Fortaleza inicia mês de abril com onda de casos de síndrome gripal em crianças

Aumento da circulação viral é tido como normal durante o primeiro semestre, mas exige cuidados da população

O último mês de março chegou ao fim em meio a uma onda de casos de síndrome gripal em Fortaleza. O público infantil é um dos que mais sofre diante do acometimento de um quadro viral. Com emergências lotadas, os pais reclamam do tempo de atendimento e da qualidade do serviço.

Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS), houve um aumento superior a 100% do número de atendimentos gerais por síndrome gripal nos postos de saúde da Capital, entre os meses de fevereiro e março.

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No segundo mês do ano, 10.619 casos de gripe foram registrados. Já em março, são 22.229 atendimentos contabilizados.

A coordenadora das redes de atenção primária e psicossocial de Fortaleza, Luciana Passos, afirma que o aumento dos casos de gripe em crianças é comum nesta época do ano, na qual a maioria dos contaminados apresentam sintomas já conhecidos de um resfriado, como tosse, coriza, secreção, além da possibilidade de problemas gastrointestinais.

"A gente recomenda que, em um quadro inicial, já se procure uma unidade de saúde próxima à residência, para saber se há sinais de alarme, que, no caso das gripes, são a falta de ar, a febre persistente, o vômito ou a não aceitação da alimentação de forma adequada", explica Passos.

De acordo com Passos, março é o mês no qual as contaminações chegam ao pico na Capital, tendo uma redução somente a partir da segunda quinzena de abril.

"É uma época de circulação viral aumentada. Além das chuvas, temos esse aumento, que é sazonal. Normalmente, é um período propício para os vírus, como o da Influenza, estarem disseminando", afirma a coordenadora. Ela aponta ainda que a ida de crianças para as escolas, mesmo com sintomas leves, acaba favorecendo o aumento de casos.

Passos reforça a importância das vacinas, para que a rede pública de saúde consiga lidar melhor com a demanda durante o período de alta de casos. No próximo dia 15 de abril será realizado o Dia D de vacinação contra a Influenza em todo o Estado.

Superlotação no Albert Sabin

O Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), vinculado à Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), vem enfrentando problemas com a superlotação da unidade. De acordo com a administração do HIAS, até o último domingo, 2, a quantidade de pacientes era 90% maior que a capacidade, dificultando a gestão e o bom atendimento aos que necessitam.

Em entrevista à rádio O POVO CBN, a diretora-geral do hospital, Fábia Linhares, explica que, por conta da sazonalidade ocorrida em Fortaleza, há uma demanda acima do esperado para a unidade.

“Com isso, começam a vir ao hospital crianças caracterizadas como baixo risco, sendo que elas deveriam estar sendo atendidas nas UPAs, e não no hospital especializado”, explica a gestora.

Segundo ela, a situação gera desorganização no processo de atenção e faz com que a espera por um leito seja maior. Para que o caso seja solucionado, um plano de contingência foi feito, com medidas como a abertura de 21 novos leitos crônicos e quatro de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

“A Secretaria de Saúde fez a contratualização de 40 leitos no hospital de retaguarda, que é o (Hospital Infantil Filantrópico) Sopai, que também é um hospital infantil, para que a gente possa avaliar a criança e ir transferindo ao hospital para melhor atendê-la. Estamos em contato direto com as duas secretarias, a do Estado e a do Município, para que novos leitos sejam disponibilizados”, ressalta.

A gestora orienta que, caso a criança apareça com coriza, pouca tosse e febre baixa, o ideal é levá-la inicialmente ao posto de saúde mais próximo de casa, onde as primeiras medidas serão tomadas.

Caso os sintomas persistam, o ideal é voltar ao posto ou, se forem apresentados sintomas mais severos, como febre mais alta e persistente, levá-la à UPA, que é o segundo patamar do atendimento e, caso necessário, levar ao HIAS.

A diretora do HIAS ainda avalia que a sobrecarga no hospital é reflexo da diminuição do número de atendimentos realizados pela rede municipal de saúde.

"Tivemos, ao longo dos anos, o fechamento de muitos leitos de pediatria em nossa cidade. Se você pegar o histórico de pediatria, antigamente, tinham os Frotinhas e esses leitos foram fechados, tinham os Gonzaguinhas, que hoje só atendem materno-infantil. O próprio Hospital Infantil de Fortaleza não está com os leitos funcionando em plenitude", afirma.

Demora e reclamações

Na manhã desta terça-feira, 4, o atendimento realizado pela emergência do HIAS era alvo de críticas por parte dos acompanhantes das crianças que necessitam de auxílio clínico.

"Meu filho chegou aqui na tarde de ontem, só colocaram o oxigênio nele 4h30min da madrugada. Ele está cansado e ainda não tomou remédio. A suspeita é de pneumonia. O atendimento não tá bom", conta Davilane Pereira, que acompanha o filho de um ano e dez meses.

Já Braulia Oliveira, 45, tentava descansar na calçada, do lado de fora da emergência. Deitada no chão, ela aguardava notícias sobre o neto, de apenas três meses.

"O hospital está muito cheio. Ele vai passar por uma série de exames, a gripe dele tá muito forte. Minha filha tá com ele, fica vindo aqui e me fala que a situação é muito complicada aí dentro", comentou.

Uma outra mãe, que prefere não se identificar, diz estar desesperada, por não ver avanço no quadro clínico da filha.

