Natal: voluntários organizam ceia para pessoas em situação de rua em Fortaleza

O objetivo era proporcionar um ambiente de acolhimento e carinho para pessoas em situação de rua

22:48 | Dez. 24, 2022

Por: Júlia Duarte
Natal dos Pobres, da Comunidade Shalom, realizou Natal para pessoas em situação de rua na Praça José Bonifacio (foto: AURÉLIO ALVES)

Na véspera de Natal, neste sábado, 24, é sempre tradicional a correria com as compras de última hora ou com a preparação da ceia para receber os familiares. Esta, no entanto, não é a realidade de todos, especialmente pelo avanço da fome no Brasil. Na praça José Bonifácio, no Centro da Fortaleza, voluntários da Casa São Francisco, da Comunidade Shalom, promoveram um momento de comunhão e partilha com o Natal de Rua para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

O evento teve início com a celebração de uma missa ao ar livre, sendo seguida por uma apresentação do Coral dos Amigos com o número "Em busca do Rei". Tudo foi acompanhado não só pelos assistidos pela casa, mas também por pessoas engajadas na comunidade religiosa ou que moravam na região, totalizando 150 pessoas.

O objetivo era proporcionar um ambiente de acolhimento e carinho para pessoas em situação de rua. Thácio Romano, missionário e coordenador da Casa São Francisco, conta que organizar esse momento é também uma forma de conexão com o espírito do Natal, que celebra o nascimento de Jesus Cristo.

“Tem um sentido para nós celebrar com o pobre. Pelo fato de Jesus se fazer como pobre e faz sentido celebrar com os pobres. Todos nós gostamos do Natal, ele propicia se reunir com a família, organizar um jantar melhor e, por que não celebrar isso com eles? Eles merecem, eles têm esse mesmo direito”, diz o missionário.

O jantar não é uma ação esporádica. A Casa já mobiliza diversos serviços de atendimento ao longo do ano para cerca de 50 pessoas. Todos os dias fichas são distribuídas, e os assistidos recebem alimentação, roupas, materiais de higiene, acesso a chuveiros e cursos profissionalizantes, tudo de doações e parcerias. 

É atenção e escuta que faz a diferença para Leandro da Silva Gonzaga, 39 anos, atendido pela Casa desde o começo do ano. Tudo começou com um burburinho que um local oferecia alimentos e um “bom banho”. Hoje, ele se prepara para tentar ingressar novamente no mercado de trabalho.

“Eu vi que tinha algo mais além do banho e da comida, me interessei pela casa, resolvi ser voluntário. Estou há um tempo sem beber. Eu faço de tudo para retribuir isso que eles fazem por nós”, reflete ele durante a ceia coletiva.

É pelo apoio e oportunidade que, na véspera de Natal, ele acredita que seu desejo de “voltar à vida" vai se realizar. “Nem todo mundo que mora na rua é drogado, é desocupado ou vagabundo. Tem muita gente que é batalhador, que se encontrou ali por uma ocasião. Pelo álcool, pela droga, pelo chifre, pelo desemprego. Tem esse pessoal que se interessa e ajuda porque sabem que nós somos seres humanos. E nos ajudam a irmos nos desvencilhando da dor”, afirma Leandro.

O dia também é marcado pela doação de tempo dos voluntários, que tiram dias e dias para organizarem o evento. No caso de Sônia Maria da Silva, 45, é quase metade de sua vida, 22 anos, que deixou a família para ser missionária e passou a se dedicar a ajudar em diversos projetos.

Nos assistidos e nos outros voluntários, ela encontrou amigos e uma família. Por isso, passar o Natal organizando o cardápio da ceia (arroz, macarrão, salada e strogonoff) e preparando a refeição preenche “o vazio que faltava” antes de se tornar missionária.

“A comunidade não se preocupa só em dar comida, isso em em qualquer lugar que você vá se encontra. Madre Tereza de Calcutá fala que a fome mais difícil de matar é a fome de amor. Quem é que para para conversar com você? Para escutar? É isso que eles precisam”, conta, enquanto cortava um bolo, vindo de doação, que logo foi servido como sobremesa.

A Casa também fornece serviços como medição de sinais vitais, encaminhamento para tirar segunda vias de documentos ou cartões de vacinação, além de cortes de cabelo e de barba.

“Tem dias que não tem nada, e Deus manda. A gente vê muito milagre acontecer. Ele não deixa faltar, porque os homens que estão aqui são os amados de Deus. Eu brinco que, quando eu entro e vejo todos sentadinhos aqui comendo, ‘eles todos estão disfarçados de príncipe e, quando chegarem ao céu, eles vão se revelar'”, ressalta a missionária.

Serviço Natal de Rua

Doações podem ser feitas por meio do site http://amigodospobres.org/
Atendimento: (85) 9 810 59754
E-mail: shalomamigodospobres@comshalom.org