Cerca de 70% dos animais capturados no Ceará são cobras; IJF atendeu 64 pessoas por picadas
Entre as serpentes venenosas mais comuns, estão a cascavel, a surucucu, a coral e a jararaca; este ano, há foram registrados acidentes envolvendo cada uma delas
22:02 | Jun. 15, 2023
De janeiro a maio deste ano, dos 4.991 animais resgatados pelo Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), cerca de 3.493 eram serpentes, percentual que varia entre 68% a 71%. A maioria foi capturada em Fortaleza e Região Metropolitana e, mesmo sendo apenas de 0,5% a 1% de espécies venenosas, caso o indivíduo seja picado, a orientação é que a assistência médica especializada seja procurada o mais rápido possível. No Instituto Dr. José Frota (IJF), 64 pessoas pessoas buscaram atendimento por picadas de cobras em 2023.
Conforme levantamento estatístico dos Bombeiros, em média, cerca de 3.500 serpentes são resgatadas por mês no Estado. Entre as vítimas que procuraram o Núcleo de Assistência Toxicológica do IJF, 48 vítimas de serpentes da espécie jararaca, sete vítimas de cascavel, duas vítimas de surucucu e sete vítimas de coral. As quatro espécies venenosas são as mais comuns encontradas no Estado.
Era noite quando o agricultor quixereense João Ferreira de Matos, de 34 anos, estava trabalhando nas plantações e ouviu o cachorro latindo após encontrar uma cobra venenosa. Às pressas, na tentativa de evitar que o animal fosse agredido, ele saiu em disparada com uma lanterna de luz fraca em punho. Ao se aproximar do local, recebeu o bote da cascavel. Imediatamente, foi socorrido ao hospital mais próximo e, posteriormente, transferido para o IJF.
Ele conta que sentiu tontura, falta de ar, suor excessivo, mãos inchadas e ânsia de vômito. “Eu recebi a mordida e, no mesmo instante, segurei ela [a serpente]. Aí foi o tempo que eu gritei pelos meus colegas. Quando eles chegaram, eu consegui soltá-la de mim e os meninos recolheram os cachorros. A gente fez algumas fotos pra mostrar para o médico e lá no local mesmo já fizemos logo a soltura da cascavel pra eu ir ao hospital”, relata João.
O agricultor precisou passar por acompanhamento médico e segue internado. Agora, está com o quadro de saúde estável. Segundo a unidade de saúde, as vítimas de acidentes com serpentes necessitam de uma assistência rápida e eficiente para evitar complicações graves e até a morte.
Além da dor e do inchaço no local da mordida, as toxinas das serpentes podem causar sangramentos, manchas arroxeadas, diarréia, náusea, vômito, pressão baixa, urina escura, sonolência, visão turva, dor muscular e dor de cabeça. Em poucas horas o quadro pode evoluir para a necrose de tecidos, hemorragia, insuficiência renal, insuficiência respiratória e na eventual morte da vítima. Por isso, o atendimento médico especializado deve ser procurado o mais rápido possível.
A análise do quadro clínico e acesso ao tratamento adequado pode envolver a aplicação de soros antiofídicos e sessões de hemodiálise. O tipo de soro e a dosagem do antídoto dependem da espécie de serpente e do efeito da toxina, que segue lesionando órgãos e tecidos à medida que se espalha e é absorvida pelo organismo, prejudicando, sobretudo, o funcionamento dos rins.
Segundo dados do Instituto Butantan, local de pesquisas e estudos de ofídios, a maioria das serpentes brasileiras é de porte médio. Por isso, as partes baixas do corpo são as mais atingidas nas picadas, sendo 70% os pés e pernas, 13% mãos e antebraços e 17% outras áreas.
