Ocupando e resistindo: evento em Fortaleza debate desafios de mulheres arquitetas

2º Ciclo de Debates: Mulheres, Cidade e Arquitetura foi organizado pelo Grupo de Trabalho sobre Representatividade da Mulher Arquiteta e Urbanista no Estado do Ceará

Dezenas de pessoas ocuparam, neste sábado, 4, a sede do Instituto Brasileiro de Educação Continuada (Inbec), em Fortaleza, para o 2º Ciclo de Debates: Mulheres, Cidade e Arquitetura. Iniciativa do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU-CE) debateu os desafios femininos na profissão e serviu ainda como bússola de orientação e referência para jovens que estão iniciando a carreira.

O evento foi organizado pelo Grupo de Trabalho sobre Representatividade da Mulher Arquiteta e Urbanista no Estado do Ceará — do conselho cearense — e ocorre pela segunda vez na Capital. Em alusão ao mês da mulher, o ciclo contou com personalidades da arquitetura local e nacional.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Além de falar sobre mulheres na arquitetura e no urbanismo, a proposta do encontro também foi a de discutir sobre políticas afirmativas e questões contemporâneas da profissão. Mulheres formavam a grande maioria da plateia, mas cerca de dez homens também estavam presentes.

Cláudia Sales, primeira mulher eleita como Conselheira Federal do CAU-CE, destacou a importância da presença dos homens no evento, frisando que é necessária também a atuação deles para o avanço de conquistas femininas. A representante trouxe a luta dela para falar com as companheiras de profissão e os demais presentes. 

"O campo da Arquitetura e Urbanismo por muito tempo teve uma predominância masculina dentro da ação profissional, mas esse número se inverteu, e hoje nós somos a maioria dentro do campus. No entanto, as condições de trabalho ainda são injustas, as mulheres ganham menos, possuem menos oportunidade, e há questões voltadas para o assédio de trabalho, assédio sexual. Então, as condições de trabalho para essas mulheres que hoje são maioria não se modificaram ainda", destaca.

FORTALEZA, CEARÁ, 04-03-2023: Ciclo de debates organizados pela CAU, com presença da primeira presidente da CAU Brasil, Nádia Somehk.  (Foto: Fernanda Barros/ O Povo).
FORTALEZA, CEARÁ, 04-03-2023: Ciclo de debates organizados pela CAU, com presença da primeira presidente da CAU Brasil, Nádia Somehk. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo). (Foto: FERNANDA BARROS)

Cláudia é ainda a primeira mulher negra a ocupar o cargo e diz que nunca imaginou assumir essa função por não ter tido referências na própria jornada acadêmica. 

Consciente hoje de sua importância, ela deixou a voz firme embargar ao falar sobre o que busca agora: "Fazer com que as outras subam junto comigo. Porque não adianta eu estar neste espaço, neste lugar, e eu estar ocupando ele sozinha enquanto estou vendo todas as outras com condições muito injustas de trabalho. Eu subir sozinha não faz o menor sentido."

Referência para outras mulheres arquitetas

Nádia Somekh, presidenta do CAU/BR e a primeira mulher a assumir o cargo, também demostrou emoção ao falar sobre a jornada dela e de como ela está ligada com a de outras mulheres. Ao sentar em frente à plateia, ela frisou a importância de que homens e mulheres tenham consciência da causa feminista.

"Quando eu tinha 15 anos eu queria ser juíza de futebol, eu não sabia que era feminista. Eu queria compartilhar o espaço com os homens e não atribuía isso ao feminismo. Eu acho que a gente não tem consciência de que a gente é feminista. Eu não tinha", relembrou. 

FORTALEZA, CEARÁ, 04-03-2023: Ciclo de debates organizados pela CAU, com presença da primeira presidente da CAU Brasil, Nádia Somehk.  (Foto: Fernanda Barros/ O Povo).
FORTALEZA, CEARÁ, 04-03-2023: Ciclo de debates organizados pela CAU, com presença da primeira presidente da CAU Brasil, Nádia Somehk. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo). (Foto: FERNANDA BARROS)

A gestora ainda contou como foi difícil disputar o cargo, confessando que chegou a ser desmotivada por um amigo que a mandou desistir pois ela "iria perder". O resultado disso foi que, contrariando o machismo na fala do colega, ela venceu, e hoje é referência para diversas meninas arquitetas pelo Brasil.

Entre elas está Leane Leandro, 23, estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC). Pela primeira vez no evento, ela se mostrou feliz por estar ao lado de nomes como Cláudia e Nádia.

"Ter essas mulheres representando esses lugares mostra que a gente tem esses espaços, que a gente pode chegar também. É o inicio de uma batalha que a gente está traçando", pontua a jovem.

Morgana Batista, 32, já atua na profissão e também se mostrou empolgada com o evento. "Acho que faltava mais essas ações do CAU para a gente ver como é a realidade em Fortaleza, no Brasil, e proporcionar mais ações que envolvam a mulher na Arquitetura e Urbanismo mesmo, na Cidade", destaca.

FORTALEZA, CEARÁ, 04-03-2023: Ciclo de debates organizados pela CAU, com presença da primeira presidente da CAU Brasil, Nádia Somehk.  (Foto: Fernanda Barros/ O Povo).
FORTALEZA, CEARÁ, 04-03-2023: Ciclo de debates organizados pela CAU, com presença da primeira presidente da CAU Brasil, Nádia Somehk. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo). (Foto: FERNANDA BARROS)

A jovem também frisou como era importante ter a presença das representantes. Atentas durante a palestra, a profissional e a estudante ouviram a presidenta falar sobre as barreiras na gestão.

"Não é fácil estar em um cargo de liderança usualmente masculina como mulher. Mas não vou me fazer de vítima, eu estou conseguindo muita coisa. É difícil alguns homens aceitarem a liderança feminina. Eu me sinto um vaso de flor, porque (homens) acham que têm que me dar lugar... não, gente, eu estou compartilhando", destacou Nádia Somekh.

Ela ainda pontuou que uma pesquisa do CAC mostra que 65% dos arquitetos no Brasil são mulheres, mas que isso não era um "caso de guerra", e sim "de compartilhamento".

Com a voz embargada pelas lembranças da trajetória e a consciência do que representa, ela vislumbrou ainda um futuro mais igualitário dentro da profissão e justificou a emoção dizendo: "A voz treme, mas não pode ser calada".

Confira fotos do encontro:

 

 

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Mulheres Cidade e Arquitetura Fortaleza evento arquitetura mulheres mulheres arquitetura representatividade feminina

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar