Com repasse lento, Santa Casa de Fortaleza revela dificuldades financeiras

A unidade filantrópica tenta contato com a gestão municipal para reverter este quadro. Sindicato dos Médicos busca amparar a situação ao lado da Santa Casa

A Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza revelou estar passando por dificuldades financeiras. No início do mês de abril deste ano, a unidade filantrópica emitiu uma carta aberta avisando os fornecedores, colaboradores, sindicatos e associações sobre o acúmulo de dívidas e a falta de recursos. 

Na carta, a Santa Casa colocou em xeque que o município de Fortaleza tem demorado a repassar o valor de mais de R$ 3 milhões do Ministério da Saúde, o que agravou ainda mais a situação.

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“Após décadas pagando religiosamente em dia, isto veio a provocar atraso no pagamento dos colaboradores nos meses de dezembro de 2022 a fevereiro de 2023, ocasionando um estado de alerta do Sindicato de Saúde, com ameaça de paralisação total, caso venha a se repetir”, diz um trecho do documento.

Repasses

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informa que já realizou a transferência para a Santa Casa no dia 4 de maio de 2023, no valor total de R$ 3.072.850,47.

De acordo com o órgão, os pagamentos dos prestadores contratualizados ocorrem em até 60 dias após a finalização dos serviços de saúde.

Ao O POVO, Vladimir Spinelli Chagas, provedor da Santa Casa de Fortaleza, afirma que estes são “recursos referentes aos serviços prestados no mês de fevereiro de 2023 e que estavam nos cofres municipais desde 3 de fevereiro”.

“Esse valor, repita-se que relativos a fevereiro, é parte do total. Ainda temos a receber R$ 510 mil relativos a recursos estaduais, além de R$ 492.367,59 com prazo até 30 de maio, relativos à Lei Municipal N° 11.297”.

Ainda conforme Spinelli, o prazo de “até 60 dias” para a transferência não vem sendo cumprido. “Esses recursos, por exemplo, foram 90 dias do recebimento pela Prefeitura (03/02 a 04/05). Mesmo que se considere o último dia da prestação dos serviços (no caso 25 de cada mês), teriam que ter sido transferidos até o dia 26 de abril”.

“Ainda temos, da Prefeitura, recursos referentes a emendas parlamentares que somam mais de R$ 4,5 milhões, e estamos aguardando que sejam repassados. Este impasse permanece porque não fomos recebidos nem pelas secretarias, nem pelo prefeito, para discutir a parceria com a Santa Casa. Deve importar para a Prefeitura porque atendemos a parcela mais necessitada da população, já que 95% dos nossos atendimentos são do Sistema Único de Saúde (SUS). Isto certamente faz parte, ou deveria fazer, de uma política de saúde”, ressaltou o provedor.

Apesar dos entraves enfrentados financeiramente pelo hospital, o provedor justifica que não cogita risco de fechamento. “Não fui para a Santa Casa para vê-la fechar. Nós vamos fazer todo o possível para que volte a ter aquela pujança que ela sempre teve”, disse.

A SMS foi novamente contactada sobre estas novas acusações, mas, até o presente momento em que está matéria foi publicada, não tivemos nenhum retorno. Caso a demanda seja respondida, a matéria será atualizada.

Sindicato dos Médicos está preocupado e presta ajuda

O Sindicato dos Médicos do Ceará se mostra preocupado com o futuro da Santa Casa de Fortaleza. No dia 9 de maio, um vídeo nas redes sociais da associação solicitava que a entidade filantrópica não fechasse as portas.

 

 

Nessa última quinta-feira, 11, o Sindicato enviou um ofício ao governador e ao prefeito de Fortaleza pleiteando uma reunião para tratar sobre o assunto. Em ações anteriores, o Sindicato e Vladimir Spinelli tiveram um primeiro contato também via ofício e pretendem ter uma reunião presencial para tentar ajudar a unidade.

Thaís Timbó, gerente jurídica do Sindicato dos Médicos, ao ser questionada sobre a possibilidade de greve, paralisação ou manifestações, disse que “não é uma possibilidade a se descartar, se assim for do querer dos médicos que laboram no hospital”.

“No momento, acredito que precisamos tentar unir forças pra tentar resolver a situação. O caso é grave, e vamos fazer o possível para que os profissionais tenham suas contraprestações recebidas em dias e as condições de trabalho melhorem”, acrescenta Thaís.

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