ANO |Nº DE ANIMAIS | SERPENTES
2019 — 3926 animais — +/- 2748 serpentes (média percentual de 70%)
2020 — 5217 animais — +/- 3651 serpentes (média percentual de 70%)
2021 — 6252 animais — +/- 4376 serpentes (média percentual de 70%)
2022 — 9641 animais — +/- 6748 serpentes (média percentual de 70%)
Fonte: Corpo de Bombeiros Militar do Ceará
Ceará registrou quase 40 mil acidentes com animais peçonhentos em cinco anos
Conforme boletim da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), durante o período de 2016 a 2020, houve um total de 39.756 acidentes por animais peçonhentos notificados no Estado.
Desses, 5.400 foram acidentes ofídicos, com uma média de 1.080 casos ao ano. Observou-se que os coeficientes de incidência de atendimentos mantiveram-se quase constantes no primeiro triênio, com um crescimento em 2019 (14,9 acidentes por 100.000 habitantes) e posterior declínio no ano de 2020 (13,3 acidentes por 100.000 habitantes).
Ao verificar o número de casos notificados por município, nos anos de 2016 a 2021, identifica-se que 2,7% (5/184) dos municípios apresentaram mais de 100 casos notificados, 33,7% (62/184) tiveram de 30 a 49 casos notificados e 8% (14/184) não notificaram casos.
Como a vítima ao ataque/picada de cobra deve agir?
• lavar o local da picada apenas com água ou com água e sabão;
• manter o paciente deitado;
• manter o paciente hidratado;
• procurar o serviço médico mais próximo;
• se possível, levar o animal para identificação.
• não fazer torniquete ou garrote;
• não cortar o local da picada;
• não perfurar ao redor do local da picada;
• não colocar folhas, pó de café ou outros contaminantes;
• não oferecer bebidas alcoólicas, querosene ou outros tóxicos.
Fonte: Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa)
Fazer registro da serpente auxilia na identificação da espécie
O Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) orienta que, caso visualize uma serpente, mesmo que não seja atacado, é sempre importante o registro e/ou filmagem, pois, desta forma, um especialista pode identificá-la. Além disso, para casos de ataques, o registro fotográfico torna-se fundamental para esclarecer se a serpente é peçonhenta ou não, bem como para saber de qual espécie se trata.
Manter a distância, isolar o local e ligar para o número 193 são outras medidas a serem tomadas. A Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) recebe chamadas 24 horas por dia, todos os dias da semana.
De modo amplo, caso venha a ser picado, procure socorro imediatamente. Enquanto aguarda a ambulância, lave o local com água e sabão, somente. Procure se acalmar e deixe o membro imóvel.
Onde procurar socorro caso seja atacado por uma cobra
- Instituto Dr. José Frota (R. Barão do Rio Branco, 1816 - Centro / Fortaleza)
- Hospital São Lucas (R. Ubaldino Souto Maior, 1052 - São Vicente / Crateús)
- Hospital Regional Norte (Av. John Sanford, 1505 - Junco / Sobral)
- Hospital e Maternidade Madalena Nunes (R. Assembleia de Deus, s/n - Centro / Tianguá)
- Hospital Regional do Cariri (R. Catulo da Paixão Cearense, s/n, Triângulo / Juazeiro do Norte)
- Hospital Regional de Icó Prefeito Walfrido Monteiro Sobrinho (Av. Josefa Nogueira Monteiro, s/n - Centro / Icó)
- Hospital Regional de Iguatu (R. Edilson Melo Távora, 172 - Esplanada I - Iguatu)
- Hospital São Francisco de Canindé (R. Simão Barbosa Cordeiro, 1397 - São Mateus / Canindé)
- Hospital Municipal Dr. Eudásio Barroso (Praça João Brasileiro Filho, 2324 - Centro / Quixadá)
- Hospital Regional e Maternidade Alberto Feitosa Lima (R. Abgail Cidão, 213 - Planalto dos Colibris)
- Hospital Pólo Dr. Eduardo Dias (R. Dragão do Mar, 819 - Centro / Aracati)
- Hospital e Casa de Saúde de Russas (R. Dr. José Ramalho, 1436 - Centro / Russas)