Tráfico de cocaína: presos em Lisboa tinham conexão com grupo flagrado em Fortaleza

Em vistoria de rotina, polícias brasileira e portuguesa descobrem método em que "mulas do tráfico" não viajam mais sozinhas, mas agora em grupos. Oito pessoas presas embarcando de Fortaleza para Portugal, com 23 kg da droga, eram ligadas a outras quatro flagradas com 7 kg do pó, desembarcando em solo português. Até as malas dos 12 presos eram idênticas

Duas apreensões de cocaína e 12 pessoas presas, nos aeroportos de Fortaleza e de Lisboa - em dois grupos de oito e quatro pessoas, respectivamente - revelaram à Polícia Federal brasileira um "método novo, diferente, sem similar", no tráfico internacional de cocaína do Brasil para a Europa. Em vez de viajarem solitárias, como é mais comum o registro, as "mulas", pessoas contratadas apenas para transportar a droga, estariam se deslocando em formações maiores numa mesma viagem. Não mais se arriscando sozinhas em voos comerciais.

De Fortaleza, as oito pessoas até tentaram, mas foram descobertas pelo faro do cão pastor alemão Kano, "recém-contratado" pela Polícia Federal. Era por volta das 22 horas do último domingo, 30. Estavam com 23 kg de cocaína, enxertados na estrutura das malas. Nem viajaram, foram todos presos em flagrante - cinco mulheres e três homens. O destino final era a cidade portuguesa. As bagagens haviam sido despachadas e foram vistoriadas no pátio de cargas. A saída do voo da capital cearense chegou a atrasar quase uma hora por conta das prisões.

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Identificação das malas com cocaína no Aeroporto de Fortaleza, na noite de domingo, 30, foi feita com a atuação do cão pastor Kano, da Polícia Federal
Identificação das malas com cocaína no Aeroporto de Fortaleza, na noite de domingo, 30, foi feita com a atuação do cão pastor Kano, da Polícia Federal (Foto: DIVULGAÇÃO POLÍCIA FEDERAL)

Em Recife, as quatro pessoas conseguiram embarcar, despachar as malas, voar e chegar a Lisboa, mas foram identificadas no desembarque pela Polícia Judiciária de Portugal. Levavam 7kg da droga. A detecção foi pelo raio X, no Aeroporto de Portela, na manhã do dia 1º de maio, feriado no Brasil. O pó também havia sido camuflado nas alças, suportes e forros das malas. A prisão dos quatro se deu no mesmo horário em que estava prevista a chegada dos que partiriam de Fortaleza.

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Além do cão de faro e dos aparelhos de imagem, foram os "detalhes" que ajudaram os agentes federais brasileiros e portugueses a confirmar o elo entre os dois grupos presos e a possível mesma origem dos 30 kg da droga: 1) mesmo partindo de locais diferentes, todas as 12 bolsas eram idênticas, no modelo e tamanho, só variavam nas cores; 2) a droga havia sido ocultada de modo idêntico, na própria estrutura da mala; 3) todas as pessoas presas moram ou são nascidas nos estados da Bahia e Amazonas; 4) todos chegariam em horários muito próximos ao mesmo destino.

A troca desses detalhes se deu entre a PF no Ceará e os agentes portugueses. O caso em Portugal nem chegou a ser divulgado ainda pelas autoridades dos dois países. O POVO confirmou a informação, na manhã desta quarta-feira, 3, junto a uma fonte da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (Uncte), da Polícia Judiciária portuguesa. "Sim, houve essas detenções na segunda-feira, mas não posso dar mais detalhes. O que no Brasil vocês chamam de mulas, aqui em Portugal costumamos chamar de correios humanos", descreveu a fonte policial.

"Investimento pesado", diz delegado federal

Para o delegado federal Alan Robson Alexandrino, chefe da Delegacia Regional da Polícia Judiciária Federal, "a lógica é de que haja um grupo de grande traficante por trás. Porque houve um investimento pesado nessa viagem". Segundo ele, esse ponto se mostra pelos altos custos estimados na operação executada pelos traficantes, para a viagem realizada pelos dois grupos presos em Fortaleza e Lisboa.

Cada mula do tráfico receberia por volta de R$ 15 mil e os gastos com passagem aérea estariam por volta de R$ 4 mil - só de ida. Os valores também citam deslocamentos para Ceará e Recife e hospedagens nos Estados de partida e em Portugal.

"Todos são jovens (entre 20 e 30 anos). E confessaram já na abordagem que estavam levando drogas para o exterior. Ninguém foi surpreendido", descreveu o delegado. O recrutamento costuma mirar pessoas em dificuldade financeira, com perspectiva de ganhos rápidos, mesmo diante do risco. Foram apreendidos ainda celulares, quantias em euros e alguns repassaram detalhes, nos interrogatórios formais, que poderão ajudar a identificar os financiadores da viagem.

Em Portugal e no Ceará foram abertos inquéritos sobre os casos. A Polícia Judiciária portuguesa e a Polícia Federal brasileira trocaram informações ainda fora dos autos das investigações, mas o dado de conexão entre os grupos poderá ser juntado ao trabalho posteriormente.

 "Mulas do tráfico"

"Mulas" - pessoas contratadas apenas para transportar cocaína em voos comerciais. Podem levar a droga em suas roupas ou bagagens. Receberiam por volta de R$ 15 mil.

"Sem similar" - Segundo o delegado Alan Robson Alexandrino, da PF Ceará, a novidade é a viagem de grupos de "mulas", não mais viajando sozinhas.

Grupo descoberto

- 1) Sairia de Fortaleza para Lisboa.
Oito pessoas flagradas ainda no embarque.
Levavam 23 kg de cocaína.

- 2) Saiu de Recife para Lisboa.
Flagrados no desembarque, já em solo português.
Levavam 7 kg de cocaína.

Procedência: as 12 pessoas dos dois grupos descobertos na rota Fortaleza-Lisboa e Recife-Lisboa eram procedentes (nascidos ou moradores) dos estados da Bahia e Amazonas. Tinham entre 20 e 30 anos.

 

 

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