Grupo preso por esquema de falso financiamento é liberado em audiência de custódia
Todos serão monitorados por tornozeleira eletrônica. As vítimas são cooptadas para financiamento de carros e imóveis e pagam valores, mas descobrem que assinaram um contrato de consórcio
23:20 | Ago. 11, 2022
Nove pessoas apontadas por envolvimento em um esquema fraudulento que captava vítimas para um falso financiamento de veículos e imóveis foram liberadas em audiência de custódia nesta quinta-feira, 11. Elas foram presas em flagrante, na noite da quarta-feira, 10, na 5ª fase da operação "Consórcio Contemplado", realizado pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE), por meio da Delegacia de Repressões e Falsificações (DDF). Todos serão monitorados por tornozeleira eletrônica. A empresa, que funciona em um prédio comercial na Aldeota, em Fortaleza, possui vários CNPJ e mais 54 pessoas que trabalham como vendedores.
O alvo do grupo eram pessoas de baixa renda, que buscavam adquirir veículos e imóveis por meio de financiamento. Os juros baixos e a promessa de rapidez na entrega dos bens era um atrativo. A entrega era feita dias após o pagamento da entrada, conforme a proposta. As vítimas assinavam um contrato que, na verdade, era de consórcio. Quando percebiam que não havia o financiamento, as pessoas pediam o dinheiro de volta, mas eram informadas de que havia uma multa de rescisão de contrato, que era similar ao valor pago.
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As prisões aconteceram no escritório, no bairro Aldeota, durante o trabalho. Celulares, computadores e documentos foram apreendidos. Sete homens e duas mulheres foram encaminhados à DDF, onde foram autuados por estelionato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
O delegado Carlos Teófilo informou que foram ouvidas quatro vítimas na delegacia especializada. No entanto, a Polícia Civil encontrou aproximadamente 300 contratos. Nos primeiros 10 dias de agosto o valor recebido pelo grupo foi de R$ 1,6 milhão.
Os presos ocupavam cargos de chefia na empresa, que era dividida em setores. Cada setor possuía um chefe. Além deles, supervisores, o coordenador e o administrador estão entre as pessoas que foram detidas. Todos preferiram ficar em silêncio. Os 54 profissionais que trabalhavam como vendedores serão ouvidos pela DDF.
No site Reclame aqui há série de denúncias envolvendo a Confias Consórcio. Muitos clientes usaram a página para informar que assinaram contratos pensando ser um financiamento, mas que nunca receberam os veículos ou imóveis. Outras pessoas usavam as páginas do Instagram com frases como "quero meu dinheiro de volta".
O que dizem as vítimas
O advogado Davson Aguiar acompanha uma das vítimas e relata que ela e o marido (nomes preservados) foram até a empresa, localizada na rua Desembargador Leite Albuquerque, na Aldeota, no último dia 4, por indicação de um rapaz que era funcionário da empresa. Eles foram informados de que era possível adquirir um veículo financiado com a entrada e parcelas fixas, e que não havia empecilhos se eles tivessem com restrição no CPF.
Ao chegar no prédio comercial, no 10º andar, o casal percebeu que não era uma loja de veículos, mas um escritório. Lá, eles foram atendidos por uma supervisora, que pediu a documentação e ofereceu uma proposta de financiamento de R$ 10 mil. O casal afirmou que só tinha R$ 7 mil para o financiamento, e foi feita uma nova proposta com o valor, parte por transferência e outra parte por cartão.
"A pessoa readequou a simulação hipotética e exigiu, quase que intimidando, que eles fizessem a transferência para gerar o contrato do financiamento. Para conseguir efetivar a aquisição do veículo a cliente transferiu R$ 5 mil e passou os R$ 2.079 no débito", explica o advogado.
Após assinar o contrato, o casal foi convidado a gravar um vídeo para divulgação nas redes sociais. Nesse momento, descobriu que se tratava de um consórcio, e não um financiamento. Pois, no momento da gravação, a pessoa que trabalhava no escritório afirmou que aqueles eram "os mais novos clientes do grupo que aderiram a um consórcio". Espantado com a situação, o casal informou que não adquiriu consórcio, mas um financiamento.
De acordo com o advogado do casal, eles foram intimidados a não cancelarem o contrato, pois pagariam 20% do valor total. Nesse momento, as vítimas decidiram buscar assessoria jurídica para lidar com a ocorrência.
Ainda de acordo com o advogado Davson Aguiar, no último dia 5 ele chegou a ir até a empresa. Davson relata que foi atendido por várias pessoas até chegar em um homem que se identificou como responsável pelo escritório. Um acordo foi oferecido, no entanto nada foi resolvido.
"Esse golpe é aplicado, em grande parte, em pessoas ansiosas pela aquisição do primeiro carro, da primeira moto para trabalhar. Pessoas vulneráveis, que não possuem tanta experiência", explica o advogado. "No caso dos meus clientes, são dois trabalhadores, assalariados, cidadãos que estão construindo sua vida. Dois assalariados conseguirem R$ 7 mil e perder assim. Tudo isso está em plena Aldeota, na cobertura de um prédio comercial. É inacreditável", relata.
Segundo o delegado Carlos Teófilo, titular da Delegacia de Repressões e Falsificações, a empresa utilizava nomes como Confiar Administração de Consórcio, Confias Consórcio, WD Soluções Financeiras e atualmente Evolves Consórcios. No entanto, há uma lista de nomes com a equipe da Delegacia de Defraudações e Falsificações, que será checada. O POVO entrou em contato com a Evolves Consórcio e foi informado que "o setor jurídico está nas tratativas".