Parque da Lagoa do Opaia: moradores reclamam do acúmulo de lixo

Localizado no bairro Aeroporto, Parque da Lagoa do Opaia começou a ser reformado pela Prefeitura de Fortaleza após a assinatura da Ordem de Serviço feita na última segunda-feira

11:56 | Jan. 30, 2023

Por: Levi Aguiar
Parque da Lagoa do Opaia: moradores reclamam do acúmulo de lixo (foto: FÁBIO LIMA)

O Parque Urbano da Lagoa do Opaia, no bairro Aeroporto, começou a ser reformado pela Prefeitura de Fortaleza após assinatura da Ordem de Serviço na última segunda-feira, 16. A gestão estima que a obra deve durar 12 meses. No local, moradores se queixam da sujeira, ausência de iluminação noturna e falta de atenção da gestão pública. A Secretaria de Infraestrutura (Seinf) informou que a requalificação do local já está em andamento, com os primeiros trabalhos de campo. 

Passando de bicicleta pelo Parque, o pedreiro José Moreira, 55, conta que além de a área ser uma reserva ambiental, é um espaço de lazer para quem mora perto, por isso precisa da atenção e cuidado. "A reforma precisa atender à falta de iluminação e à limpeza contínua do local, incluindo a limpeza da Lagoa, que está muito suja", conta.

Quem também lamenta o descuido e falam da expectativa em relação às obras são os moradores Valdevino José, 65 e Francisco Estavam, 60. “A gente tem uma expectativa baixa para a conclusão desse serviço. A gestão municipal demora demais para entregar esse tipo de obra”, disse Valdevino.

O Parque conta com dois contêineres para receber o lixo dos moradores, mas apesar da presença das caixas de metais, o lixo se espalha pelo Parque. “Os moradores chegam aqui e jogam o lixo em qualquer canto. Todo mundo se queixava por causa do lixo. Está sujo, mas antes era muito pior. Pelo menos temos o Zezinho. Ele faz a limpeza do Parque de graça. Antes do Zezinho, era uma sujeira muito grande”, disse Francisco.

O Zezinho (José Ferreira), 54, é reciclador e voluntário para os cuidados com a limpeza do local. “Eu moro aqui perto e gosto de limpeza, por isso faço esse trabalho sem cobrar nada”, disse José.

A moradora Silvia Helena, 52, relembra que o Parque já teve dias melhores, por isso a reforma vem em boa hora. “Há três anos era melhor e frequentada. Pessoas de fora vinham para cá para ter lazer. Uma equipe de limpeza faz falta no local. Anos atrás, uns homens da Prefeitura vinham fazer a limpeza, mas pararam com essa nova gestão.”

O secretário da infraestrutura de Fortaleza, Samuel Dias, informou, no dia da assinatura da Ordem de Serviço, que a obra será realizada por etapas, para que não seja necessário isolar a lagoa inteira.

"Já existia uma urbanização muito antiga feita aqui, mas com o tempo foi ficando deteriorada e ela nunca foi completa. Agora, além de recuperar os espaços que já existiam, muitos novos equipamentos vão ser incluídos”, detalhou o secretário.

Questionada sobre a limpeza na área, a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) informa que executou o serviço neste mês e segue com a limpeza dos canais e lagoas da Capital, previstos no Plano Operacional da Quadra Chuvosa. "Somente de setembro a dezembro de 2022, mais de 370 mil toneladas de resíduos sólidos já foram retirados de recursos hídricos, como forma de minimizar os efeitos das chuvas", informou a pasta por meio de nota.

Parque da Lagoa do Opaia: obras

Ao término das obras, a Prefeitura pretende entregar o Parque com novos passeios em piso intertravado, ciclovias, rampas de acessibilidade, nova iluminação, nova sinalização e paisagismo, com o plantio de espécies arbóreas e arbustivas.

Em relação à prática esportiva, está planejada a entrega de uma quadra poliesportiva, quadra de vôlei de praia, campo de futebol em grama sintética, pista de corrida, academia para a terceira idade e de musculação, pista de skate e espaço para jogos de tabuleiros.

A gestão também pretende reforçar o local como um espaço de lazer e convivência através da instalação de caramanchões (construção utilizada em espaços públicos para efeitos de descanso), playground infantil, espaço para piqueniques, cachorródromo (uma área cercada onde os donos podem deixar seus animais brincarem com outros) e boxes Mulheres Empreendedoras.

O investimento da obra é de R$ 16,5 milhões, com recursos do Fortaleza Cidade Sustentável (FCS), via Banco Mundial.

Maquete eletrônica do projeto de requalificação do Parque

Parque da Lagoa do Opaia: história

O Parque Urbano da Lagoa do Opaia foi criado na década de 1980, situado próximo ao antigo Aeroporto de Fortaleza. O ecossistema da área guarda lembranças da época e conta uma parte da história do crescimento da Cidade.

Há mais de 50 anos, o local tem a existência atrelada à poluição na Lagoa e tentativas de urbanização visando à valorização de um potencial polo de lazer na Capital.

Ao longo das últimas décadas, além da discussão sobre a preservação de espaços verdes, os moradores locais se mobilizaram em torno de pautas referentes a reivindicações de moradia; queixas sobre falta de iluminação, limpeza, segurança e até mesmo um surto de cólera, em 1993.

