Moradores do Jardim das Oliveiras denunciam emissão de gás em antiga estação da Cagece
Sema e Cagece negam a presença de gases tóxicos e a possibilidade de explosão no terreno. Corpo de Bombeiros já registrou pelo menos sete ocorrências de incêndios na área neste anoMoradores do Jardim das Oliveiras, no Conjunto Tasso, em Fortaleza, denunciam a presença constante de fogo e fumaça na antiga estação da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), desativada há um ano. Os membros da associação de moradores "O Cajado da Comunidade Cana" relatam risco de explosão na área após a desativação da estação da Cagece, situada entre as delimitações do Parque do Cocó e a Rua 3. Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) e Cagece negam a presença de gases tóxicos e a possibilidade de explosão.
Com as comemorações da virada do ano de 2022, os moradores do Conjunto Tasso contam que celebravam o período com queima de fogos de artifício e, em um determinado momento da festa, a pólvora em combustão entrou em contato com o solo da antiga estação. Um incêndio começou no local e a fumaça podia ser vista até a última quarta-feira, 11, de acordo com os relatos.
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Além das chamas, os moradores temem uma suposta instabilidade no terreno do local. “Nós cavamos um poço uma vez para colocar um poste, mas sentimos um chiado e um gás subindo e não botamos. Nós fomos à Cagece e disseram que se fizesse qualquer escavação aqui, poderia haver uma implosão”, disse Antônio de Souza, membro da Associação.
“A Cagece precisa fazer a limpeza deste solo. Isso era uma lagoa enorme. Toda sujeira de esgoto vinha pra cá. Quando desativaram a estação, eles deixaram esse material preto para cobrir a sujeira”, disse José Carlos Vieira Sales, presidente da Associação.
José também criticou os órgãos públicos por não permitirem a ocupação do espaço por parte da população. “Eles [órgãos públicos] dizem que a gente não pode ocupar este espaço para construirmos moradias e creches, porque esta é uma área ambiental. Se fosse área ambiental, a Cagece estaria ocupando durante décadas para colocar dejetos?”, questionou.
Na última quarta-feira, 11, O POVO esteve no local e observou a chegada de técnicos da Cagece. Questionada sobre a situação da antiga estação de tratamento, uma funcionária da Companhia informou que os profissionais estavam no terreno para concluir a elaboração de um procedimento de recuperação ambiental.
“Estamos colhendo informações sobre o terreno para realizar a recuperação do ambiente”, disse. A profissional não comentou sobre a presença de gases no terreno e preferiu não se identificar.
Sobre o incêndio, o Corpo de Bombeiros informou que o incêndio foi de pequena proporção e não apresentava risco direto a pessoas ou edificações próximas, como casas e estabelecimentos comerciais. “O incêndio ocorreu em terreno baldio que tinha muito lixo. O combate ocorreu dentro do esperado para esse tipo de incêndio”, informou a corporação através de nota.
“Entre o dia primeiro deste ano até agora atendemos sete ocorrências neste local. Todas foram devidamente concluídas. Não temos nenhuma informação relacionada a gases. A maior probabilidade da causa dessas ocorrências está relacionada à ação humana”, acrescenta o Corpo de Bombeiros.
Sema não aponta presença de gases tóxicos
A bióloga e gestora-adjunta do Parque do Cocó, Viviane Bezerra, informou que acompanha as comunidades diariamente no intuito de coibir diversas irregularidades no território, e que também esteve no local na última quarta-feira para avaliar a qualidade do solo do terreno.
Para ela, quando uma área está muito degradada é natural não haver vegetação. Porém, há capim no terreno. "Pela expertise que temos, aparentemente não se trata de gases no local", explicou.
“O fogo registrado nos últimos dias estava presente onde havia capim. Esse capim está interno no solo. Quando se ateia fogo na vegetação, a consequência é a presença daquele gás (que pode ser visto nas imagens). Não tem perigo de ter explosões. Ali não é área de lixão para ter gás metano. O fogo presente é culpa do homem”, detalhou Viviane.
De acordo com a bióloga da Sema, o material que está no território é composto por dejetos de tratamento que não tiveram a limpeza por parte da Cagece. “Quando você retira a parte preta, o solo está vermelho, de piçarra. A água da antiga estação de tratamento secou e ficou daquele jeito, não teve a devida raspagem.”
Viviane também lembra que a Cagece tem responsabilidade sobre a limpeza e revitalização da área. “A gente cobra da Cagece a revitalização do local. A partir do momento em que uma empresa ou companhia está licenciada para executar uma atividade como a operação de uma estação, ao desativar a unidade, ela precisa realizar ações de recuperação do ambiente”, ponderou.
Segundo a gestora, o lugar está situado às margens do Rio Cocó e pertence ao Estado. Porém, anteriormente foi cedido à Cagece para ser utilizado como subestação de tratamento. "Isso está previsto dentro da legislação para atender a comunidade local. A Sema ficou acompanhando junto à Semace as operações que aconteciam na lagoa que recebia o tratamento da Cagece."
Atualmente, o terreno pertence à Secretaria das Cidades do Ceará. "Ali é uma área protegida, enquanto Estado não podemos ceder para moradia. Só podemos ceder o espaço se for para atividades públicas", conclui.
"Não há incidência de nenhum tipo de gás na área"
A Cagece informou que na antiga estação de esgoto não há incidência de nenhum tipo de gás. "A Companhia informa que neste momento a estação de esgoto do local encontra-se desativada e que não há incidência de nenhum tipo de gás na área", informou por meio de nota.
Sobre a manutenção do local, a empresa diz realizar constantemente limpeza, assim como supressão da vegetação. "Cabe destacar que estão sendo adotados procedimentos legais pertinentes no sentido de elaborar e aprovar o plano de execução de recuperação da área, juntamente aos órgãos ambientais envolvidos”, completa a Cagece.
Semace
A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) é o órgão licenciador de atividades como a realizada pela Cagece durante o funcionamento da estação de tratamento. Por meio de nota, o órgão informou que o Corpo de Bombeiros precisa relatar a situação encontrada para os órgãos ambientais de fiscalização para que haja uma avaliação técnica do terreno.
“Desse modo, podemos avaliar com mais critério a competência e saber quem deve adotar as providências", informa.
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