Após Carnaval, mutirão recolhe lixo em área de desova de tartarugas na Praia do Futuro

Época da folia é também período reprodutivo das tartarugas e resíduos se tornam obstáculos para desova. Em apenas uma hora, voluntários retiraram mais de 30kg de lixo da areia, entre canudos de plástico, bitucas de cigarro, camisinhas e até capacete

22:27 | Fev. 25, 2023

Por: Karyne Lane
FORTALEZA, CE, BRASIL,25.02.2023: Ação de limpeza na praia do Futuro. (foto: FÁBIO LIMA)

Depois de toda a folia do Carnaval, muitos resíduos são gerados e vão parar nas areias e águas ao longo da orla de Fortaleza. Mas não é apenas a paisagem que acaba afetada pela falta de consciência ecológica de boa parte dos foliões.

Em alguns trechos da Praia do Futuro, que está imprópria para banho, a quantidade de lixo tem prejudicado o processo de desova das tartarugas marinhas, cuja temporada reprodutiva acontece no primeiro semestre do ano.

Para diminuir a concentração de detritos na área, um mutirão de limpeza mobilizou cerca de 20 voluntários na tarde deste sábado, 25, em uma ação organizada pela Mata Branca Jr., empresa júnior vinculada ao curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Ceará (UFC).

 

 

Durante a atividade, que durou pouco mais de uma hora, foram recolhidos mais de 30kg de resíduos.

Além da quantidade exorbitante de canudos, garrafas e sacolas de plástico, também foram encontrados bitucas de cigarro, isqueiros, vapers, embalagens de perfume e de produtos de higiene como xampu, escovas de dente, brinquedos infantis e outros tipos de materiais. Entre os objetos, um ventilador e um capacete de moto foram os mais inusitados.

Também chamou a atenção do grupo o grande volume de canudos de plástico, mesmo após a instituição de leis a nível municipal e estadual que proíbem o uso deles em estabelecimentos comerciais, bares, quiosques, padarias, barracas de praia, hotéis, restaurantes e lanchonetes.

O material, que geralmente é usado em poucos minutos no consumo de bebidas como água de coco, refrigerante e cerveja, leva pelo menos 450 anos para se decompor e é uma grande ameaça à fauna marinha, já que os animais podem confundir o canudinho com alimento ou ficar com ele preso em alguma parte do corpo.

 

 

“Infelizmente não dá para recolher tudo, mas o que dá já faz uma grande diferença, e as pessoas costumam ajudar, em especial as crianças, o que também é muito positivo porque ajuda na conscientização”, afirma Maiara Maia, diretora da EJ.

A voluntária, que é estudante de Ciências Biológicas, explica que no Ceará existem três espécies de tartarugas mais recorrentes, Tartaruga-de-Pente (Eretmochelys imbricata), Tartaruga-Cabeçuda (Caretta caretta) e Tartaruga-Verde (Chelonia mydas), e a postura e construção dos ninhos por esses animais duram todo o primeiro semestre do ano.

Nessa temporada, as tartarugas marinhas sofrem diversos percalços, principalmente causados pela ação humana, como a poluição e o intenso tráfego de veículos. As marcas de carro, mostra ela, formam ondas na areia que também atrapalham na hora dos filhotes irem de volta para a água.

 

 

Para ajudar na proteção, barraqueiros ou salva-vidas avisam quando há um ninho e projetos como o Instituto Verde Luz colocam uma sinalização. A partir de então, é feito um monitoramento durante 45 a 60 dias, tempo que leva para os ovos eclodirem.

“Elas sobem o suficiente para a maré não varrer o ninho, então tanto elas vão ter contato com o lixo, podem ter problemas e não conseguir colocar os ovos, como também quando os filhotes nascerem eles vão ter que passar por tudo isso até chegar no mar”, destaca.

 

 

 

Para o participante Ícaro Maia, 11, a ação serve de alerta para mostrar à população a importância de descartar o lixo de forma correta para evitar a poluição dos mares e a morte dos animais. “Todos gostam de curtir a praia e ver ela limpa, se divertir e voltar para casa, mas para os animais aqui é o único lar”, expressa.

Consciência que também já existe na cabeça das crianças que integram o Instituto Educa Surf Social, uma organização sem fins lucrativos que atua com a comunidade da região. A poucos metros dali, os pequenos se reuniram para recolher palitos de picolé, descartados em grande quantidade na faixa de areia, para a confecção de luminárias artesanais.

 

 

Conforme explica o professor de Artes, Junior Tintanaprancha, a atividade faz parte do trabalho desenvolvido pelo projeto com as crianças da comunidade, que também recebem aulas lúdicas, de surfe, estudos bíblicos e outras aprendizagens, e os objetos serão disponibilizados para venda na página do instituto.

"O surfe e as brincadeiras são só a isca. O projeto muda a cabeça deles e traz toda uma formação social", pontua.

Temporada reprodutiva das tartarugas marinhas no Ceará: cuidados

 

Por esses e alguns outros motivos, as espécies de tartaruga marinha estão sofrendo perigo de extinção. Para reverter esse cenário, além de não jogar lixo no mar, algumas atitudes podem ser tomadas, como:

  • Caso veja uma tartaruga marinha encalhada ou desovando, garanta primeiramente a sua segurança, pois mordidas e garras são perigosas, e tente ao máximo isolar a área, não causando desconforto ao animal;
  • Tire foto e pegue as coordenadas do local, em seguida contate alguma das instituições especializadas da sua região, como o Instituto Verde Luz (85 99690-1269) e o projeto Interpesca UFC (85 3366-9160) ou pelo aplicativo Tartarugando, que permite registrar ocorrências e também informa quando há limpeza de praia ou ações, além de funcionalidades como tábua de marés e calendários solar e lunar.