Pai denuncia racismo após filho ser confundido com pedinte em shopping de Fortaleza

Ocorrência foi durante uma degustação de queijo em um stand da feira no dia 30 de julho último. No local, a atendente teria negado o alimento à vítima. O caso é investigado no 15º Distrito Policial da Polícia Civil do Ceará (15º DP)

23:05 | Ago. 25, 2022

Por: Mirla Nobre
O caso aconteceu durante uma edição da Feira Internacional de Artesanato e Decoração (Feincartes), no shopping Riomar Fortaleza, no bairro Papicu, em Fortaleza, no dia 30 de julho (foto: Bruno Gomes/Especial Para O Povo)

O servidor público Nílbio Thé, 41, denuncia que o filho de 12 anos foi vítima de discriminação racial durante uma edição da Feira Internacional de Artesanato e Decoração (Feincartes), no shopping Riomar Fortaleza, no bairro Papicu.

O adolescente, que é negro, foi confundido com pedinte. O caso teria acontecido no último dia 30 de julho, mas só foi denunciado pelo pai da vítima, na última terça-feira, 23.

Ele registrou a ocorrência no 15º Distrito Policial da Polícia Civil do Ceará (15º DP).

De acordo com Nílbio, o episódio aconteceu durante uma degustação de queijo em um stand do Empório Gaúcho.

“Ele super gosta de queijo e sabia que tinha degustação. Pela primeira vez ele foi lá e foi negado. A moça olhou para ele e disse: “Você sabe que eu não posso lhe dar queijo, você já sabe. Então, não me peça porque eu não posso dar'”, conta Nílbio, conforme relato do filho.

Diante da situação, o servidor público conta que o filho ficou constrangido, chegando a pedir desculpas para a atendente do stand. Após a negativa, ele foi embora do local.

O estudante não chegou a relatar o episódio aos pais logo em seguida.

Apenas três dias após o caso, quando estava novamente no shopping com a mãe, e que retornou à feira, foi que relatou o que houve.

“Foi só na terça-feira à noite que ele comentou com a mãe dele: “Só a moça do queijo que foi meio rude comigo”. A Marise [mãe] olhou para ele e perguntou: "Meio rude como?" Então, ele contou a história. Ele não deixou a mãe ir ao local, tentando explicar que a moça foi até gentil porque ela avisou do segurança, que o problema era o segurança”, conta Nílbio.

Contato com o shopping

O servidor público buscou a administração e o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) do shopping, antes de realizar um Boletim de Ocorrência.

Ele tentou buscar informações do stand em que aconteceu o episódio, além de saber quais medidas o shopping Riomar Fortaleza realizaria como forma de responsabilidade do caso.

De acordo com Nílbio, o shopping entrou em contato no dia seguinte, alegando não ter culpa. Ainda assim, ofereceu uma sessão de cinema gratuita para o seu filho.

No entanto, o servidor explica que "não deseja dinheiro ou sessões de encantamento" para o seu filho. 

“Acontece que o meu filho que antes entrava em todas as lojas, permanece constrangido e inseguro de continuar entrando em lojas por medo de ser discriminado por sua aparência”, relata.

Ainda segundo Nílbio, no dia 17 agosto, em um segundo contato com o shopping, foi solicitado ao empreendimento informações sobre a atendente do stand a fim de auxiliar nas denúncias do crime.

O Riomar Fortaleza retornou ao servidor informando que não poderia dar os dados devido a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Em nota, o Riomar Fortaleza lamentou o episódio e informou que orientou o consumidor e fez a intermediação entre ele e o operador da Feira, locatário do shopping e responsável pela gestão dos stands.

“É inquestionável que atos de racismo não devem ser tolerados em nenhuma esfera da sociedade. Inclusive, trabalhamos constantemente por meio de nosso Comitê de Inclusão e Diversidade a importância do respeito a todos os que frequentam o shopping. O empreendimento segue à disposição para qualquer novo questionamento sobre a ocorrência”, consta em nota.

O POVO procurou a administração da feira, por meio de ligações e mensagens no WhatsApp para um número disponibilizado na página do Instagram, às 16h14min, dessa quarta-feira, 24. 

A Feincartes retornou na tarde desta sexta-feira, 26, por nota, informando que acionou o Empório Gaúcho, após conhecimento do caso através do servidor público Nílbio Thé, para que o local tomasse as devidas providências.

“Não compactuamos, não aceitamos nenhum tipo de racismo ou preconceito”, disse em nota.

Funcionária foi desligada da empresa

O Empório Gaúcho também foi procurada pelo O POVO, às 19h10min, dessa quarta-feira, 24. Por meio de mensagem no WhatsApp, nesta quinta-feira, 25, a empresa informou que a funcionária que cometeu o ato foi desligada. “Não temos lugar para pessoas assim”, disse. 

“Racismo é uma coisa que mata todo dia. A gente frente a uma bala perdida, a violência policial, negar um queijo é até irrisório. Mas, se a gente não combater pequenas coisas, o negócio cresce”, pontuou o pai da vítima.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) informou que a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) investiga uma denúncia de preconceito de raça ou cor.

“O fato foi noticiado por meio de um Boletim de Ocorrência (BO). O caso está a cargo do 15º Distrito Policial (15º DP), unidade que realiza diligências para elucidar os fatos”, disse a pasta.

Denúncias

A SSPDS reforça que a população pode contribuir com as investigações repassando informações, com sigilo e anonimato garantidos.

Disque-Denúncia: 181
WhatsApp da SSPDS: (85) 3101 0181
15º DP: (85) 3101 1137