Capacitação para atender alunos com deficiência ainda é desafio em Fortaleza

Demanda por educação inclusiva só aumenta, e gestores veem necessidade de mais formações sobre o tema para trabalhadores da área

20:55 | Ago. 25, 2022

Por: Alexia Vieira
 PREFEITO José Sarto participou do I Seminário Municipal em Diversidade (foto: FÁBIO LIMA)

A rede pública de ensino de Fortaleza conta com mais de dez mil alunos com deficiência matriculados. A Capital tem o maior número de matrículas na educação inclusiva do Nordeste. Com o crescimento da demanda desse público, aumenta também a necessidade de capacitação de professores e trabalhadores da educação para atender de forma plena esses estudantes, o que ainda é um desafio para a rede.

Nesta quarta e quinta-feira, 24 e 26, o "I Seminário Municipal em Diversidade e Inclusão: Escola que acolhe" foi realizado pela Secretaria Municipal de Educação (SME), com palestras com especialistas e relatos de alunos, familiares e professores sobre a educação inclusiva. Seis mil profissionais foram recebidos no Centro de Eventos, em Fortaleza, para a formação.

Presente no evento na manhã desta quinta-feira, 25, a técnica de ensino do Distrito de Educação I, Camila Brady, afirmou que o momento é novo para os professores, os quais ainda precisam de mais formações para trabalhar com crianças com deficiência.

“Cada vez mais aumenta o número de alunos, porque os pais antigamente guardavam as crianças em casa, e agora eles estão descobrindo que podem estar na escola. Eu recebo novos laudos de crianças todos os dias”, afirma.

Para ela, o maior desafio da atenção à criança com deficiência é o acolhimento pelos profissionais das escolas.

“Eles precisam entender a importância da inclusão. Começa em cada professor, cada funcionário se abrir para aquela criança e saber que ela tem potencial e que ela pode se desenvolver”, diz Camila.

“A gente tem uma deficiência muito grande nessa área. Precisamos que nossas escolas todas deem um apoio maior para essas crianças. Nós vemos o tanto que muda na vida delas quando elas se incluem num grupo, na educação, como elas se desenvolvem”, afirma Elizete Correia, coordenadora de creches parceiras do Distrito de Educação IV.

Elizete acredita que a falta de profissionais especializados é o que traz maior desafio no atendimento. “É uma carência que precisa ser suprida.”

“Nós temos uma rede grande de estudantes com deficiência e também estudantes que precisam de atendimento diferenciado, e a escola que acolhe, a escola que trabalha a inclusão, ela vem nessa perspectiva que todos se desenvolvam, que todos aprendam. Então, esse seminário marca essa pauta”, afirmou a secretária da educação de Fortaleza, Dalila Saldanha.

Duas mil crianças com deficiência esperam emissão de laudos

Para ter acesso a políticas públicas específicas dentro da rede pública, como profissionais de apoio para atender demandas individuais durante o tempo na escola, crianças com deficiência precisam de um laudo que comprove a necessidade da contratação. O direito a ter um profissional de apoio dentro de sala é assegurado por lei no Brasil.

De acordo com a secretária de Educação, Dalila Saldanha, dois mil alunos esperam a emissão do documento na Capital.

Em Fortaleza, o Ministério Público do Ceará (MPCE) acompanha a contratação e demanda desses profissionais pela rede pública de ensino.

“A gente faz reuniões, audiências mensais, com três secretarias, porque esse é um trabalho integrado entre saúde, assistência e educação. E com a mediação do MP vamos avançando”, diz Dalila.

A secretária afirma que até o fim do mês de agosto 55 novos profissionais de apoio serão contratados pela prefeitura.

Um projeto para facilitar o acesso a laudos também está sendo desenvolvido em parceria com as Secretarias Municipair da Saúde (SMS) e dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS).

De acordo com o prefeito Sarto Nogueira (PDT), está sendo desenvolvida uma carteira para pessoas com deficiência que diminuirá a demanda pela renovação constante de laudos. Isso impactaria, segundo o prefeito, na burocracia que famílias passam para conseguir esses laudos na rede pública.

"A pessoa fica com a carteirinha que dispensa futuros laudos porque, realmente, a neuropediatria é uma área específica da medicina que tem poucos profissionais. A demanda é muito grande. Então, uma vez feita [a carteira], facilita o ingresso da rede pública”, disse ele.

Sobre o acesso aos laudos, a SMS informou que a demanda da SME "está sendo priorizada e será executada com recurso proveniente de emenda parlamentar, através de um processo de contratualização que está sendo elaborado".

O POVO ainda procurou a SDHDS sobre o andamento do projeto, mas ainda não houve resposta. A matéria será atualizada quando a demanda for respondida.