió, foram mortos Antônio Alisson Inácio Cardoso; Jardel Lima dos Santos; Pedro Alcântara Barrozo do Nascimento Filho; Alef Souza Cavalcante; Renayson Girão da Silva; Patrício João Pinho Leite; Francisco Elenildo Pereira Chagas; Jandson Alexandre de Sousa; Marcelo da Silva Mendes; Valmir Ferreira da Conceição; e José Gilvan Pinto Barbosa.

Além deles, sete pessoas foram feridas. A motivação do crime seria retaliação após o assassinato de um policial. Nenhuma das vítimas teria ligação com o primeiro homicídio. (Com informações de Lucas Barbosa, colaboraram André Bloc, Bemfica de Oliva, Catalina Leite e Jéssika Sisnando)