Pôr do sol na duna de Sabiaguaba é "point" no fim de semana
Local atrai casais, famílias e amantes da natureza. Pesquisador alerta para necessidade de controle de pessoas na área, monitoramento dos grãos de areia e conscientização sobre a importância da duna para o meio ambiente
Fortalezenses e turistas se uniram para assistir, nesse sábado, 24, ao pôr do sol na duna de Sabiaguaba – considerado um dos mais lindos de Fortaleza. Por volta das 16 horas, casais, famílias e amantes da natureza movimentaram a região e aguardaram com expectativa o fenômeno.
Para ter acesso à paisagem vista do alto da duna, é preciso primeiro encarar um desafio: a subida. Escalar o monte de areia não é uma tarefa fácil, mas que foi solucionada pelo vendedor Iranildo Corpe de Sousa, 56, que há cinco anos trabalha vendendo água em cima da elevação de terra.
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O comerciante, adepto de atividades físicas, recentemente teve a iniciativa de chamar um voluntário para, por meio de uma corda, dar apoio às pessoas que não conseguem subir sozinhas.
"Eu gosto daqui porque pra mim (subir) é um esporte, e através do esporte eu vendo. Eu dei essa ideia (da corda) pra ficar mais fácil o povo subir. Nem todo mundo tem condição de subir essa duna, ai nós trouxemos a corda, e graças a Deus muita gente tem subido", pontua o ambulante.

Iranildo costuma chegar ao local pela tarde e só encerra as vendas após o anoitecer. Em meia década de atuação na área, o comerciante afirma que o movimento tem crescido, mas "pouco", acrescentando: "Sábado e domingo dá muita gente. O movimento maior é o de domingo".
Espaço é "point" para famílias
Apesar de não estar tão lotado, como observado pelo O POVO, o alto da duna registrou movimentação grande de pessoas nesse sábado. Entre elas estava Frank de Paiva, 47, que aguardava para ver o pôr do sol pela primeira vez ali, apesar de já ter subido o monte de areia outras vezes.
Para a experiência ser completa, ele trouxe a família. Feliz por estar vivendo o momento ao lado de pessoas próximas, o empresário afirma que a paisagem o traz "uma paz, uma tranquilidade". Estar ali, para ele, é como viver "uma experiência de Deus" .
O sentimento é compartilhado pela cunhada dele, Silvia Rodrigues, 48. Ao contrário de Frank, foi a primeira vez que a comerciante subiu a duna. "Pra subir ali é cansativo. Mas eu gostei demais. É uma paz e tranquilidade, parece que você está bem pertinho do altíssimo", descreve.

Quem também estava tendo o primeiro contato com o pôr do sol na duna era Helena Aquino, 24. A jovem veio do Rio Grande do Norte (RN) e estava no local ao lado do companheiro, do enteado e do cachorro que há três meses faz parte da família.
"Digamos que é um pouco cansativo (a subida), mas é legal o ambiente, a vista, muito legal a vista, gostei. Eu já imaginava que fosse bonito, e apesar da altura é muito bonito", disse.
José Ricardo, 29, namorado de Helena, compartilha da experiência: "Pra gente é muito bom porque é bonito o pôr do sol, ver a Cidade, e isso é muito legal, a gente gosta bastante".

Momento de reflexão e amor
No entanto, para além daqueles que querem compartilhar da sensação de estar no alto da duna e comtemplar a paisagem, há quem opte por viver esse momento sozinho. Humberto Damasceno, 27, mora em Crateús e está passando as férias em Fortaleza. O jovem já havia subido o monte de areia uma vez com a família, mas neste sábado voltou ao lugar sozinho.
"Vir sozinho é uma experiência muito singular, de muita coragem. O que mais me passa pela cabeça é a questão de ver para dentro de si, ver a bondade, ver as coisas, ver para além dos problemas, acreditar que existem coisas maiores, que existem coisas boas, e é isso que eu vim buscar sozinho", frisou, ao descrever o que sentia ao olhar para a vista.

Para a próxima vez que voltar, Humberto tem uma meta: não trazer celular. "Às vezes (o celular) distrai um pouco. Quando eu vi, o sol já tinha se posto. É um momento totalmente de aproveitar de fato toda a paisagem, absorver e trazer pra dentro da gente essa paz", explica.
Quando o sol vai baixando no horizonte, o céu é iluminado por um laranja avermelhado que ofusca e ao mesmo tempo completa a paisagem, composta ainda por uma área imensa de verde e a imagem do Rio Cocó ao fundo. A cena é apreciada também por casais apaixonados.
Namorando há um ano, Francisco Ivanilson, 34, e Márcia Milano, 43, foram juntos pela segunda vez ao local. Entre beijos e carinhos, os dois olhavam com atenção para o horizonte, perdidos no que viam. Encantados pelo espaço, o casal descreveu, em conjunto, o momento como sendo "maravilhoso".

Mas na duna há também espaço para quem está começando um relacionamento e deseja ter as primeiras grandes memórias juntos. Esse foi o caso de Renan Jesuíno, 33 anos, e Icaro Araújo, 32, naturais de Fortaleza e namorados há apenas um mês.
"Apesar de por perto ter muita coisa que já tenha a mão do homem pelo meio. É um contato que a gente consegue ter com a natureza muito forte, de mangue, de praia junto, da duna em si", destaca Icaro.

Por trás da paisagem, um problema ambiental
A "interferência" do homem ao qual Icaro fala diz respeito a estrada que existe na margem da duna. Constantemente as areias da elevação natural ocupam parte da pista de asfalto, e órgãos da Prefeitura de Fortaleza precisam fazer a retirada de terra da avenida, para evitar acidentes.
Jeovah Meireles, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que as dunas são "bancos de areias" formados por uma dinâmica das marés e pela atuação dos ventos, que levam grãos de terra para dentro do continente.
O docente destaca que há uma dinâmica natural ao entorno da existência das dunas de Sabiaguaba. Isso porque a elevação funciona como um "regulador do aporte de sedimentos" que vão para a praia e ajuda, dentre outros pontos, a minimizar o calor da Cidade.
De acordo com Meireles, a construção da estrada "invadiu essa dinâmica". Além disso, ele pontua como fator prejudicial a quantidade excessiva de pessoas que sobem no espaço, pois a movimentação acelera o processo de desabamento de sedimentos na via: "As dunas de Sabiaguaba têm essa dimensão ecológica no sentido de proteger o aquífero de Fortaleza e proteger as praias contra a erosão".
"Existem três pontos. O primeiro que é mais do que urgente desenvolver essa gestão quanto ao controle de pessoas. O segundo é monitorar a migração desses grãos de areia, e o terceiro é um ampla campanha para um conhecimento mais especifico desse campo de dunas", avalia ele.
O professor também explica que o vento leva a areia para a pista em um movimento natural, e essa dinâmica é antiga. Para garantir a conservação da área e resolver questões de impacto ambiental, a Prefeitura afirmou, no inicio deste ano, que vai atualizar o documento da Área de Proteção Ambiental e Parque Natural da Sabiaguaba.
Além do Plano de Manejo, há o projeto de construção de um ecoduto para que as areias passem por cima. Plano foi apresentado há cerca de um ano pelo vereador de Fortaleza, Gabriel Aguiar (PSOL), juntamente com o Instituto Verdeluz, mas ainda não foi implementado.