Furto de contêineres: 3 empresários e funcionários do porto entre investigados

Inquérito da Polícia Federal aponta 3 empresários (um homem e uma mulher chineses e uma cearense), sócios em duas empresas de importação, como envolvidos no furto. Caso aconteceu em 2021 e foi tema de reportagem do O POVO

A Polícia Federal encontrou, após um ano de investigação, o fio para chegar ao paradeiro e aos responsáveis pelo sumiço de 12 contêineres do Porto do Mucuripe. Há pelo menos duas empresas investigadas, ambas do ramo de importação sediadas em Fortaleza e que pertencem igualmente a três sócios. Há um casal de empresários chineses, um homem e uma mulher, e uma empresária cearense. Além deles, pelo menos um funcionário vinculado diretamente à Companhia Docas do Ceará (CDC) e mais três prestadores de serviço do porto também são apontados no caso.

Os contêineres guardavam R$ 11 milhões em mercadorias, importadas ilegalmente e que haviam sido apreendidas em 2019 em fiscalizações da alfândega. Estavam destinadas para doação quando foram furtadas. Mas os equipamentos acabaram levados de dentro do pátio do Porto entre 2020 e 2021 e nunca mais foram encontrados. O caso foi um dos temas abordados na série de reportagens "Porto de Fortaleza em Crise", publicada pelo O POVO em agosto de 2022

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Na manhã desta sexta-feira, 25, agentes da Polícia Federal e da Receita Federal amanheceram em 11 endereços na capital cearense ligados a este grupo investigado, executando mandados de busca e apreensão dentro da Operação Fuzanglong. Nos locais foram apreendidos computadores, celulares, mídias e alguns documentos - entre eles contratos comerciais. Os endereços vistoriados pelos policiais federais e auditores pertencem tanto a pessoas físicas como jurídicas.

Os nomes das pessoas e das empresas não foram divulgados. Entre elas estão as sedes administrativas das duas empresas, no Centro da cidade, e dois depósitos de mercadorias, um no bairro Luciano Cavalcante e outro nas proximidades da avenida Monsenhor Tabosa, no Meireles. Os mandados, expedidos pela 11ª Vara Federal, foram cumpridos em Fortaleza (nos bairros Centro, Meireles, Jardim América, Luciano Cavalcante, Pirambu e Serviluz) e em Maracanaú.

O nome da operação Fuzanglong faz referência à mitologia chinesa, seria o dragão chinês dos tesouros escondidos.

"Material com esse valor não desaparece"

 O delegado Olavo Pimentel, titular da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários (Delefaz), da Polícia Federal no Ceará, confirmou que o crime investigado é o de furto qualificado. "Obviamente que um material desses, com esse valor, não desaparece. Alguém levou. O crime a princípio investigado é o de furto. Com a participação de pessoas que trabalham no próprio Porto", informou. Ele admitiu que, a partir da dinâmica dos fatos e do total de pessoas participantes, também poderá ser incluída a acusação de associação criminosa.

Entre as mercadorias, "basicamente de origem chinesa, havia roupas, tapetes, brinquedos e vestuário em geral", descreveu Pimentel. O nome da operação, Fuzanglong, remete à mitologia chinesa, "dragão chinês dos tesouros escondidos". À época que os contêineres desapareceram, o porto estava sem o aparato completo de vigilância eletrônica de mercadorias e entrada de pessoas. Os contêineres modelo Dry, de 40 pés, e que vazios pesam quase duas toneladas, teriam saído pelo portão da frente das Docas.

O sumiço/furto dos contêineres foi percebido no dia 22 de setembro de 2021, mas o fato em si teria sido cometido muitos meses antes. Em outubro de 2019 e em junho de 2021, a Companhia Docas havia sofrido dois ataques cibernéticos e a empresa, que pertence ao governo federal, demorou a melhorar suas barreiras virtuais para conter as invasões. O POVO publicou detalhes dessa investigação, que apontou que o ataque hacker foi disparado por um grupo da Romênia chamado TNT (Tirana Hacker Team).

Segundo o delegado Olavo Pimentel, apesar do envolvimento de um funcionário, a Companhia Docas do Ceará não está sendo diretamente investigada. "Já ouvimos a diretora, tomamos o depoimento dela para esclarecimentos", confirmou. A diretora presidente da CDC, engenheira Mayhara Chaves, havia sido intimada no início deste ano, dentro do inquérito. Servidores portuários e terceirizados também foram chamados pela Polícia Federal para falar sobre o furto dos contêineres.

"Esse material apreendido vai passar por análise da perícia. Vamos analisar principalmente o material de informática encontrado. Havia mercadorias nos depósitos das empresas (onde foram feitas apreensões), mas vamos averiguar. Não temos como apontar ainda se são as mesmas mercadorias (que estavam nos contêineres)", esclareceu o delegado.

 

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