PM acusado de matar advogada e mãe em Morrinhos é suspeito de ligação com jogo do bicho

O sargento Francisco Amaury da Silva Araújo é investigado por integrar um grupo criminosa que atuaria na exploração de jogos de azar, lavagem de dinheiro e extorsão

O policial militar preso suspeito de matar uma advogada e a mãe dela em Morrinhos (Litoral Norte do Estado) voltou a estar na mira da Polícia na última semana, desta vez, por outro crime. O sargento Francisco Amaury da Silva Araújo, de 49 anos, foi alvo de uma operação que prendeu um homem apontado como chefe de um grupo criminoso envolvido com o jogo do bicho.

Conforme a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), há indícios de que Francisco Amaury prestava serviços de segurança ao grupo, “realizando pesquisas nos sistemas policiais, cobranças de dívidas e rondas pelos pontos de jogo do bicho”.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Contra o PM, que está preso pelo duplo homicídio em Morrinhos, foi cumprido mandado de busca e apreensão em sua casa. O único a ter a prisão preventiva decretada na operação foi o homem que seria o chefe do grupo, identificado como Francisco Rogério de Sousa Rocha, de 40 anos.

A investigação teve início em agosto de 2022 quando quatro homens foram detidos suspeitos de subtraírem maquinetas de cartão de uma casa de jogo do bicho no bairro Conjunto Esperança. Entre eles estava Francisco Amaury. Na ação, foram apreendidos três celulares, mas os suspeitos não foram presos.

Extração de dados dos aparelhos, porém, mostrou indicativos de que havia uma organização criminosa ativa, praticando, conforme a Draco, crimes como extorsão e lavagem de dinheiro.

Conforme os autos do processo, aos quais O POVO teve acesso, Francisco Rogério é proprietário da casa de jogos LD — Marca da Sorte. Nas conversas, a Draco identificou que ele visava constituir milícia privada para atuar nas disputas de territórios entre as casas de apostas — sobretudo, com a facção criminosa Comando Vermelho, que fez uma parceria com casas de jogos e proíbe concorrentes em seus territórios.

Na extração, há um diálogo em que, segundo a Draco, Francisco Rogério admite que instituiu segurança privada e que se vale de "carros de estouro" para subtrair máquinas utilizadas para as apostas. Ele ainda aparece tentando recrutar outros agentes de segurança para a atividade.

“No Relatório se observou a tentativa de [um subordinado] e de Francisco Rogério em se aproximar de um policial militar e de um Delegado de Polícia para que pudessem implantar uma banca de jogo de azar em Itapipoca (a 72km de Morrinhos), o que demonstra em tese o intuito da prática de corrupção ativa”, afirma a Draco, que acrescenta, porém, não terem sido constatados os envolvimentos dos agentes de segurança citados.

Ao mesmo subordinado, Francisco Rogério também aparece ordenando o recolhimento da máquina de um cambista. "Dá pressão, macho, bora. Tamo meia hora aqui no cambista, mah". Em outra conversa, a Draco colheu indícios de que o grupo criminoso pode ter praticado um homicídio.

Francisco Rogério propôs a um funcionário que eles "derrubassem" um homem que teria ameaçado um de seus cambistas. Jandlir Carvalho de Melo, que seria quem praticou as ameaças, foi morto a tiros em junho de 2022 em Maracanaú (Região Metropolitana de Fortaleza).

No mesmo dia do crime, Francisco Rogério diz ao subordinado que “um já foi” e também orienta que as mensagens sejam apagadas. O inquérito que apura a morte de Jandlir segue em andamento, sem suspeitos identificados.

A operação

A Draco cumpriu os mandados na manhã da última quinta-feira, 25. A Draco e o Ministério Público Estadual (MPCE) representaram pela prisão de 10 pessoas, mas apenas Francisco Rogério teve a prisão decretada pela Justiça, que entendeu que a medida seria “prematura na atual fase processual” para os demais suspeitos. Por não haver ainda prisão ou acusação formal contra eles, O POVO opta por não divulgar os seus nomes. 

Na casa de Francisco Rogério, a Polícia Civil apreendeu R$ 65.212 em espécie. Em toda a operação, foram apreendidos nove veículos, incluindo dois de luxo; celulares, notebooks, documentos e dezenas de maquinetas. As ações ocorreram em Fortaleza e em Itapipoca. 

Relembre o duplo homicídio em Morrinhos

A advogada Rafaela Vasconcelos de Maria, de 34 anos, e a mãe dela, Maria Socorro Vasconcelos de Maria, de 78 anos, foram mortas no dia 24 de março deste ano no Centro de Morrinhos. Rafaela era esposa de um tenente-coronel da Polícia Militar. Câmeras de vigilância mostraram que o assassino trafegava em uma moto. 

Um dia após o crime, dois PMs foram presos suspeitos de envolvimento no crime. Além de Francisco Amaury, foi preso o soldado Daniel Medeiros de Siqueira. Conforme a investigação, eles estavam no local em que a moto utilizada no crime foi encontrada, uma casa abandonada a cerca de três quilômetros do Centro de Morrinhos.

No celular de Francisco Amaury ainda foram encontrados vídeos em que a advogada aparenta estar sendo monitorada. Uma das gravações mostra o veículo e a residência da advogada sendo filmados dias antes do crime. As imagens ainda permitem identificar o carro usado pelos homens que fizeram o vídeo, um veículo modelo Cobalt, o mesmo encontrado com os PMs quando foram presos.

Ambos os PMs negaram o crime. Amaury disse que teve o celular vistoriado sem permissão. A dupla foi denunciada pelo Ministério Público Estadual (MPCE), mas a investigação prossegue para apurar as circunstâncias do crime. Eles seguem presos. 

 

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Segurança Pública Ceará Jogo do Bicho Ceará Homicídio Morrinhos Advogada mãe mortas Morrinhos

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar