Ônibus de Fortaleza não têm previsão para volta do ar-condicionado

Sindiônibus alega ser necessário rever o equilíbrio financeiro e reparar os equipamentos, que foram desligados há quase dois e sete meses diante da pandemia de Covid-19

As viagens nos ônibus de Fortaleza são mais quentes há quase dois e sete meses. O sistema de ar-condicionado nos coletivos urbanos foi desativado diante da necessidade de arejar os espaços e dificultar a transmissão do coronavírus. Com o controle da Covid-19, o motivo deixou de ser sanitário e se tornou financeiro e logístico.

“O calor é grande, principalmente nesta época do ano. Com o ar-condicionado desligado fica pior. Nos horários de pico então…”, reclama Fátima Oliveira a bordo da linha 026 - Antônio Bezerra/Messejana, durante a manhã desta quinta, 20. A atendente de caixa afirma que “era compreensível quando a pandemia estava no auge”. “Mesmo assim algumas janelas não abriam e ainda não abrem, de jeito nenhum. Fica ainda mais abafado.”

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O incômodo é visível entre os passageiros e também entre quem aguarda nos terminais e pontos de ônibus pela Cidade. “Aqui é um sobe e desce de gente, tem sempre alguém pedindo a água bem gelada, até de dentro dos ônibus. E tem também muita gente que desce aqui reclamando que passou mal, que a pressão baixou e que não tinha nem um ar-condicionado para ajudar”, relata Antônio Silva, que vende água nos semáforos da avenida Domingos Olímpio.

Conforme o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), “agora é um momento de revisão do equilíbrio financeiro dos contratos de operação e da elaboração de um cronograma de reparação para religamento”.

O Sindicato explica ainda que “os aparelhos não são projetados para ficar tão longo período sem ligar e isso traz consequências severas ao funcionamento e limpeza”. Não há previsão para o religamento dos aparelhos de climatização dos coletivos.

O Sindicato aponta que 1.750 ônibus compõem a frota das empresas dos sistemas de transporte público coletivo regular de Fortaleza e da Região Metropolitana. Destes, quase metade (890 veículos) são equipados com ar-condicionado.

Já de acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) a frota cadastrada possui 1.747 veículos, sendo 780 ônibus (o equivalente a 44,6%) equipados com sistemas de climatização. O POVO questionou sobre divergência de números; o Sindiônibus e a Etufor confirmaram que os registros atualizados de ambos são os informados à reportagem. 

O órgão municipal informou ainda, em nota, que “enviou ofício às empresas operadoras de transporte solicitando a retomada do uso do ar-condicionado na frota de ônibus de Fortaleza, após a flexibilização do uso de máscaras”.

“Devido à necessidade de manutenção dos equipamentos, o Sindiônibus irá apresentar um cronograma viável para o retorno dos aparelhos”, completa a Etufor. 

Controle da Covid-19 em Fortaleza

Há dois meses, o uso de máscaras não é mais obrigatório no transporte público do Ceará. A decisão partiu de uma reunião do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 após ser constatado baixo número de casos da doença no Estado. O anúncio foi feito pela governadora Izolda Cela em 16 de setembro.

Nas últimas quatro semanas, Fortaleza registrou apenas dois casos de Covid-19. "O cenário atual é de circulação viral baixíssima, a menor desde o início da pandemia", analisa boletim epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) publicado na última terça-feira, 18.

A Capital está há mais de dois meses sem mortes em decorrência da infecção. O último óbito pela doença em Fortaleza foi confirmado no dia 13 de agosto. O último quadrimestre, de junho a setembro, foi o menos letal da pandemia em Fortaleza.

Ônibus com ar-condicionado em Fortaleza

Em 2014, a Prefeitura de Fortaleza fez acordo com as empresas de transporte urbano, e, segundo o Paço Municipal, desde o início daquele ano, todos os novos veículos já vinham equipados com refrigeração. A expectativa era de que em seis anos toda a frota da Capital possuísse o sistema.

Dois anos depois, em maio de 2016, Fortaleza tinha 345 coletivos com refrigeração. O total representava 17% da frota de ônibus, que possuía 2.027 veículos.

Em outubro de 2017, a projeção da Prefeitura era ter, até o fim daquele ano, 580 ônibus com ar-condicionado — cerca de um terço da frota.

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