Projeto Favela 3D é lançado na favela do Inferninho, em Fortaleza

Projeto de inovação social para aspiração da pobreza crônica em favelas chega no bairro Vila Velha, em Fortaleza

20:23 | Abr. 28, 2023

Por: Bruna Lira
FORTALEZA, CE, BRASIL,28.04.2023: Rutenio Florencio, ong Pensando bem e Edu Lyra, ong Gerando Falcões. Autoridades da prefeitura e empresários visitam o Projeto favela 3 D, favela do Inferninho, Vila Velha. (foto: FÁBIO LIMA)

O Beco do Céu, uma passagem estreita dentro da Favela do Inferninho, no bairro Vila Velha, serve de entrada para onde, hoje, funciona o Instituto Pensando Bem. O local foi palco, na manhã desta sexta-feira, 28, da visita de representantes do poder público e de Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões, para a implementação do projeto Favela 3D em Fortaleza, que visa atrair investimentos da iniciativa pública e privada para diminuir a miséria nas favelas do Brasil.

Com mais de 600 famílias, a comunidade do Inferninho será a primeira do Estado a receber a iniciativa. Segundo Edu Lyra, o Favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida) é um projeto de inovação social para aspiração da pobreza crônica em favelas.

“A gente conecta políticas públicas e tecnologias sociais nesses locais para destravar valor e quebrar o ciclo de pobreza. Estamos presentes em quatro favelas: duas em São Paulo, uma no Rio e outra em Maceió. E agora trazemos esse projeto oficialmente à Fortaleza sob a liderança do Rutenio”, detalha.

O coordenador do Pensando Bem, Rutenio Florêncio, conta que a desigualdade social é reflexo da falta de oportunidades na favela do Inferninho.

“A grande problemática daqui era o “business” — que é o corre, o tráfico de drogas. E eu digo que isso é combatido com oportunidades. Eu tive chance, diferente dos meus amigos que morreram aqui, porque a primeira que surgia para eles era ir para a boca de fumo vender droga pra levar o sustento para dentro de casa. E quando a gente veio pra cá, passamos a falar para os nossos amigos que estavam na criminalidade que tínhamos uma solução para eles e para suas famílias. A gente quer um futuro diferente”, diz Rutenio.

A dona de casa Margarida Alves, 76, mora na favela do Inferninho há 40 anos. Ela acompanhou de perto a transformação no local após a fundação do Instituto Pensar Bem. Apesar de algumas dificuldades relacionadas à infraestrutura do local continuarem acontecendo, especialmente alagamentos por conta das chuvas. As mudanças sociais tornaram os dias mais coloridos.

“Aqui não tinha atividade nenhuma para as crianças, não tinha alguém que desse a mão, que ajudasse. Esse menino, que eu apelidei como o ‘enfeitador’ da rua (Rutenio), foi uma bênção pra essa comunidade. Hoje vejo as crianças felizes brincando à tarde, coisa que não tinha antes”, conta Margarida.

Outra moradora que acompanhou e foi beneficiada pelo programa foi a empreendedora Tatiana Costa. Ela chegou a ter problemas com o uso de drogas, passou por um tratamento e, depois, fez um curso de empreendedorismo no Instituto Pensar Bem e recebeu uma bolsa de R$ 5 mil. Com o dinheiro, ela investiu na abertura de um estabelecimento comercial.

“Sempre morei aqui. Quando o projeto chegou, eu já tava livre das drogas há dois anos. As minhas meninas me falaram para eu participar do curso de empreendedorismo, ocupar minha cabeça e fazer alguma coisa da vida. Então eu fui com fé, bati o pé no chão e falei ‘eu vou ganhar’, e ganhei”, conclui.

Agora, com o projeto Favela 3D instaurado em Fortaleza, Edu Lyra revela que a projeção orçamentária já gira em torno de R$ 5 milhões e a previsão de investimentos é de mais de R$ 10 milhões.

“Prevemos investimentos acima de R$ 10 milhões para fazer uma transformação, tanto do ponto de vista físico, de infraestrutura e intervenção nas casas, como uma transformação humana, de buscar obsessivamente zerar a fome em creches, reduzir o analfabetismo, criar uma condição de pleno emprego na favela, entregar os melhores indicadores sociais no Inferninho e provocar a estrutura pública, para transformá-lo (o Favela 3D) em uma política pública no futuro”, afirma Edu. (Colaborou Gabriel Damasceno/Especial para O POVO)