Orquestra formada por crianças e adolescentes traz a magia do Natal a Fortaleza
Espetáculo da Fundação Raimundo Fagner reuniu cerca de 100 educandos, entre crianças e adolescentes, e encantou público presente no Theatro José de Alencar
23:04 | Dez. 14, 2022
"A magia do Natal vai começar!". Foi dessa forma que a Orquestra da Fundação Raimundo Fagner foi apresentada à plateia do Theatro José de Alencar, em Fortaleza, no início da noite desta quarta-feira, 14. Cerca de 100 educandos, entre crianças e adolescentes, usaram da voz e do talento com instrumentos para apresentar o "Recital Natalino" — espetáculo que encantou e fez brilhar os olhos do público presente no equipamento.
O concerto é organizado pela Fundação Raimundo Fagner, que atende crianças e adolescentes com faixa etária entre 7 e 17 anos de idade, matriculadas na rede pública de ensino. Instituição realiza ação por meio do projeto @aprendendocomarte, cuja "proposta de educação visa promover o desenvolvimento humano, o pensamento artístico e a percepção estética através de atividades formativas nas diversas áreas artísticas".
Formada por um coral e por instrumentistas que utilizavam violão, percussão e flauta, a orquestra abriu o espetáculo com o clássico “Noite feliz". Logo em seguida, outras músicas natalinas clássicas foram "revisitadas com arranjos tradicionais e modernos", como "Vem chegando o Natal”, “We wish you a merry Christmas” e “Feliz navidad”. Espetáculo ocorreu sob a regência do maestro Eduardo Saboya.
Em meio aos pequenos participantes estava José Elton, de 10 anos, que participa do projeto há aproximadamente um ano. O garoto, que sempre gostou de cantar, entrou para o coral, mas não pretende parar por ai: em 2023 diz que pretende começar a tocar algum instrumento.
Vitória Alves, de 11 anos, também se identifica com o canto, mas quando entrou para a fundação, há quatro anos, foi no violão que se encontrou. Quando o recital tem inicio, ela se concentra feito gente grande e mostra que se entende muito bem com o instrumento.
"A minha prima trabalhava na fundação, ela era cantora. Eu escutei bastante sobre e achei interessante ai quis participar", relata, completando que estar no projeto é seu "orgulho de vida" e que deseja crescer e seguir no meio artístico.
Espetáculo atrai olhares de familiares e frequentadores
Mas nem só os participantes estavam orgulhos. Familiares dos educandos compareceram ao evento e sacavam o celular do bolso para gravar cada segundo daquele momento, não deixando nada passar em branco. Por trás dos aparelhos, haviam olhos brilhantes e alguns até cheio de lágrimas.
É o caso de Rosilene, 43, mãe da Vitória. Sentada no banco da frente, ela frequentemente se levantava para filmar a filha tocar violão. "É muito bom, é um orgulho. É muito importante. Eu acho muito bonito esse projeto e eles estão de parabéns", dispara a dona de casa.
Sentada ao lado dela estava Maria Antônia, 49, que é mãe do pequeno David, de 11 anos. O garoto toca flauta na orquestra e há quatro anos participa do projeto, mas teve que passar por uma adaptação para conseguir se apresentar. Isso porque o pequeno músico é diagnosticado com autismo.
"Ele teve todo um processo, foi aos pouquinhos que ele foi se adaptando. E hoje graças a Deus ele já tá se apresentando", relata a técnica de enfermagem. Essa foi a primeira vez que ela viu o filho se apresentar na flauta. As lágrimas em seus olhos e a voz embargada mostravam como o momento estava sendo especial e mágico para ela.
"Quase chorei aqui porque é a primeira vez que eu vejo ele se apresentando tocando mesmo, porque ate então eu só via ele por trás, ele vinha mas não fazia parte da apresentação mesmo (...) Eu achava que ele não sabia tocar, ai eu conversando com as tias (professoras) elas falaram que se ele não soubesse ele não estaria ai, porque é como se fosse uma responsabilidade imensa ele tá ali", emociona-se.
Em meio aos celulares dos familiares, havia também os de frequentadores que chegaram no equipamento e se surpreenderam com o concerto, como a professora Amanda Alves, de 29 anos. A docente foi ao espaço para assistir um outro espetáculo, que ocorreria em outro ambiente do local, e não não apenas parou pra ver a apresentação como gravou para postar em suas redes sociais.
"Eu tô achando tudo muito organizado, lindo, ensaiado. Ver a música fazer parte da vida deles, eu acho isso encantador (...) Já gravei um vídeo pra registrar, pra postar na internet, pra deixar todo mundo ciente de que tem esse tipo de evento", relata a professora.
Leoneide Maria, 63, também encontrou o espetáculo "por acaso" quando chegou para assistir a outro evento e fez o registro. "É algo deslumbrante, simplesmente maravilhoso. É uma pena que a gente não fique sabendo com antecedência, que não seja tão divulgado como outras coisas (...) Porque realmente é um grandessíssimo espetáculo, que vale a pena todas as pessoas virem pra prestigiar", frisa.
Um transformador social chamado música
Por trás de toda a beleza e "magia", o projeto tem como proposta utilizar da arte e da música para mudar a vida de crianças que vivem em locais de vulnerabilidade social, como conta Anderson Mendes, coordenador pedagógico da Fundação Raimundo Fagner em Fortaleza.
"São todas crianças provenientes de escolas públicas. (...) A música, a arte em si acaba sendo esse transformador social dentro da formação integral, que é o que a gente propõe. Eles vão pra fundação todos os dias. Eles passam a manhã na escola e a tarde vão para a instituição ou vice e versa", relata.
Essa transformação é sentida pelos pais dos participantes. Rafael Matias, 36, é pai do pequeno Rafael, que há três anos canta no projeto. "Se a gente disser que tem aula de manhã, de tarde e de noite ele (o filho) quer ir sempre. Ele prefere o projeto do que outras coisas (...) É um projeto fantástico porque você tira as crianças da rua e elas começam a se entreter com música, a ter um convívio com outras crianças, a se enturmar, e isso gera um cidadão de bem", diz Matias.
Maria Antônia, mãe de David, compartilha de opinião semelhante. "É um projeto que ajuda muito. As crianças podiam tá no meio da rua, sem fazer nada da vida. É um projeto importante, é uma ajuda pra gente. A gente sabe que eles tão lá, que eles tão bem, que eles tão bem encaminhados", conta a técnica de enfermagem, ainda se recuperando de ver o filho independente, tocando e mostrando para o público, ao lado dos outros pequenos músicos, um pouco da magia do natal.