Egressos e detentos do sistema prisional passam a trabalhar na manutenção de parque em Fortaleza
Egressos do sistema recebem salário mínimo para trabalhar na manutenção do parque. Já detentos em regime aberto diminuem o tempo da pena conforme os dias trabalhadosApós mais de sete anos preso, Antônio Gilson Barbosa de Lima, 40, pensava na dificuldade de conseguir um emprego quando saiu do sistema penitenciário. “Você sabe que nós vivemos numa sociedade que muitos criticam as pessoas que estão cumprindo pena. Eu saí preocupado, até porque emprego de carteira assinada é muito difícil pra gente que já foi lá do sistema”, relata.
Depois de quatro meses em liberdade e desempregado, Antônio conseguiu um emprego na manutenção do Parque Adahil Barreto, em Fortaleza. A vaga é resultado de uma parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) e a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP).
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No início, a parceria entre as secretarias serviu para que hortaliças e artesanatos produzidos pelos internos fossem vendidos na feira quinzenal de produtos orgânicos que ocorre no parque. A partir da assinatura do Acordo de Cooperação Técnica, nesta terça-feira, 30, os empregos na equipe de manutenção do espaço também fazem parte da cooperação.
Cerca de 30 pessoas, entre egressos e presos em regime aberto, estão trabalhando em pintura, limpeza, conserto de brinquedos e varrição do parque, segundo o secretário do Meio Ambiente Artur Bruno.
“Começamos pelo Parque Adahil Barreto, do Cocó, e vamos levar para outros parques, como o Parque Botânico de Caucaia, Parque Curió na Lagoa Redonda, há também possibilidade de levar essa iniciativa para o interior do Estado”, afirma o secretário.
De acordo com o secretário da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque, egressos como Antônio ganham um salário mínimo, ajuda com transporte e alimentação. Já os presos em regime aberto podem ter redução de um dia da pena a cada três dias de trabalho realizado.
“É mostrar para a sociedade que a pessoa que está presa tem oportunidades, que pode mudar a qualquer tempo, e isso traz oportunidade de ressocialização e trabalho”, diz.
“Eu passei muito tempo preso, o sistema penitenciário é muito cruel, o abandono, os maus-tratos, mas Deus é bom por ter nos arrancado de lá. O sistema não acredita em nós, a sociedade não acredita em nós, que nós podemos mudar, ter outra vida, mas o importante é que Deus acredita em nós”, diz Antônio.
Adenilson da Silva do Amaral, 31, também é um dos egressos que começou a trabalhar no parque há dois meses.
“A gente saiu da unidade procurando oportunidade para poder trabalhar e viver com a sociedade, com uma nova vida, porque estar preso com uma ruma de gente não é coisa de ser humano, não. Tem que procurar melhorar, tanto para a gente quanto para nossa família. Morar que nem bicho não é bom”, afirma.
Para Adenilson, o emprego é importante também para que as pessoas os vejam com “bons olhos” ao saber que saíram do sistema penitenciário e estão trabalhando.
O presidente da Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente (Cepema), Adalberto Alencar, também signatário do acordo, afirma que até o fim de 2022 a parceria deve envolver ainda assistência técnica, cursos de qualificação profissional na área da agroecologia para detentos, a industrialização dos produtos plantados no sistema penitenciário com a produção de geléias e doces, além de oficinas de gastronomia social.