Placas alertam para a presença de iguanas em terreno no meio urbano de Fortaleza

Número de animais na região tem diminuído durante os últimos anos. Quem transita pelo local relata diversos acidentes e até atentados contra os répteis

Próximo ao número 2035 da rua Vilebaldo Aguiar, no bairro Cocó, uma pequena placa chama a atenção dos olhares mais curiosos. "Reduza a velocidade! Cuidado com as iguanas", diz o aviso. A presença dos animais na região de Fortaleza não é de hoje, dois terrenos sem construções cumprem o papel de abrigar os répteis.

No encontro das ruas Vilebaldo Aguiar com Dr. Francisco Matos, Abenuam Silva, 47, conta que as placas foram colocadas pelo seu patrão devido ao número de acidentes que aconteciam com os animais. Silva, como gosta de ser chamado, conta que durante os seus 20 anos de serviço desenvolveu um carinho com os animais.

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"É uma história bonita. Há uns 18 anos, eu chegava a encontrar mais de 30 iguanas em um dia. Muito cliente passava aqui e filmava, e eu sempre avisava pra ter cuidado com a rabada", brinca Silva.

O alerta feito pelo segurança é válido, pois as iguanas usam a cauda como mecanismo de defesa, sendo utilizada como uma espécie de chicote. Entretanto, o risco que o animal oferece aos seres humanos é muito menor que a ameaça que os humanos podem representar para o animal.

"Antigamente, isso tudo aqui era mato. Depois, começaram a construir as coisas e capinar os terrenos. Já vi muitas morrendo atropeladas ou quando o pessoal fazia a limpeza desses terrenos, acabavam matando também", relata Silva.

De acordo com o biólogo Enio Sombra, membro do Conselho Gestor do Parque do Cocó, os terrenos não são considerados um local ideal para os animais, pois estão localizados dentro do meio urbano. "Não estão no seu habitat. O ideal seria promover um resgate desses animais e levar para uma área mais preservada, como o Parque do Cocó", relata.

O risco à vida dos animais é comprovado pelo número de iguanas que existem nos terrenos atualmente. Se no começo dos anos 2000 mais de 30 viviam no local, hoje é preciso um olhar apurado para encontrar os animais. Em uma hora no local, O POVO constatou a presença de três iguanas vivas e uma morta.

As iguanas são animais nativos de todas as américas, o que torna natural a presença delas no Ceará. Porém, a urbanização causada pelo crescimento da Cidade tem impactado diretamente na preservação da fauna local. Com poucas árvores e muito lixo, um amontoado de galhos serve de abrigo para os animais.

José Aldenir, 63, é outra testemunha ocular da queda do número de iguanas. "Ainda tem, mas não como antigamente. Elas gostavam de ficar nas árvores, está cada vez mais difícil de encontrar", relata.

Um outro homem, que prefere não se identificar, diz que é comum pessoas utilizarem "baladeiras" para machucar ou, até mesmo, matar os animais.

A prática, inclusive, está tipificada no art. 29 da Lei 9.605/1998, na seção dos crimes contra a fauna. O dispositivo da lei classifica como crime o ato de matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. A pena para quem agir de acordo com alguma das condutas é de detenção de seis meses a um ano e multa.

A falta de cuidado com as iguanas representa o risco ao equilíbrio do ecossistema porque elas atuam como predadoras de insetos, como baratas e escorpiões.

O biólogo Enio Sombra destaca que é preciso que o resgate desses animais seja feito de forma especializada. Devido ao excesso de lixo na região, o ideal é que os animais sejam examinados antes de serem encaminhados para um ambiente como o Cocó.

A avaliação seria apenas para verificar se os animais não estão contaminados com alguma doença que possa infectar outros que já vivem no Parque. Em janeiro deste ano, diversos soins morreram no Parque Estadual do Cocó devido ao herpes.

A recomendação do biólogo é de que, caso alguém encontre uma iguana, entre em contato com os setores responsáveis, além de não tentar tocar no animal. "É importante que não se faça isso por conta própria, seria um risco para a pessoa e para o animal", ressalta.

A população pode acionar o Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBM-CE) por meio do telefone 193. A recomendação é de que qualquer ocorrência relacionada a animais silvestres seja imediatamente comunicada.

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