Baile à Fantasia do Zé: festa abre Carnaval em Fortaleza

Evento ocorreu no Theatro José de Alencar e reuniu um público diverso, celebrando a volta da alegria carnavalesca

22:58 | Fev. 17, 2023

Por: Gabriela Almeida
FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 17.02.23: Carnaval do Theatro José de Alencar, apresentação do Bloco Manmbembe (Foto: Aurelio Alves) (foto: AURÉLIO ALVES)

Rostos escondidos em máscaras e corpos vestidos de fantasias das mais diversas. É dessa forma que se encontravam os foliões do Baile à Fantasia do Zé, tradicional festejo do Theatro José de Alencar que ocorreu nesta sexta-feira, 17. Depois de dois anos sem acontecer por conta da pandemia, festividade abriu o Carnaval em Fortaleza e atraiu um público diverso— celebrando a volta da alegria carnavalesca. 

Evento teve início ainda no fim da tarde, quando a Associação Cultural e Educacional Afro Brasileira Maracatu Nação Iracema se apresentou do lado de fora do equipamento. Pedro Domingues, diretor do Theatro, frisa que atração ocorreu buscando, dentre outros, atrair populares que passavam pelo local.

"Quanto mais o Theatro puder mostrar o patrimônio imaterial do Ceará, melhor para quem tá visitando, melhor para a população, melhor para o Theatro. O maracatu como símbolo cearense tem uma pegada mais solene (...) E essa tradição tá no imaginário da população de Fortaleza", destaca o gestor.

A ideia de chamar a atenção com a atração funcionou. Enquanto o Maracatu Nação Iracema se apresentava, trazendo ritos do ritmo afro-brasileiro, passantes paravam para prestigiar. Um deles foi o comerciante Francisco Iran, 48, que estava saindo do trabalho e resolveu parar para assistir o evento. "Muita gente não conhece (o maracatu) eu gosto, acho bem interessante", pontuou. 

Crianças chegaram a se aglomerar em volta dos integrantes, encantadas com os homens de rostos pintados de preto e de roupas amareladas. "Olha, a cara dele é preta, tu também é preto", chegou a cochichar um garoto para um colega que o acompanhava, maravilhado com a semelhança representada.

Logo após a atração, teve início o baile de fantasia, que ocorreu dentro do equipamento. De acordo com Pedro, essa é a primeira vez que o evento, que está em seu quinto ano, acontece no Carnaval e não no período chamado de pré-Carnaval. Expectativa era de que mil pessoas marcassem presença na festa. 

Fantasias criativas roubaram a cena

Entre as atrações do festejo estavam o Bloco Mambembe e os Transnacionais, mas o que roubou a cena foram as fantasias dos foliões. Em busca de se divertirem ou de concorrerem ao concurso de melhor fantasia, promovido na festa, os participantes do evento não economizaram na criatividade e na diversão.

Rubens Morais, 29, por exemplo, foi fantasiado de "patriota do caminhão", fantasia que faz alusão ao bolsonarista que viajou pendurado em um veículo de carga durante manifestações no ano passado. Já a namorada do jovem foi fantasiada de "comunismo", dando um brilho ainda mais criativo as duas fantasias. O casal, que sempre curte Carnaval junto, chamou a atenção por onde passou.

"Pra mim é uma felicidade muito grande poder voltar a curtir o Carnaval (...) Pra mim é muito emocionante também, porque a gente sabe que passou por um período muito problemático, pra dizer o mínimo, milhares de pessoas morreram nesse processa (da pandemia). Mas poder festejar também a vida, poder festejar o momento em que a gente possa pensar em um futuro melhor...acho que o Carnaval também representa isso", destaca Rubens.

Já para o folião Gerardo Pessoa, 60, o critério para a escolha da fantasia foi utilizar roupas que conseguia emprestado dos amigos. "Reciclando" as vestimentas, ele conseguiu se destacar em meio ao público, usando um chifre de veado na cabeça e uma maquiagem vermelha no rosto. "É a segunda vez que venho, adoro (...) É uma coisa maravilhosa, todo mundo tava precisando de uma alegria dessa", pontua.

A vontade de ser criativo era tão grande que teve até quem "incorporasse" o personagem. Cristal Tobias, 66, veio vestida de gueixa, símbolo cultural do Japão, e chegou cumprimentando a todos que via pelo caminho curvando a cabeça e falando "arigato", palavra japonesa que quer dizer "obrigada".

"Estou amando o Carnaval de Fortaleza, é muito maravilhoso. Adoro o Carnaval desde criança e eu me atiro nessas coisas, achei o máximo. Depois de uma pandemia dessas é tudo que nós merecemos, um bom carnaval, alegria, felicidade, todo mundo sorrindo, todo mundo brincando", destaca a turista, que veio de Belém para curtir a Cidade. 

Deydianne Piaf (Denis Lacerda), artista que faz parte do bloco mambembe e que fez a cerimônia da festa, destacou que a festa é um das únicas tradicionais em Fortaleza onde as pessoas realmente vão fantasiadas. " (É importante) ocupar o Theatro José de Alencar, o espaço histórico, o patrimônio da cultura cearense. E a gente abrir o carnaval com a nossa arte, alegria e cultura e com os artistas locais, que é o mais interessante, que bom", pontua ainda.

Por volta das 20 horas a festa ainda tinha entorno de 200 foliões, mas estava programada para acontecer até a madrugada. Ainda assim, o público presente se divertia no espaço, rodeado de barraquinhas de comida e bebida, como se estivesse em meio a uma multidão, todos vestidos de alegria.