"Lá dentro o negócio tá feio, lotado. Minha filha chegou na última quarta-feira e ainda está aqui. A gente briga por um leito adequado para eles, mas não tem. Ela chegou com a saturação baixa e com muita secreção, segue do mesmo jeito", reclama a mãe.

Em outro ponto da cidade, no bairro Jóquei Clube, no Hospital Infantil de Fortaleza, a demora no atendimento também era uma realidade enfrentada pelas crianças e seus acompanhantes. "A minha demorou, desde 22 horas que eu estou aqui, fui atendida por volta de 5h30min", relata Camila Araújo, 21, que está com filho, de apenas 11 meses. A criança é mais uma com quadro gripal.

Já Genilda Fonteles, 38, conta que veio do município de Jijoca em busca de atendimento para o filho. Ela relata que o hospital estava cheio. "Eu acho que o que mais vi foi gripe mesmo, só o que passa é menino tossindo. O hospital está cheio, mas o meu atendimento foi bom", avalia.

Rede privada também registra aumento de atendimentos

De acordo com a Unimed Fortaleza, dos 13.269 atendimentos realizados na emergência pediátrica do Hospital Unimed Sul, durante o mês de março, 78% dos casos são de síndrome respiratória, o que representa mais de 10 mil consultas a pacientes com quadros gripais.

No mês de fevereiro, foram cerca de 6.500 atendimentos a crianças gripadas. Já em janeiro, foram pouco mais de três mil casos registrados na emergência infantil. Em março, a unidade chegou a ter 486 pacientes internados, sendo 310 deles com quadro inicial de síndrome gripal.

Já a Hapvida não detalhou o número de atendimentos realizados durante este ano. Em nota, a rede apenas definiu como comum o aumento da demanda de pacientes com síndromes respiratórias durante o mês de março.

No comunicado, a Hapvida informou também que reforçou a quantidade de médicos, além de ter ampliado a equipe multidisciplinar. O número de leitos de internações e de UTIs também foi ampliado.

O que diz a Prefeitura

Em nota, a SMS informou que o Hospital da Criança de Fortaleza (HCF) realizou 6.076 atendimentos por síndromes respiratórias entre janeiro e março deste ano. "Unidade porta-aberta para pronto-atendimento clínico infantil, contava, nesta terça-feira 3, com quatro médicos pediatras que atendem conforme a classificação de risco, do sistema Manchester", diz a nota.

"A SMS ressalta que o atendimento pediátrico em Fortaleza também é realizado nos 118 postos de saúde da capital, em casos leve e para casos moderados a população pode buscar uma das 12 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), abertas diariamente, 24h por dia", segue o comunicado.

Leia a nota na íntegra:

"A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informa que a emergência do Hospital da Criança de Fortaleza (HCF), unidade porta-aberta para pronto-atendimento clínico infantil, contava, nesta terça-feira (03/04), com quatro médicos pediatras que atendem conforme a classificação de risco, do sistema Manchester.

Atualmente, 135 profissionais entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, e outros, acolhem todos os pacientes mesmo com o aumento da demanda nos últimos meses, atrelada ao período de sazonalidade.

Com o intuito de desafogar a unidade, os pacientes classificados como baixa complexidade estão sendo levados, com transporte garantido pelo hospital para atendimento médico em um posto de saúde de referência da capital.

De janeiro a março deste ano, foram realizados 6.076 atendimentos por síndromes respiratórias no HCF. Deste total, 2.036 foram em janeiro, 1.605 em fevereiro e 2.435 em março.

A SMS ressalta que o atendimento pediátrico em Fortaleza também é realizado nos 118 postos de saúde da capital, em casos leve e para casos moderados a população pode buscar uma das 12 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), abertas diariamente, 24h por dia. Fortaleza ainda conta com a Sociedade de Assistência e Proteção à Infância (Sopai), o equipamento contratualizado também é porta aberta, e acolhe crianças de domingo a domingo.

Em relação a Rede Municipal de Saúde de Fortaleza, a mesma se destaca mediante as demais capitais nordestinas, devido ao alto número de equipamentos, são 10 hospitais no total, divididos em: Materno Infantil, Traumatologia e Pediatria.

A Rede Materno Infantil conta com cinco hospitais. Para qualificar o atendimento de mães e bebês, três destas unidades foram contemplados com readequação de perfil, atendendo exclusivamente demanda obstétrica e ginecológica em sua emergência e uma esta em reforma.

A Rede Traumatológica conta com 04 hospitais, incluindo o Instituto Dr. José Frota (IJF), de atendimento terciário, referência em todo o estado no atendimento a vítimas de acidentes. A linha do trauma também está sendo contemplada com melhorias, atualmente o Hospital Distrital Edmilson Barros de Oliveira (Frotinha de Messejana) está recebendo requalificação em toda a sua estrutura.

A Rede infantil conta com o Hospital da Criança, ampliando o atendimento pediátrico da Capital desde sua inauguração, atendendo casos de traumatologia em crianças com fraturas fechadas, procedimentos de urgência, cirurgias pediátricas eletivas de média complexidade e atendimento em assistência otorrinolaringológica.

O Município conta ainda com 12 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), sendo seis geridas pelo Município. Além disso, os 118 postos de saúde de Fortaleza acolhem demandas espontâneas e programadas". (Colaborou Gabriela Monteiro e Ana Rute Ramires)

Atualizada às 18 horas

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