Fortaleza tem mutirão de empregabilidade para a comunidade LGBTQIA+

Serviços ofertados pelo Sine/IDT fazem parte do "Ceará de Oportunidades", com programação em alusão ao mês do trabalhador

O Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT) promoveu, na manhã desta segunda-feira, 22, um mutirão de serviços voltados para a população LGBTQIA+. A ação ocorreu na unidade localizada no Centro de Fortaleza e foi realizada em parceria com as Secretarias do Trabalho (SET) e da Diversidade.

A iniciativa faz parte do programa “Ceará de Oportunidades”, que oferta serviços diversos aos trabalhadores de todo o Estado. Nesta segunda, foram realizados serviços de cadastro, consulta de vagas de emprego, encaminhamento e seleção para vagas, além de atendimento jurídico, serviço social e psicológico.

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O secretário do Trabalho Vladyson Viana pontua que a autonomia financeira é fundamental para a superação da violência contra a população LGBTQIA+, a qual muitaz vezes é excluída do acesso à renda e ao consumo de bens básicos como moradia, mobilidade, cultura e saúde.

“O nosso desafio é dar visibilidade a esses trabalhadores, dar visibilidade a essa pauta. Nós sabemos que a LGBTfobia é algo cultural também. Uma iniciativa como essa mostra que, através da política pública, nós podemos superar essa condição de preconceito. O trabalho é um determinante social, e, muitas vezes, os trabalhadores LGBTQIA+, por conta desse preconceito, são excluídos de um direito fundamental.”

O secretário também explica que, além de estimular a diversidade dentro das empresas e garantir o acesso à empregabilidade para a população LGBTQIA+, a iniciativa promove um aumento da representatividade.

“A inclusão é fundamental, porque o cliente que é LGBT espera se reconhecer e ver que ali também tem um trabalhador LGBT, que ele não vai sofrer preconceito e que ele vai ser respeitado”, destaca.

Um dos principais desafios para a maior promoção dessa empregabilidade é a falta de dados, o que dificulta a realização de um recorte do perfil dos trabalhadores. Segundo Vladyson, há plataformas que não trazem um espaço para a inserção da identidade de gênero, orientação sexual ou nome social, por exemplo.

O IDT conta com uma plataforma específica para o cadastro de trabalhadores LGBTQIA+, possibilitando um encaminhamento mais eficaz de vagas.

Além das atividades, a programação contou com a criação da Gerência da Empregabilidade LGBTQIA+. O serviço faz parte do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho e visa promover a intermediação e a inserção de trabalhadores da comunidade.

Dan Stewart, de 25 anos, e Vick Tavares, de 23 anos, são pessoas não-binárias e compareceram ao local em busca de vagas de emprego nas áreas de Administração e Recursos Humanos.

Com apoio do Centro Estadual de Referência LGBTI+ Thina Rodrigues, Dan e Vick tiveram acesso ao serviço de assistência social e puderam concluir o curso de assistente administrativo, realizado em parceria com o Senac Ceará.

Com formação em Pedagogia, Dan apontou que há desafios para a comunidade LGBTQIA+ antes e depois de entrar no mercado de trabalho.

“Dificuldades todo mundo tem, mas nós encontramos algumas específicas. Tem a questão do nome social, por exemplo. Como pessoa não-binária, as pessoas não sabem como nos tratar, nem sequer perguntam o pronome que a gente prefere ser chamado. O nome social é um direito que todas as pessoas trans têm, e muitas empresas pedem que esse nome prescrito em algum documento, no RG ou no CPF, mas a lei já garante que a gente possa, mesmo sem estar no documento, solicitar que o nome social seja respeitado no crachá.”

Dan também destaca a importância de promover a empregabilidade dentro dos órgãos públicos.

“É necessário não só fazer parceria com as empresas para empregar, mas também abrir processos seletivos internos do governo, especificamente para pessoas LGBTs, porque a gente está acostumado a ir em órgãos públicos e não encontrar essas pessoas lá. É um desconforto ir em um órgão como o Vapt Vupt, por exemplo, e não ver pessoas trans trabalhando lá para me atender.”

Vick, que tem formação em Psicologia, considera que o programa oferece a oportunidade para que as pessoas mostrem as qualificações para as empresas.

“Todo mundo tem a dificuldade de ter que ir atrás do emprego, muita gente não consegue, mas no caso das pessoas LGBTs, principalmente trans, é realmente necessário ter essa porta de entrada, essa possibilidade de chegar aqui e mostrar que a gente tem capacitação para fazer coisas. Mesmo com o curso, a gente não tem a possibilidade de chegar e mostrar um currículo”, diz.

A secretária de Diversidade do Ceará Mitchelle Meira apontou que a promoção da empregabilidade é fundamental para romper preconceitos dentro do mercado de trabalho.

“A gente tem, por exemplo, as pessoas trans. Muitas delas têm qualificação para estarem no mercado de trabalho e não são absorvidas, e outras que não conseguiram nem terminar o ensino fundamental por conta do preconceito social. Nós temos todo um movimento voltado para que as pessoas voltem a estudar, voltem ao mercado de trabalho, melhorem o currículo, e que a empregabilidade faça parte da suas vidas”, declara.

Segundo Mitchelle, há planos para que as ações realizadas no Sine sejam ampliadas para outras regiões do Estado, oferecendo, inclusive, capacitações para empresas e indústrias.

A secretária também avalia que, para além do mercado de trabalho, a comunidade LGBTQIA+ enfrenta dificuldades no âmbito da educação, e, a partir disso, a Secretaria da Diversidade tem dialogado com a Secretaria da Educação (Seduc) sobre iniciativas.

“A gente tem uma pesquisa que está no ‘forno’ sobre o acesso ao trabalho e a escolaridade das pessoas LGBTQIA+. Eu estive conversando sobre o que a gente pode fazer, até mesmo pensar em um EJA especial para que as pessoas possam voltar a estudar e concluir o ensino fundamental e médio. A outra [medida] é promover cursos de capacitação. A gente tem pensado nisso para que as pessoas possam realmente concluir os cursos, ter a qualificação escolar e profissional e melhorar o currículo”, completa.

 

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