Marcha da Periferia em Fortaleza questiona: em 10 anos, quem os ouviu?

A Marcha da Periferia ocorreu neste sábado, 26, na Praia de Iracema

A Marcha da Periferia completa dez anos de realização, promovendo pautas sobre segurança pública, combate à fome, acesso à educação, à cultura e o fim do encarceramento em massa. Em 2022, após dois anos intensos da pandemia de Covid-19 e o crescimento da violência, 36 coletivos se reuniram na Praia de Iracema neste sábado, 26, para questionar: quem ouviu o “soluçar de dor” deles?

“Até hoje as autoridades nos escutam, mas não se comprometem com a gente”, explica a educadora social Lany Maria, do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS). “A gente quer perguntar mesmo. As autoridades têm escutado nossas demandas, nossas pautas?”

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

A passeata começou em frente ao clube Ideal, bem ao lado do palco do Festival Elos, que mais tarde receberia Chico César e outros artistas. De lá, o grupo composto principalmente por jovens do Grande Bom Jardim percorreu um quilômetro e meio até o Centro Cultural Belchior.

FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 26.11.22: Marcha da Periferia na Orla de Fortaleza, na Praia de Iracema, 10° edição da Marcha da Periferia, protestos por falta de politicas publicas, violencia policial na periferia e comunidades . (Aurelio Alves/ O POVO)
FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 26.11.22: Marcha da Periferia na Orla de Fortaleza, na Praia de Iracema, 10° edição da Marcha da Periferia, protestos por falta de politicas publicas, violencia policial na periferia e comunidades . (Aurelio Alves/ O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)

No percurso, discursaram no microfone comentando sobre a falha da guerra às drogas, o racismo estrutural que condena a população negra e periférica e também a importância do protagonismo das comunidades na política.

“Infelizmente, o que a gente tem dentro da Câmara dos Vereadores são pautas que discutem muito mais os costumes do que propriamente a necessidade cotidiana do povo de Fortaleza”, comenta a vereadora Louise Santana, do mandato coletivo Nossa Cara, sobre os desafios de se discutir as pautas citadas pela Marcha da Periferia a nível municipal.

A marcha chamou a atenção de quem estava passeando pelo calçadão da Praia de Iracema.

Muitos paravam para escutar as falas ou tiravam os celulares para registrar o movimento em vídeo. Em especial os trabalhadores ambulantes e dos restaurantes da avenida, assim como moradores dos prédios da região.

Aqueles que saiam às varandas para presenciar as palavras de ordem faziam o símbolo de "L" com as mãos ou aplaudiam.

“As demandas se arrastam há muito tempo, como essa demanda de políticas públicas mais incisivas para a juventude”, afirma Lúcia Albuquerque, coordenadora do CDVHS.

A violência policial é uma das pautas que mais atravessam o movimento: entre 2020 e 2021, 268 pessoas morreram em ações policiais, a maioria negras. Só em junho de 2022, foram 22 mortes durante intervenção policial no Ceará, segundo o Monitor da Violência e a Rede de Observatórios da Segurança.

Em 2020, a média foi de 12 adolescentes assassinados por semana no Ceará, de acordo com o Comitê de Prevenção e Combate à Violência.

Levar essas discussões para a Praia de Iracema, um dos bairros nobres de Fortaleza, também foi intencional. A Marcha buscava ocupar espaço e mostrar uma periferia além da criminalidade, criativa e potente. Por outro lado, também foi uma escolha baseada na segurança.

“A gente gostaria de estar na periferia falando para os nossos. Mas também por conta de uma problemática do Estado que é não garantir a segurança pública que nos assegure o direito de ir e vir, e pela segurança da juventude, a gente elencou estar aqui no cartão postal da Cidade. Uma cidade para o turismo, mas que muitas vezes é difícil para a periferia chegar aqui”, explica Alessandra Félix, uma das realizadoras da marcha e integrante do Coletivo Vozes.

FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 26.11.22: Marcha da Periferia na Orla de Fortaleza, na Praia de Iracema, 10° edição da Marcha da Periferia, protestos por falta de politicas publicas, violencia policial na periferia e comunidades . (Aurelio Alves/ O POVO)
FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 26.11.22: Marcha da Periferia na Orla de Fortaleza, na Praia de Iracema, 10° edição da Marcha da Periferia, protestos por falta de politicas publicas, violencia policial na periferia e comunidades . (Aurelio Alves/ O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)

No final do ato, a Marcha da Periferia leu uma carta manifesto, com propostas que deverão ser encaminhadas ao governador eleito Elmano de Freitas (PT). Conheça algumas das demandas:

  • Ampliação de dias e horários de funcionamento do Metrofor, principalmente aos domingos;
  • Efetivação de todos os terceirizados do Metrofor e abertura de novos concursos;
  • Erradicação da violência contra vendedores ambulantes;
  • Fortalecimento da economia criativa/solidária nas periferias e da criação de hortas comunitárias;
  • Investimento em preservação ambiental nas periferias, com saneamento básico, revitalização de rios e córregos, criação de reservas naturais e áreas de replantio;
  • Investimento no Sistema único de Saúde (SUS) e nos Centro s de Referência da Assistência Social (CRAS), com a ampliação da rede, de recursos humanos e de equipamentos.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

marcha da periferia violencia policial praia de iracema passeata

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar