Espaço para lazer, leitura e devoção; conheço canteiro da Dona Abigail, em Cajazeiras
No local, a aposentada instalou bancos para incentivar a ocupação do ambiente; cuidado com o verde; capinação; reaproveitamento de resíduos sólidos e instalação de geladeiras literárias, para incentivar a doação e adoção de livrosCom uma trajetória baseada no cuidado e no protagonismo cidadão, a aposentada Abigail Marques, 76, mantém uma estrutura de lazer, leitura e devoção há quase dez anos, no canteiro da avenida Deputado Paulino Rocha, no bairro Cajazeiras. No local, a aposentada instalou bancos para incentivar a ocupação do ambiente; cuidado com o verde; capinação; reaproveitamento de resíduos sólidos e instalação de geladeiras literárias, para incentivar a doação e adoção de livros. Entretanto, a idosa lamenta os casos de roubos, ataques e depredações contra os canteiros.
Há pelo menos sete anos, ela pertence ao programa de Adoção de Praças e Áreas Verdes. O programa funciona por meio de uma parceria entre a comunidade e o poder público municipal, auxiliando na urbanização e manutenção das praças públicas, parques, canteiros e jardins, bem como a sensibilização dos munícipes, no sentido de desenvolver hábitos preservacionistas.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
A aposentada contou que a motivação para cuidar do local veio do desejo de fazer o bem e ter uma ocupação nos anos de aposentadoria. “Antigamente, eu era muito triste. A solução para ter mais ânimo foi me integrar ao espaço onde eu morava. Uma vez, uma moça levou dois livros da geladeira. Ela ia fazer vestibular. Depois do vestibular, com a aprovação no teste, ela voltou para me agradecer pelos livros. Poder ajudar alguém é um prazer imenso”, comentou.
Os que transitam por aquele espaço também encontram as imagens do Cristo Redentor, Coração de Jesus e Nossa Senhora das Graças. Dona Abigail é católica, e disse que o cuidado com o canteiro é também uma forma de retribuir os milagres feitos por Jesus Cristo e Nossa Senhora, em sua vida.
Nascida no interior do Ceará, em 1946, ela veio para Fortaleza aos 20 anos e começou a trabalhar como camelô na Praia de Iracema. “Durante a gestão da prefeita Maria Luíza Fontenele (PT), os camelôs do ponto onde eu trabalhava foram impedidos de continuar com as vendas, por isso eu resolvi alugar um ponto aqui. Montei meu depósito de construção, comecei a trabalhar com vendas e consegui dinheiro.”
Para montar o depósito, ela comprou todos os materiais fiado - forma de pagamento a prazo. O dia de pagar chegou e ela não tinha como quitar a dívida. Pelo menos até um dia antes da cobrança. “Naquele momento eu me vali de Jesus Cristo e Nossa Senhora. Eu passei a noite toda orando e pedi suporte a eles.”
“Quando eu acordei e vim trabalhar, um milagre estava sendo operado. Era cheio de gente comprando: areia, tijolos e cimentos. Foi muita venda naquela manhã. Já no período da tarde, eu tinha o dinheiro necessário para quitar a dívida”, conta a mulher emocionada.
Roubos, ataques e depredações
Atualmente, Dona Abigail mora em outro bairro, mas faz questão de ir para Cajazeiras todos os dias para cuidar do local. Durante os primeiros seis meses de pandemia de Covid-19, alguns dos projetos iniciados no local ficaram para trás, como o das geladeiras literárias, que serviam de suporte para guardar livros para o consumo de todos que tivessem interesse nas obras ali guardadas. “Com a pandemia, todas as geladeiras sumiram”, lamentou.
Mesmo com a fiscalização constante da aposentada, os descuidos por parte dos que passam pelo local não cessaram. “Infelizmente, ataques e depredações contra as instalações construídas no canteiro têm sido recorrentes."
“Roubaram as obras e as geladeiras, quebram bancos e as pontes construídas para facilitar o acesso de pessoas idosas. Apesar disso, eu não pretendo desistir deste local. Eu sou o tipo de pessoa que insiste, persiste e não desiste. Já estou começando a reconstruí-lo todo novamente. Cuidar do canteiro é meu maior lazer.”
Com o roubo das geladeiras, a doação e adoção de livros ficou paralisada, mas ela contou que pretende retomar novamente. “Eu estou comprando todos os equipamentos novamente. Eu quero retornar com o projeto dos livros novamente. Eu nasci em Irauçuba. Lá é terra de mulher bonita e esperta.”
Os casos, no entanto, ainda não foram levados aos órgãos públicos de segurança pois a vítima tinha medo do que pudesse acontecer. "Iríamos fazer uma denúncia, mas fomos deixando o tempo passar. Fortaleza está muito perigosa", detalha.
Em nota, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) informa que o 13º Distrito Policial (DP) é a unidade responsável por apurar delitos no bairro Cajazeiras, em Fortaleza.
A Polícia Militar do Ceará (PMCE) pondera o forte policiamento na região, realizado por intermédio do 19º Batalhão Policial Militar (19ºBPM).
A PC-CE, e a PMCE, reiteram a importância do registro de Boletim de Ocorrência (B.O) para que mais informações sobre o fato sejam repassadas. O B.O pode ser feito de forma presencial, ou por meio da Delegacia Eletrônica (Deletron), em qualquer hora do dia ou da noite, disponível a toda população do Estado. (Colaborou Gabriel Gago)