Artista fortalezense transforma peças recicláveis em arte sustentável
Carlos Careca, de 60 anos, utiliza os materiais recicláveis para retratar representações sociais sobre violência contra a mulher e preconceitos vivenciados pelas minorias sociaisAmor e respeito ao meio ambiente é o que o artista plástico Carlos Careca, de 60 anos, busca retratar por meio de sua arte. Ao transformar peças de manequins, caixas de sapato e restos de madeira em uma exposição, o morador da Praia de Iracema, em Fortaleza, tem como objetivo representar a luta no combate à violência contra a mulher e outros tipos de preconceitos velados em sociedade, como lgbtfobia, xenofobia e racismo.
A história de Careca com a arte sustentável vem desde a infância. De origem humilde, o artista não tinha condições de comprar brinquedos e, por isso, passou a construí-los por conta própria a partir daquilo que o mar trazia de dejetos às areias da praia.
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Quando mais velho, o gosto por transformar os materiais recicláveis não cessou. Carlos passou a desenvolver projetos maiores e ainda mais significativos, o que o levou a fundar, em parceria com o músico André Comaru, o coletivo Nossa Iracema. Nele, uma série de ações ecológicas de defesa à vida marinha, como a limpeza das praias e conscientização da população, é realizada.
Para Carlos, o lixo pode se transformar no que a imaginação permitir. "Como o meu mundo é sustentável, eu procuro ver tudo como arte, da tampinha de garrafa às caixas de sapato. Tudo pode se transformar. Não é porque é visto como lixo que não podemos olhar para esses materiais com outros olhos", afirma o artista.
Carlos conta que as peças, hoje recicladas e customizadas, especialmente os manequins, estiveram guardados por muitos anos à espera de um momento propício para serem transformados em arte.
“Alguns deles estão comigo desde 2005 e foram retirados do desmonte dos lojistas que frequentavam a Monsenhor Tabosa, no Centro de Fortaleza. As ruas não são o destino apropriado para esse tipo de material, por isso, os recolhi e guardei. Vendo a atual situação, onde a violência esteve tomando de conta da nossa cidade, resolvi que era o momento para que aquelas peças ganhassem um novo significado”, conta.
No entanto, Carlos destaca que não é fácil ser um artista sustentável. “É difícil lidar com certas situações. Muitas vezes, você é visto pelas pessoas como um lixeiro, que traz lixo para dentro de casa. É complicado explicar que não vejo mais aquele material como lixo, vejo uma obra, uma peça. Já imagino lugares nos quais posso montá-la e transformá-la em arte", pontuou.
O artista menciona ainda que, apesar das dificuldades na trajetória, ele vê a arte como uma forma de protesto e, quando usada para o bem, pode mudar vidas, conscientizar pessoas e ajudar a salvar a natureza.
“Em casa, atualmente, tenho cerca de 15 peças com os manequins. Algumas das que fiz deixei em alguns pontos da Cidade, principalmente na Praia de Iracema, para servir como um aviso de que precisamos amar e preservar o nosso meio ambiente e respeitar as pessoas à nossa volta, independente de raça, gênero, orientação sexual e outras questões. Acredito verdadeiramente que o amor é capaz de salvar vidas”, concluiu Carlos.