Projeto Comunidades Criativas inicia segunda edição em Fortaleza

Objetivo é formar mulheres de comunidades em artesãs e criar uma coleção exclusiva de produtos artesanais a partir do reuso de materiais plásticos recicláveis

23:43 | Set. 06, 2022

Por: Marília Serpa
Encontros são realizados semanalmente nas terças e quintas-feiras, das 14 às 17 horas, no Porto Dragão e no Pavilhão Atlântico de Fortaleza (foto: FERNANDA BARROS)

O projeto Comunidades Criativas iniciou sua segunda edição em Fortaleza no dia 1º de setembro, no Porto Dragão, no Centro. Com 12 mulheres das comunidades da Graviola e do Poço da Draga, a iniciativa visa formar artesãs e criar uma coleção exclusiva de produtos artesanais a partir do redesign de materiais plásticos recicláveis.

Idealizado por Flávia Muluc e Pollyana Gualberto por meio do Instituto Ecocult, que atua em projetos ligados à educação, cultura e sustentabilidade, o Comunidades Criativas foi aprovado pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), por meio do Mecenas, para o ano de 2023.

Em sua segunda edição, a iniciativa é atualmente apoiada pela lei de incentivo à cultura.

Os encontros são realizados semanalmente nas terças e quintas-feiras, das 14 às 17 horas, no Porto Dragão e no Pavilhão Atlântico de Fortaleza, com período de duração até dezembro. O projeto conta com a colaboração de profissionais do design e da moda que abordam temas sobre modelagem, corte, confecção, acabamento em costura e crochê.

As idealizadoras explicam que o projeto foi pensado com o propósito de criar para transformar. A edição atual conta com mulheres com idades entre 18 e 81 anos, as quais algumas nunca tiveram contato com artesanato antes. No ano passado, o Comunidades Criativas foi realizado para dez mulheres das mesmas comunidades.

"A gente transforma resíduos plásticos, que seriam descartados, em artefatos que possam gerar renda para mulheres das comunidades. A gente usa duas matérias primas principais: as sacolas de supermercados e as embalagens, sejam de arroz, feijão, açúcar etc. Nosso foco é trabalhar com o redesign do plástico", explica Flávia Muluc.

As sacolas são transformadas em um novelo de fio de plástico para fazer peças de crochês, substituindo a lã. Já as embalagens de condimentos viram um tipo de "couro plástico", laminado maleável obtido a partir da fusão térmica de embalagens e de outros materiais de plástico, que permite a criação de bolsas, carteiras e outros acessórios.

"O ideal é que elas consigam, através do que estão tendo aqui, aprender, gerar renda e compartilhar com a comunidade os conhecimentos do curso. No primeiro ano, as mulheres que participaram conseguiram desenvolver as técnicas aprendidas para trabalhar, expondo e vendendo nas feirinhas de suas comunidades", pontua Pollyana.

Além de aprender e gerar renda, Flávia explica que o projeto acaba fortalecendo o elo entre as mulheres da comunidade. "A maioria são mães e chefes de família que figuram nas estatísticas de desemprego, da vulnerabilidade social e, às vezes, de violência doméstica. Então, a gente cria alternativas para que essas mulheres se descubram criativas e criadoras de novas possibilidades", esclarece Flávia.

Para as idealizadoras, o projeto trabalha, sobretudo, na transformação da visão dessas mulheres, incentivando o empoderamento feminino. A iniciativa é divulgada desde o ano passado nas duas comunidades, sendo realizada uma seleção das inscritas por processos eliminatórios que envolvem pontos como tempo livre e falta de emprego fixo.

"A ideia é que a gente possa ter um projeto mais extenso a partir do ano que vem, mas nosso sonho é chegar em outras comunidades, encontrando mulheres de toda Fortaleza, das camadas periféricas da cidade. Nosso objetivo é poder levar a possibilidade de um material que vai ser descartado a ser transformado em coisas bonitas", explica Flávia.

Ressignificando histórias por meio do artesanato

A aula ministrada pela modelista e artesã Monique Araripe nesta terça-feira, 6, foi sobre modelagem. Ela explica que as mulheres estão aprendendo a fazer bolsas, necessaires, porta-documentos e porta-celular. "Coisas do tipo que todo mundo usa em algum momento da vida e carrega dentro da bolsa, seja mulher, homem ou criança", explica.

Nadia Maria, de 55 anos, moradora da comunidade Poço da Draga, conta que adora fazer parte do projeto. Antes da iniciativa, ela só tinha tido contato com a costura. "[O projeto] me mudou profissionalmente, pois eu fiz um CNPJ e tenho feito propagandas sobre o meu trabalho. Faço bolsas e muitas coisas que eu aprendi por meio do projeto", pontua.

A manicure Adriana Rocha, de 50 anos, que mora na comunidade da Graviola, teve seu primeiro contato com o artesanato durante a pandemia da covid-19, aprendendo a fazer crochê com o auxílio da internet. "O projeto trouxe muitas mudanças para a minha vida por meio da arte, do conhecimento e das amizades que fiz aqui", explica.

A participante mais velha do projeto se chama Brigida Sena, de 81 anos, também moradora da comunidade da Graviola. Professora aposentada do estado, ela conta que nunca parou de fazer algum tipo de atividade, possuindo várias certificações em cursos de artesanato. "O projeto é maravilhoso, tudo de bom para mim. Por meio dele, eu já fiz algumas peças, vendi duas hoje", esclarece.

Doações de materiais para o projeto

As campanhas de recebimento de resíduos plásticos, iniciadas na primeira edição do projeto, seguem em andamento. Mais informações podem ser disponibilizadas pelo endereço de e-mail comunidadescriativasfor@gmail.com. Na internet, as atividades do Comunidades Criativas podem ser acompanhadas por meio da página no Instagram