Em seu trabalho sobre a renovação do núcleo urbano do antigo Aeroporto de Fortaleza, o arquiteto Bruno Mapurunga explica que a Lagoa do Opaia é um elemento que teve grande importância na construção do território.

“Além de facilitar a manutenção dos sítios da região, ela também passou a viabilizar o sustento de várias pessoas, como pescadoras ou lavadeiras. Com isso, o entorno da Lagoa foi sendo progressivamente ocupado, assim como ocorreu na maioria dos corpos hídricos de Fortaleza.”

O arquiteto explica que o Polo de Lazer poderia ser entendido como um parque público feito para a escala de comunidade do entorno e proximidades, mas no contexto de excepcionalidade do Aeroporto, o local passou a ser visitado por pessoas de toda a Cidade.

“Ao acompanhar a partida ou esperar a chegada dos familiares e amigos, muitos encontravam no núcleo formado pela Praça do Vaqueiro e pelo Polo um programa de lazer.”

O pesquisador também lembra que na década de 1970 a comunidade que se formou na margem da Lagoa era conhecida como "Amazônia", refletindo o ainda relativo isolamento e a abundância de vegetação da época.

Conforme os arquivos de materiais produzidos pelo O POVO, no fim da década de 1970, a Lagoa e o entorno já estavam no terceiro projeto de paisagismo pela Prefeitura de Fortaleza. 

Em março de 1979, o prefeito Lúcio Alcântara tinha o objetivo de “humanizar” a relação dos fortalezenses com a Cidade, por isso planejava criar e recuperar parques municipais para intensificar o acesso ao lazer. Naquela época, a gestão implantava passeios, barracas, porto para pedalinhos e outros equipamentos.

Naquela época, as principais queixas dos moradores eram referentes à contaminação das águas do Opaia decorrente das lavagens de roupa e dos produtos de higiene despejados no local. Donos de equinos também banhavam seus bichos na Lagoa.

A urbanização promovida sobre o Parque e o aumento dos frequentadores acendeu um alerta sobre o futuro da qualidade da água da Lagoa. Apesar do receio de autoridades sanitárias, testes solicitados pela Empresa de Urbanização de Fortaleza mostraram que banho nas águas da Lagoa não oferecia risco à saúde das pessoas. Na ocasião, foi construída uma lavanderia e proibido o uso da água da Lagoa para limpeza de roupas.

Lagoa do Opaia: imprópria para banho

O primeiro registro de poluição generalizada no Parque da Lagoa do Opaia foi em novembro de 1984, através de uma iniciativa da Infraero que visava construir uma estação de tratamento de esgoto às margens da Lagoa.

Na época, a empresa pública, administrada pelo coronel Osório Cavalcante, precisou dar a garantia de que a construção não poluiria a Lagoa do Opaia. No mesmo ano da construção (1984), a Superintendência de Desenvolvimento do Ceará e a Secretaria Municipal de Saúde concluíram que a Infraero estava lançando dejetos poluidores na água.

Com o passar dos anos, as margens do pequeno lago estavam sendo tomadas por residências. A cada dia mais moradores ocupavam os espaços ao redor do Parque. “Embora a área seja de preservação ambiental, os moradores desconhecem as determinações do Código de Obras”, dizia uma matéria publicada em maio de 1990.

Em março de 1993, um contágio pela cólera levou a gestão da Cidade a interditar a Lagoa do Opaia. Apesar das advertências, a população continuava recorrendo às águas da lagoa para lavar roupa, pescar e se banhar. O Ministério da Saúde define a cólera como uma doença bacteriana infecciosa intestinal aguda, transmitida por contaminação fecal-oral direta ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados.

Com a impossibilidade de expandir o antigo Aeroporto, por causa das construções no entorno e por se tratar de uma área de preservação, a estrutura do local responsável pelos voos aéreos precisou mudar de endereço. Em fevereiro de 1990, ficou decidido que Fortaleza teria um novo terminal de passageiros, que estaria localizado em terreno do Ministério da Aeronáutica.

Décadas foram passando e os mesmos problemas perduraram: águas poluídas; descarte de lixo de maneira incorreta; insegurança e falta de iluminação. O que antes era um potencial para o lazer se tornava novamente abandonado.

“Há muito lixo na lagoa do Opaia. Mato alto, mau cheiro e muito lixo acumulado nas margens. A descrição é do cenário encontrado na Lagoa do Opaia, nas proximidades do antigo aeroporto Pinto Martins, mas também não é diferente do quadro encontrado em outras lagoas da Cidade”, dizia trecho de uma matéria de março de 2006.

Parque da Lagoa do Opaia: homenagens às vítimas das bombas atômicas do Japão

Uma outra curiosidade sobre a área é que nos anos de 2007 e 2014, no mês de agosto, fortalezenses realizaram um ato para lembrar as vítimas de ataque. O Projeto Lanternas da Paz reunia 350 velas no bairro Vila União, sendo promovido por entidades em homenagem às vítimas das bombas atômicas do Japão.

Matéria do O POVO descrevia que o evento Lanternas da Paz: "era uma homenagem feita por uma reunião de entidades, às vítimas das bombas atômicas lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, no fim da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945”.