Comunidade do Gengibre: 10 dias após incêndio, moradores continuam desabrigados

Incêndio de barracos foi pelo menos o segundo registrado na comunidade. A primeira vez aconteceu no dia 8 de janeiro de 2022, quando 14 barracos foram destruídos

14:53 | Mar. 01, 2023

Por: Gabriel Damasceno
Comunidade do Gengibre, no bairro Cidade 2000, após incêndio que destruiu barracos (foto: FÁBIO LIMA)

As famílias da Comunidade do Gengibre afetadas por um incêndio que destruiu parte das moradias do local, no dia 19 de fevereiro, continuam desabrigadas após 10 dias desde o ocorrido. A ocupação, que abriga 47 famílias, está localizada no bairro da Cidade 2000, em Fortaleza, e existe desde 2019.

De acordo com Carlos Davi, 29, o incêndio começou às 4 horas da manhã, e todo mundo estava dormindo. "Só acordamos por causa de um rapaz que saiu avisando a gente. Aí um foi chamando o outro. Se ninguém tivesse feito isso, todo mundo tinha morrido queimado."

Ele vivia com mais cinco pessoas em no barraco: a esposa e os três filhos. O local foi completamente destruído pelo fogo, e os animais que moravam com ele morreram no incêndio.

Outra pessoa que perdeu tudo foi Mikaela Alexandre, de 23 anos. Ela não estava na comunidade no momento em que o incêndio aconteceu. “Acordei com uma ligação da minha mãe: ‘Mikaela, seu barraco pegou fogo, não sobrou nada’. Quando cheguei, só tinha o terreno limpo e seco. Agora estou aqui com um menino de cinco meses doente, com pneumonia.”

Brena Kessia, 29, explica que algumas pessoas são donas de mais de uma moradia. Antes do caso, elas eram emprestadas para outras pessoas, mas, por conta do incêndio, “quem emprestou os barracos está pedindo de volta, e o povo está indo para a rua”.

Esta é pelo menos a segunda vez que a comunidade foi atingida por um incêndio. A primeira vez, de acordo com Brena, aconteceu no dia 8 de janeiro de 2022, quando 14 barracos foram destruídos.

 


Comunidade do Gengibre: reconstrução das moradias

Luís Oliveira, 43, é um dos moradores que estão trabalhando na reconstrução das moradias destruídas. Ele também teve a habitação destruída e, no momento, vive em um outro barraco que lhe foi emprestado. “Eu sei que isso daqui não vai melhorar de hoje para amanhã, vai durar mais um pouco. Mas o que eu puder fazer para ajudar minha família eu vou fazer”, diz.

“Desde criança eu sei que, do céu só cai chuva, raio e, de vez em quando, um avião. Se eu não correr atrás dos meus ideais, não vai ser o povo de fora que vai lutar por nós”, complementa.

Os moradores estão usando restos de guarda-roupas e outros móveis para levantar os barracos, mas, durante o período de chuva, esses materiais acabam se desgastando rapidamente. “Enquanto a gente não tem para onde ir, eu só queria uns materiais para levantar meu barraco, porque a qualquer momento podem pedir [a habitação emprestada] de volta”, diz Carlos Davi.

O bairro da Cidade 2000, onde a comunidade está localizada, é uma das regiões nobres da Cidade. Apesar da desigualdade de renda, Luís diz que “esse pessoal, no caso, está sendo muito solidário com a gente”.

 

 

Comunidade do Gengibre pede auxílio do poder público

“A Prefeitura veio e prometeu uma semana de quentinha e água para o povo. Mas a gente quer é moradia, porque eles estão na rua. Tem idosos e crianças, tudo na rua”, diz Brena Kessia.

Muitos moradores se queixaram da falta de assistência da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Habitacional (Habitafor), na manhã desta quarta-feira, 1º. Em nota, a pasta informou estar fazendo análises cadastrais das famílias e estudar a possibilidade de incluí-las no Programa Locação Social.

A Habitafor ainda diz que, em outubro de 2020, 125 famílias da comunidade foram beneficiadas com apartamentos no residencial Alto da Paz, no Vicente Pinzón. “Na ocasião, todas as famílias que viviam em condições precárias e vulneráveis a processo de alagamento foram removidas do local”, aponta a nota.

A Defesa Civil de Fortaleza visitou o local e fez a entrega de cestas básicas, mantas, redes e lonas plásticas, que estão sendo usadas nas habitações como proteção contra a chuva.

Equipes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) e do Cadastro de Referência da Assistência Social (Cras) também estiveram no local.

Atualizada às 18 horas