Depois de dois anos sem evento, Festa de Iemanjá volta a ocorrer na Praia de Iracema

Povos de terreiros de umbanda e candomblé se reuniram presencialmente neste domingo, 14, na Praia de Iracema e na Praia do Futuro, para celebrar a Festa de Iemanjá, registrada como Patrimônio Imaterial de Fortaleza desde 2018.

Nos últimos dois anos, devido à pandemia, o evento tradicional ocorreu apenas de forma virtual. Neste domingo e na segunda-feira, 15, Dia de Iemanjá, religiosos voltam a vestir azul e branco, levar oferendas e cantar músicas para a orixá.

Mãe Bia de Pomba Gira, uma das responsáveis por levar a Festa de Iemanjá para a Praia de Iracema, diz que os anos de pandemia foram de “muito choro” por não poder realizar o evento ou estar próxima ao mar.

Ela conta que pediu para Iemanjá “tirar essa doença ruim daqui”. Agora, com a roupa cheia de brilho e junto de seus irmãos de religião, ela festeja a volta do evento. “É o encontro de nós com nossa mãe”, diz.

Desde as 17h, uma hora antes do horário previsto para o início das comemorações, membros de terreiros de diversos locais do Estado se reuniam em barracas montadas na faixa de areia do Aterrinho da Praia de Iracema.

As oferendas preparadas para serem levadas ao mar para Iemanjá nesta segunda-feira, como cestos de flores brancas e azuis, eram organizadas. Instrumentos musicais como tambores também eram preparados para a celebração.

A Festa de Iemanjá deve durar cerca de 24 horas. Durante esse tempo, além de se reunir com seus terreiros e participar de giras, um ritual de conexão espiritual com música e dança, os presentes podem acompanhar apresentações culturais no palco principal do evento.

Quem iniciou as performances foi o grupo cultural Toque de Senzala, com louvores à rainha do mar.

Também no palco principal, representantes da umbanda e do candomblé discursaram sobre a importância do evento e sobre a necessidade de levar as celebrações para fora dos terreiros.

O líder religioso Pai Varela, presidente da Congregação Nacional dos Sacerdotes do Brasil, instigou ainda que os praticantes se apresentassem como umbandistas, candomblecistas ou macumbeiros no questionário do Censo Demográfico, que começou a ser coletado neste mês de agosto.

“O umbandista faz parte do Censo Nacional, o umbandista faz parte da cultura e, acima de tudo, da literatura nacional”, afirmou. Para ele, as religiões de matriz africana não devem apenas ser reservadas ao templo ou às casas das pessoas.

“Infelizmente teve isso da gente comemorar a festa de Iemanjá dentro do terreiro”, lembra o pintor Carlos Jean Campos Araújo, 28. Ele conta que sempre participa da festa e, mesmo não podendo passar a madrugada inteira na praia devido ao turno de trabalho de segunda-feira, ficou muito feliz com a possibilidade de retornar ao evento.

“É uma alegria contagiante mesmo. É muito bom juntar todos os umbandistas e louvar a mãe Iemanjá.”

Carlos, que é pai pequeno do Centro Espírita de Umbanda Caboclo Tupinambá, em Maracanaú, estava vestido todo de branco, com um colar de contas e um lenço também branco apoiado no ombro.

Ele explica que as cores branco e azul são consideradas mais adequadas para entrar no mar e prestar a oferenda. Algumas pessoas também optam por usar muito brilho e acessórios.

“A gente passou esses dois anos sem vir à praia, e quando a gente vem, gosta de dar nosso máximo. A gente fica bem à vontade para usar brincos, colares, pulseiras, gosta de vir muito elegante”, diz.

Confira a programação da Festa de Iemanjá para esta segunda-feira, 15:

Praia de Iracema

• 09h - apresentação cultural do Côco Boca da Mata
• 10h - apresentação musical do Côco Rainha do Mar
• 11h - apresentação cultural do Batuque Baobab
• 12h - apresentação dos terreiros presentes na festa
• 13h - apresentações institucionais (apoiadores)
• 14h - início dos rituais de homenagem à Iemanjá
• 15h - início da transmissão (live) no canal no YouTube dol Grupo Cultural Toque de Senzala
• 17h - lançamento da oferenda oficial da festa na jangada de Iemanjá
• 18h - encerramento

Praia do Futuro

• 9h - saída do cortejo com a imagem da Rainha do Mar da sede provisória da Uecum (rua Castro e Silva, 920 - Centro)
• 10h - apresentação artística com Anderson Monteiro & Banda Show Canto para iemanjá™
• 11h30 - apresentação cultural com Afoxé Acabaca
• 12h30 - saudações de caravanas dos terreiros e início da entrega de certificados.
• 13h - início dos trabalhos em frente ao palco principal. Terreiro Preta Mandinga do pai Wagner
• 14h - fala da Renafro Ceará, com a coordenadora Mãe Kelma de Vamanja
• 15h - falas institucionais
• 16h - palestra sobre o tema “Iemanjá mãe do amor! Acolhe a nossa dor e nos ajuda a caminhar"
• 17h - entrega das oferendas
• 17h20 - encerramento dos trabalhos com apresentação de Afoxé Filhos de Oya