Missa de Quarta-feira de Cinzas: igrejas católicas reúnem fiéis em Fortaleza

Paróquias de Fortaleza registram grande quantidade de fiéis para Missa de Cinzas, que marca o começo da Quaresma

Penitência, devoção e esperança marcaram o fim do período carnavalesco com a Missa da Quarta-feira de Cinzas, celebrada, neste ano, em 22 de fevereiro. Em Fortaleza, as igrejas católicas tiveram a presença de fiéis que pediam por um ciclo de renovação da fé e perdão a Deus pelos “pecados da carne”.

O padre da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Gilson Soares, explica que a Missa da Quarta-feira de Cinzas dá início ao tempo da Quaresma que remete ao número 40 — número de dias de caminhada para a Páscoa. Sobre a origem da cerimônia das Cinzas, ele fala que trata-se de um ato sacramental, propagado por São Francisco. “Hoje, quando se colocam as cinzas, lembramos que viemos do pó e ao pó haveremos de voltar por ocasião da nossa morte”, salienta.

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Na Paróquia Nossa Senhora da Paz, no bairro Aldeota, mesmo com as chuvas da manhã desta quarta-feira, 22, compareceram à primeira celebração da Santa Missa cerca de 800 pessoas. Uma delas foi a professora Ana Coelho, de 66 anos, que conta participar do momento há 15 anos.

“Sou católica por nascimento, mas me tornei mais depois de me tornar adulta. Gosto de frequentar a missa, de ouvir a fala do padre, que não é só cristã, mas também é social. Acho lindo quando a celebração fala sobre a esmola, que não é o que me sobra, é tirar e partilhar o que eu tenho. Combina com a minha forma de entender a fé”, diz a professora.

Ana relata ainda ter se aproximado ainda mais da Igreja Católica após a filha descobrir um câncer de mama em 2019, aos 40 anos. “Eu já tinha uma crença familiar, agora estou construindo a minha própria ligação com a religião. Minha filha teve câncer cinco anos atrás, já está curada. De certa forma, me aproximou mais da Igreja. Mas nem gosto disso, para mim, a religiosidade não pode ser a partir de uma dor. É um sentimento que eu gosto de cultivar não porque sofri, mas não nego que me trouxe para perto”, conta.

Ela herdou a fé católica da falecida mãe, que era muito presente na Igreja. Agora, a professora traça os próprios caminhos na religião e redescobre, com a Missa de Cinzas, a esperança nos novos ciclos.

“Eu estou compreendendo aos poucos. Foi um ritual que fez a renovação do meu caminho. Gosto da religiosidade quando ela não é protagonista impositiva, mas quando ela me complementa”, afirma Ana.

Ainda pensando na herança do catolicismo, muitas famílias levaram crianças para participar da Missa de Cinzas. A família formada pelo casal André, Rebeca Ximenes e os dois filhos, Arthur (1 ano e cinco meses) e José Augusto (três meses), também compareceram à Paróquia da Paz para participar da celebração. Os pais entendem que levar os filhos para a Igreja é como a construção de um hábito.

"Eles estão sempre com a gente na Igreja. Para nós, é fundamental, porque é uma construção de hábito. Acreditamos que se desde pequenininhos acostumarmos eles a participarem e falar da importância da fé, quando eles forem adolescentes vão seguir pelo caminho da fé", diz Rebeca.

Após o Carnaval, turismo religioso movimenta Catedral de Fortaleza

De passagem pela Capital cearense durante o feriadão de Carnaval, a Catedral de Fortaleza também registrou grande quantidade de pessoas, em especial, pessoas vindas de outros estados do Brasil, no início da tarde desta quarta, 22.

A família da fisioterapeuta Rafaela Castro, de 26 anos, veio de Campina Grande, na Paraíba, para aproveitar a folia carnavalesca com a família fortalezense. Enquanto católicos, ela, os pais, o namorado e o cunhado têm o costume de viajar para diversos destinos do País e sempre buscam incluir no roteiro da viagem as catedrais.

“Gostamos muito de viajar em família e damos um jeitinho de incluir as grandes igrejas de onde passamos, porque conta muito sobre a história e a arquitetura de cada cidade. O que, para mim, chama a atenção aqui na Catedral de Fortaleza é que ela fica bem no meio do turbilhão de coisas acontecendo no Centro da Cidade. É uma característica muito diferente de tudo o que vimos nas demais e remete muito a um local de paz, um refúgio de fé”, destaca a fisioterapeuta.

Rafaela conta ainda que ela e a família aderem às penitências e ao jejum no período da Quaresma. “Não comemos carne vermelha às sextas e fazemos jejum de doces e alimentos que gostamos, levando em conta que é um momento de reflexão. Nem sempre é possível seguir direitinho, mas buscamos dar o nosso melhor para isso”, pontua.

Com a penitência, o padre Gilson Soares destaca que a Igreja orienta a guardar a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa, mas há quem prefira se abster ao longo de todas as sextas-feiras até a Semana Santa. “Abster-se significa algo que você pode deixar de fazer ou deixar de se alimentar em benefício do outro que está precisando mais do que você”, explica o pároco.

Na porta da Catedral, Maria Socorro, de 65 anos, juntava moedas dadas pelos católicos que frequentaram a Santa Missa de Cinzas às 12 horas de hoje. Segundo ela, apesar de ser um momento de solidariedade, poucas pessoas chegam para oferecer ajuda.

Órfã desde a infância, Socorro trabalhou durante toda a vida como empregada doméstica. Sem conseguir mais serviços por conta da idade, ela pede ajuda há três anos para pagar o aluguel após o filho ser despejado do serviço.

“A situação ficou cada vez mais difícil nos últimos anos. Por conta da doença [Covid-19], meu filho foi demitido e ficou desempregado. Para mim, é melhor pedir ajuda do que fazer aquilo que é errado. Mesmo com poucas pessoas olhando para a minha situação e não dando ajuda, para mim, a igreja é um ambiente de paz. Me sinto melhor aqui, faço minhas orações e tento continuar forte para seguir com fé em Deus”, conclui.

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