Correios recuam e pedem suspensão de reintegração de posse de vila na Praia de Iracema

Estatal enviou petição à Justiça requerendo a interrupção do processo, iniciado em setembro de 2022

18:09 | Jun. 09, 2023

Por: Luciano Cesário
Vila Almirante fica situada por trás de muro do complexo operacional dos Correios, em Fortaleza (foto: FCO FONTENELE)

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) recuou do processo de reintegração de posse da Vila Almirante, no bairro Praia de Iracema, em Fortaleza. Um pedido de suspensão da ação judicial foi protocolado pela estatal na Justiça Federal nesta sexta-feira, 9, quatro dias após as 30 famílias que residem na área serem notificadas oficialmente sobre o processo.

"Os Correios informam que, nesta sexta-feira, 9, peticionaram ao juiz requerendo a suspensão do processo de reintegração de posse de seu imóvel na Vila Almirante, na Praia de Iracema, em Fortaleza, para fins de negociação com os moradores", diz nota enviada pela empresa ao O POVO.

O comunicado ressalta que o processo foi iniciado em setembro do ano passado, na gestão anterior, ainda sob o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). "A atual diretoria da empresa não compactua com essa forma de agir e irá buscar uma solução conciliatória para regularização da área, em que não haja necessidade de desalojar os moradores", prossegue a nota.

De acordo com os Correios, representantes da estatal procuraram lideranças comunitárias da vila nesta sexta-feira para tranquilizá-los sobre o assunto. O POVO esteve no local na última terça-feira, 6, e mostrou a angústia dos moradores diante da possibilidade de desocupação forçada das residências. A vila tem quase 100 anos de existência e abriga gerações de famílias.

"Os Correios reafirmam seu compromisso social com as comunidades em que se inserem e destacam que a atual gestão da empresa irá sempre priorizar a via da conciliação na solução de questões que envolvam a sociedade", diz trecho final do comunicado.

O pedido de suspensão do processo foi comemorado pelo líder comunitário José de Araújo Júnior, 63, filho da moradora mais antiga da Vila, a aposentada Hélia Rocha Araújo, 83. "Recebemos essa notícia com alívio, mas ainda estamos cautelosos porque não sabemos o que eles vão querer da gente", declarou ele ao O POVO ao ser informado sobre a nova petição.

Júnior e os demais moradores da vila foram pegos de surpresa na última segunda-feira, 5, com a visita de oficiais de Justiça e policiais do Batalhão de Policiamento de Choque (BPchoque) para notificar a comunidade sobre uma ação de reintegração de posse. O documento informava prazo de 15 dias para que as famílias contestassem a ação na Justiça.

Moradores ouvidos pelo O POVO disseram que a entrega da notificação assustou a comunidade, que até então não sabia da existência do processo. A presença de policiais fortemente armados acompanhando os oficiais de Justiça causou aflição nos moradores, especialmente nos idosos. "Ainda estamos muito magoados devido à forma como fomos tratados. Não precisava disso", lamentou Júnior.

No processo, que agora deve ser suspenso, os Correios alegam ser a legítima proprietária do terreno onde 20 imóveis foram construídos, numa área de aproximadamente 1,6 mil metros quadrados (m²). A vila está situada entre a avenida Almirante Tamandaré e a rua dos Pacajus e é cortada por um muro do complexo operacional dos Correios, que funciona ao lado.

Atualizada às 18h17min