Facção recebia R$ 1 milhão mensais do "jogo do bicho", estima Polícia Civil
Operação descobriu que empresa que explorava jogos de azar firmou acordo em que repassava 20% do faturamento mensal em troca de monopólio nas áreas onde o Comando Vermelho atuava
18:08 | Out. 13, 2022
O acordo entre uma facção criminosa e exploradores do jogo bicho fazia com que estes repassassem àqueles 20% do seu faturamento mensal. Isso rendia cerca de R$ 1 milhão aos cofres da facção Comando Vermelho (CV). A descoberta ocorreu durante a operação Saturnália, deflagrada nesta quinta-feira, 13, e que levou à prisão de sete pessoas — quatro sócios e dois gerentes da empresa que explorava jogos de azar e um policial militar da reserva remunerada que fazia a segurança do empreendimento.
As informações foram repassadas pelo secretário Sandro Caron, em entrevista coletiva realizada nesta tarde. Segundo o secretário, a inteligência dos órgãos de segurança do Estado detectou que a aliança entre o jogo do bicho e o CV foi firmada há cerca de um ano. A partir de pagamento, a facção criminosa garantia, à força, o monopólio da casa de jogos nos territórios onde atuava. Ameaças a vendedores e até mesmo atentados a casa de apostas rivais eram realizados, assim como maquinetas de vendedores concorrentes eram subtraídas.
As investigações também começaram há cerca de um ano. Conforme o delegado-geral da Polícia Civil, Sérgio Pereira, a primeira pergunta feita pelos investigadores foi se a facção coagia os empresários ou se havia uma aliança. As investigações mostraram que tratava-se de um acordo.
Conforme o delegado Klever Farias, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), a aliança foi firmada pelos bicheiros com um integrante da cúpula do CV no Estado, que se encontra foragido no Rio de Janeiro.
A empresa tinha várias ramificações, empreendimentos filiados que aumentavam a capilaridade da empresa-mãe. Ela atuava em vários bairros de Fortaleza e municípios do Estado. Algumas das casas de jogos funcionavam legalmente por meio de liminares judiciais. O nome da empresa não foi divulgado, assim como os nomes dos alvos da operação.
Ainda segundo Sérgio Pereira, diversos materiais foram apreendidos, como celulares, computadores, documentos, o que pode resultar em novas fases da operação. Além disso, ainda foram apreendidos 16 veículos — quatro eram blindados —, R$ 800 mil em espécie e várias maquinetas.
“O resultado mais importante, além de prisão e responsabilização, é também cortar uma quantia que a gente estima em R$ 1 milhão por mês que abastecia o crime organizado no Estado”, afirmou o secretário Sandro Caron.
Conforme Klever Farias, a facção criminosa percebeu que se aventurar nos jogos de azar poderia ser “mais eficaz e menos arriscado” que o tráfico de drogas. “Em geral, o tráfico tem uma pena maior, o risco no caso de perda de material por apreensão pela Polícia causa uma perda muito maior, além do próprio risco da atividade do tráfico em si”, disse o delegado.
“Então, eles perceberam que, atuando junto com essas empresas, eles poderiam ter, provavelmente, até uma arrecadação maior do que eles conseguiriam com o tráfico de drogas e com um risco bem menor”.
Os mandados judiciais foram cumpridos nos bairros Jardim Guanabara, Meires e Messejana, em Fortaleza; e em Eusébio e São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana. Sessenta policiais civis participaram da operação, desenvolvida pela Draco e pela Delegacia de Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro (DCLD), com apoio do Departamento de InteligÊncia (DIP) da Polícia Civil.
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