Ônibus de Fortaleza: passageiros relatam transtornos com catracas altas

Dispositivo de segurança diminuiu cerca de 70% dos pulos de catraca, segundo Sindiônibus. 877 coletivos já receberam equipamento que aumenta altura da roleta

Cerca de 70% da frota dos ônibus de Fortaleza, o que equivale a 877 coletivos, receberam um dispositivo de segurança de 40 centímetros em cima da catraca. O equipamento que aumenta a altura da roleta, de acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), serve para coibir a prática de pular a catraca para não pagar a passagem. No entanto, passageiros reclamam da barreira por dificultar a mobilidade dentro do ônibus.

A aposentada Ana Rosa Lima Feitosa, 65, não aprova a mudança. “Eu não gostei. É ruim de passar, aquela mais baixa era melhor. Geralmente a bolsa fica presa”, afirma a passageira da linha 816 - Edson Queiroz/Centro. Rosa ainda relata que viu uma pessoa gorda constrangida por precisar passar “se espremendo” pela catraca em uma das linhas que pegou na quarta-feira, 1º.

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“É seguro porque a pessoa não tem como pular, às vezes. Mas é difícil atravessar pagando a passagem”, diz a esteticista Raíssa Dantas, 20. Ela é passageira das linhas 79 - Antônio Bezerra/Náutico e 76 - Conjunto Ceará/Aldeota. No entanto, Raíssa afirma que se adaptou ao novo modelo de roleta.

Para o estudante Natanael Costa, 27, que também pega a linha Conjunto Ceará/Aldeota, a catraca alta atrapalha quem anda de mochila. “Eu tiro a mochila, passo primeiro ela por cima para depois passar. É muito ruim. Pode solucionar parcialmente [os pulos], mas eu acredito que essa não seja a medida mais eficaz, porque gera outro problema para os passageiros”, opina.

FORTALEZA, CE, BRASIL,01.03.2023: Catracas-duplas, mais altas, nos ônibus atrapalham usuários.
FORTALEZA, CE, BRASIL,01.03.2023: Catracas-duplas, mais altas, nos ônibus atrapalham usuários. (Foto: FABIO LIMA)

Dispositivo de segurança inibe quase 70% dos pulos, segundo Sindiônibus

Segundo o gerente de operações do Sindiônibus, João Luís Maciel, as empresas responsáveis pelo transporte na Capital conduziram um estudo em maio de 2022 para quantificar as perdas de receita que são consequências do não pagamento de passagens. Foram observadas as quantidades de pessoas que pulam catracas em 492 ônibus.

“Só nesse universo de 492 ônibus, registramos 1.157 eventos de pulo de catraca em um dia. Se projetarmos isso para a frota toda, estimamos que diariamente haveria uma evasão de receita em torno de R$ 321 mil por dia, chegando à casa de R$ 3,8 milhões por mês”, afirma o gerente. Por isso, um dispositivo que aumentava a altura da catraca começou a ser testado.

Primeiro foi colocado em 11 coletivos um aumento de 20 centímetros na roleta. No entanto, essa altura não foi suficiente para coibir os pulos. “Houve clientes que questionaram que isso gerava dificuldade caso quisessem passar com caixa, sacola, coisas assim. E aí voltamos a estudar e decidimos fazer outro piloto, com 40 cm. Nesse, observamos a redução de 67% dos pulos de catraca [comparado a outro ônibus da mesma linha sem o dispositivo].”

João afirma que o dispositivo de 40 centímetros cria um vão de 50 centímetros de largura no meio da catraca, o que seria suficiente para o passageiro passar o que carrega. Desde julho de 2022, o dispositivo é instalado gradativamente nos coletivos.

O equipamento deve ser instalado em todos os 1.169 ônibus da frota, mas o sindicato ainda não tem previsão de quando atingirá 100% das catracas. “Ultimamente, temos colocado alguns sob demanda dos próprios usuários ou motoristas. Nosso serviço passa por um momento dramático em termos de crise econômica e financiamento. Até para colocar um dispositivo que, em tese, vai diminuir nosso prejuízo, estamos fazendo lentamente”, afirma.

Sindiônibus afirma que reclamações são exceção

Para João Luiz, gerente de operações do Sindiônibus, os casos de pessoas com mochilas, sacolas, caixas, pessoas gordas ou com qualquer outro tipo de dificuldade podem ser resolvidos de outra forma. Ele afirma que pessoas obesas podem entrar pela porta central do ônibus ou pela frente, assim como idosos. Pessoas com caixas e sacolas podem pedir ao motorista para sair pela frente do coletivo, pagando a passagem e rodando a catraca.

“Os motoristas são instruídos para oferecer a melhor condição para o passageiro. Esses casos são exceções. Hoje transportamos 200 mil, 300 mil pessoas por dia. O instrumento traz benefício para todos. Se eu não arrecadar, a passagem fica mais cara para os que pagam. A exceção a gente trata como exceção”, diz o gerente.

“É claro que a população acha que não é da sua preocupação a evasão de receita. Se ela está andando no ônibus e metade das pessoas não estão pagando, ela acha que isso não tem impacto para ela e, na verdade vai ter; se não agora, no futuro”, diz João Luiz.

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