Piso intertravado em Fortaleza: obra inacabada no Siqueira gera transtornos
Município alegou que projeto na área precisou passar por revisão mas garantiu que vai retomar serviço até o primeiro semestre do próximo anoMoradores da rua Magnólia Melo, no Siqueira, em Fortaleza, enfrentam transtornos por conta de uma obra de urbanização inacabada. Segundo o que moradores relataram ao O POVO, a Prefeitura iniciou a troca de piso do local mas parou a ação há cerca de seis meses, o que tem facilitado o acúmulo de lama e de água parada. Município garantiu que vai retomar serviço até o primeiro semestre do próximo ano.
A obra em questão se trata da implementação de piso intertravado, material que traz mais benefícios que o asfalto. Iniciativa é realizada por meio da Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) e deve acontecer ainda em dezenas de bairros da Capital, contemplando centenas de vias.
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Na rua Magnólia, situada na comunidade do Marrocos, essa obra começou a ser realizada de forma efetiva no início deste ano, mas foi interrompida meses depois, conforme moradores relataram ao O POVO, que esteve no local nesta quarta-feira, 30. Com só metade da via pavimentada, a rua tem acumulado lama e água parada, afetando a vida de quem mora na área.
Juarez Martins, 60, conta que a comunidade segue sem "benefícios" há pelo menos oito anos e demostra que se sentiu esperançoso com a chegada da obra. O sentimento, porém, se transformou em decepção quando ela foi interrompida. "A gente quer um transporte mais rápido e não tem por conta da lama, por causa do barro que não foi rebaixado pra essa lama correr", desabafa o pedreiro, que reside na região.
Segundo Juarez, uma vizinha diabética pegou uma infecção de pele neste ano por conta da sujeira e acabou morrendo. Outros moradores relataram casos de dengue.
"O pessoal ficando doente, os mosquitos tão se reproduzindo na área de esgoto, o mau cheiro incomoda...a pessoa não pode nem comer (por conta do odor que entra nas casas)", relata João Batista, liderança comunitária. Ele afirma ainda que dois familiares contraíram dengue neste ano.
"A situação tá muito crítica, aqui é muito muriçoca, mosquito da dengue. Ai eles fizeram essa situação aqui, ai no lugar de ajeitar não, ficou a poça de água. Ai é água de esgoto com água de tudo que você pode imaginar (...) De noite ninguém consegue nem dormir", diz Aline Maria, 30, que também reside na área.
Chegada de época chuvosa preocupa moradores
Segundo Mariana Quezado, arquiteta urbanista, o piso intertravado é uma "melhor" opção do que o asfalto e aumenta a "autoestima dos moradores". Quezado explica que a obra faz populares se sentirem vistos e dá uma ideia de pertencimento daquele espaço e da cidade em si.
"Ele (piso intertravado) é uma opção melhor do que o asfalto no sentido de que ele é um piso mais permeável. Como ele é modular, ele permite intervenções na rua sem ser preciso refazer tudo", destaca ainda, completando que esse tipo de piso ajuda a evitar que fique água acumulada na superfície. Como a obra não foi finalizada, moradores vivem os transtornos.
"A gente sabe que essa questão da pavimentação é muito importante, de acessibilidade, de mobilidade, de qualidade de vida. De evitar mosquitos, acúmulo de lama, tudo que esses moradores vêm vivenciando", destaca a profissional, que é uma das arquitetas que acompanham a comunidade junto ao Observatório da Zeis Bom Jardim. Ela ainda reforça que um dos maiores problemas é a falta de diálogo da Prefeitura com moradores, já que Município não dá retorno aos populares.
A preocupação da população local acerca dessa situação tem piorado com a aproximação do período de chuvas. "Se a água que normalmente já alaga algumas das casas vier com velocidade pra essa área que não tá com nenhum tipo de pavimentação só vai piorar a situação das famílias. Além disso, essa água, suja, enlameada, vai gerar diversos problemas de doenças", explica Quezado.
Mesmo quem mora nos trechos onde o piso foi inserido teme o risco da água invadir a residência. "A minha (casa) não tem muito (problema com a lama) não, mas quando chegar o inverno vai entrar água na minha casa, vai encher (de água)", dispara Antônia Paixão, 49, uma das moradoras da área.
Os moradores relatam que os representantes da empresa que realiza a obra informaram que o atraso na implantação do piso se dá devido às intervenções na rede de esgoto, mas as duas obras estão paradas. Procurada pelo O POVO, a Prefeitura, por meio da Seinf, informou que deve retomar serviço.
"Devido a mudanças do terreno natural e a construções irregulares no local foi necessário a revisão dos projetos para se adequarem à realidade atual. Em paralelo, a secretaria solicitou a indenização e remoção dos imóveis construídos de forma irregular. Salientamos que as obras estão em andamento na região e que somente a rua citada na matéria deve ter obras retomadas até o primeiro semestre de 2023", destacou pasta.
Confira nota na íntegra:
"A Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) realiza obras de urbanização na comunidade Marrocos, no bairro Siqueira. A rua Magnólia Melo está contemplada dentro do projeto que prevê os serviços de drenagem, esgotamento sanitário e nova pavimentação.
A Seinf ainda informa que devido a mudanças do terreno natural e a construções irregulares no local foi necessário a revisão dos projetos para se adequarem à realidade atual. Em paralelo, a secretaria solicitou a indenização e remoção dos imóveis construídos de forma irregular.
Salientamos que as obras estão em andamento na região e que somente a rua citada na matéria deve ter obras retomadas até o primeiro semestre de 2023".
Colaborou o repórter Luciano Cesário
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