Prefeitura e Unicef assinam pacto que possibilita maior proteção a jovens do Jangurussu
A principal intenção é prestar serviços públicos mais eficientes que garantam o bem-estar desta parcela da sociedade fortalezenseO Cuca Jangurussu foi palco de solenidade que firmou a parceria entre a Prefeitura de Fortaleza e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no anseio pela proteção e o combate à violência no bairro. Na tarde desta quinta-feira, 1, consolidou-se o pacto entre os dois órgãos.
No início do encontro, dançarinos da ONG Edisca fizeram uma apresentação artística salientando os desafios enfrentados pelos jovens que vivenciam um ambiente violento.
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“A obra 'Periferia' traz a visão do mundo a partir do olhar de crianças e adolescentes provenientes de territórios urbanos à margem dos direitos individuais e sociais, imersos em conflitos deflagrados”, disse o diretor artístico do espetáculo, Gilano Andrade. “Ainda assim, eles se mobilizam para estudar e exercer a dança como modo de compreender e superar o tempo e o lugar que lhes foi dado viver”, complementou.
Em sequência, outra arte, desta vez reproduzida através da fala, teve seu espaço. Eduardo Africano, 26, educador social do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo e poeta, proferiu reflexões que giram em torno das batalhas necessárias para realizar sonhos.
“Cada erro, cada acerto nos serviu como lição. Jangurussu é sem ideia torta, tá pensando que o teu sonho vai bater, na tua porta? Ainda nada, os verdadeiros têm que correr, porque é você que tanto sonha, e não é ele que quer você”, poetizou, enquanto a plateia repetia.
O coordenador de semiárido brasileiro do Unicef, Dennis Larsen, discursou, de forma sucinta, caracterizando o encontro como “uma aprendizagem”. “As periferias estão crescendo em todos os lugares. As ações da Unicef espalhadas por oito capitais brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Manaus, Belém, São Luís, e, agora, Fortaleza, buscam mudar esta realidade”.
Rosana Vega, coordenadora da unidade de proteção da AgendaCidade, do Unicef, apontou o foco das ações essencialmente voltadas à primeira infência e ao combate à violência sexual, além de medidas que reforçam a importância das escolas, das atividades laborais, da saúde mental e da garantia dos direitos.
A escolha do bairro Jangurussu foi feita em conjunto com a Prefeitura de Fortaleza, por meio de um mapeamento prévio dos indicadores de violência realizado desde o início deste ano. Segundo a coordenadora, “nesta região, são níveis muito altos em termos de violência letal e de crianças e adolescentes que não receberam medidas socioeducativas”.
De acordo com a coordenadora especial de relações institucionais da Prefeitura, Joana Nogueira, esta parceria perdurará por “dois anos” e, caso obtenha êxito, existe a possibilidade de expansão aos demais bairros. “É um projeto piloto. Vamos avaliar se o que pensamos funciona, ou precisa de ajustes, antes de levar para o restante da Cidade”, afirmou.
O foco deste projeto são as crianças e adolescentes residentes do Jangurussu. Assim, participaram da solenidade alunos do infantil ao 5° ano e docentes da Escola Professor Francisco de Melo, próxima ao Cuca Jangurussu.
Para Mágia Marinho, orientadora educacional da escola, esta ocasião é "muito importante". "Um evento desta magnitude, trazendo políticas públicas voltadas à infância, à adolescência, e uma oportunidade de assistir ao balé, que fala da vida do Jangurussu. Creio que a maioria deles nunca havia assistido, um momento único e muito importante para nossa comunidade".
Mágia espera que o momento tenha servido como um ensinamento que seja reverberado até as famílias das crianças.
Mortes de crianças e adolescentes
Ao resgatar dados do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência do ano passado, o deputado Renato Roseno (PSOL) alarmou o público para o aumento de jovens mortos no Estado. “A cada semana, 11 mães enterravam seus filhos antes que eles completassem duas décadas de vida. 73% dos adolescentes mortos estavam fora da escola, por seis meses a dois anos."
Segundo o político, “estas mortes eram previsíveis, e, portanto, eram preveníveis”. O deputado estadual também evidenciou que mortes e casos de violência não podem ser normalizados.
“O nosso primeiro aprendizado é que a prevenção começa do local, e por isso priorizamos tanto o território. Como o Eduardo colocou, e como a Edisca dançou, os territórios da periferia não podem ser territórios de morte, violência e tristeza”, enfatizou.
Renato destacou três elementos capazes de reformar este cenário: a Busca Ativa Escolar, a criação de projetos sociais focados a adolescentes mais vulneráveis, como projetos culturais e de lazer, e por último a profissionalização com renda. “Muitos adolescentes abandonam a escola em razão da pobreza. Lamentavelmente, temos muito subempregos e empregos precarizados que se configuram em trabalho ilegal.”
Momento da assinatura
Durante a fala que antecedeu à assinatura, o prefeito José Sarto (PDT) parabenizou os demais colegas pelo comprometimento com a sociedade fortalezense. “Além de diagnosticar, se indignar com o que acontece na nossa periferia, tão desigual, trabalhamos a todo momento para reduzir estas desigualdades. Realmente, os dados chocam, mas servem como bússola, para que o Governo do Estado e a Prefeitura tracem políticas que protejam a nossa juventude”, afirmou Sarto.
“Jamais imaginaria que estaria aqui como prefeito. Fico muito honrado de estar neste momento de transformação. Tudo que posso lhes dar é o melhor do meu coração, da minha alma, do meu esforço, junto com o meu time”, finalizou.
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