Homem vira réu acusado de linchar suspeito de abusar sexualmente de criança
Francisco Fernando da Costa Viana confessou ter participando da sessão de espancamento, que contou com golpes de extintor de incêndio. Familiar da vítima diz que crime sexual foi inventado por traficantesA 2ª Vara do Júri aceitou nessa quarta-feira, 25, denúncia do Ministério Público Estadual (MPCE) contra um homem acusado de participar do linchamento que vitimou Wagner Sousa Ferreira, de 50 anos. O crime ocorreu em 18 de novembro último no bairro Floresta, em Fortaleza. Conforme a investigação da Polícia Civil, Wagner estava sendo acusado de um crime contra a dignidade sexual de uma criança.
No dia do linchamento, a Polícia apurou que pessoas reconheceram Wagner na rua e passaram a persegui-lo — incluindo Francisco Fernando da Costa Viana, de 24 anos, que virou réu nesta semana. Para tentar escapar, conforme a denúncia do MPCE, Wagner entrou em um supermercado. Barrados por funcionários, os linchadores deram a volta e entraram pelos fundos do estabelecimento.
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Já dentro do supermercado, eles conseguiram render Wagner e passaram a agredi-lo, com socos e chutes. As imagens das câmeras de vigilância mostram que até mesmo um extintor de incêndio foi usado para golpear Wagner. O vídeo também mostra um funcionário tentando evitar as agressões, mas não obtendo sucesso. Pela violência das imagens, O POVO opta por não divulgá-las na íntegra.
A Polícia Civil localizou uma familiar da criança que teria sido abusada por Wagner. Ela disse, em depoimento, que viu Wagner pela primeira vez cerca de três semanas antes do crime, quando ele se aproximou de uma das duas crianças que estavam com ela e mostrou o órgão genital. Ele ainda teria chamado a menina para “ir embora” com ele.
A criança relatou à fonte o ocorrido e, quando esta tentou tirar satisfação com Wagner, ele teria começado a xingá-la e agredi-la. De acordo com o MPCE, ele teria atirado uma moeda e uma garrafa de cachaça contra a familiar das crianças. Ela, então, saiu correndo com as duas crianças. “Wagner aparentava estar ‘muito doido’, disse ela à Polícia. Após esse episódio, Wagner, sempre que a encontrava, passava a xingá-la.
Apesar disso, um familiar de Wagner ouvido pela Polícia apresentou outra versão para a motivação do crime. Conforme ele, Wagner estava devendo dinheiro a traficantes, que teriam inventado a história do abuso como forma de fazer a população apoiar a morte dele. Um dia antes do crime, disse o parente, os agressores haviam ido até a casa de Wagner e a destruído toda, além de roubar alguns objetos.
Em depoimento, Francisco Fernando confessou o crime, afirmando que estava em sua casa quando viu pessoas correndo atrás de Wagner e resolveu se juntar aos agressores, “pois afirmou ter pensado em suas filhas”. Ele também disse que “por impulso” pegou o extintor e “bateu várias vezes nas costas da vítima”. Só à noite ele teria ficado sabendo que Wagner havia morrido, o que o fez ficar “desesperado”. No depoimento, ele ainda disse que estava arrependido.
Além de Francisco Fernando, que havia sido preso em flagrante, foram denunciadas pelo crime outras três pessoas. Porém, a Justiça ainda não aceitou a denúncia. Além disso, dois adolescentes foram autuados por suspeita de participarem do linchamento. Há ainda outras pessoas que teriam participado do crime a serem identificadas, aponta a Polícia.